Maia sobre Bolsonaro: cria narrativas falsas
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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem adotado uma postura de estadista que falta ao presidente da República.
Em entrevista ao jornal O Globo, Maia voltou a ressaltar o papel do Estado na contenção da crise provocada pelo coronavírus. Para ele, as primeiras ações econômicas divulgadas pelo governo são, ainda, insuficientes.
"[As medidas do governo] são um primeiro passo de outros passos que precisam acontecer. Não adianta aqueles que têm uma posição na economia mais ortodoxa, mais liberal, achar que a superação de uma crise desse tamanho será com o receituário tradicional. Não adianta achar que, mantendo a meta fiscal deste ano, manter os gastos limitados deste ano, com pouco recurso de despesa de investimento, é uma sinalização correta. Os investidores sabem que a solução de qualquer país nessa crise passa pela colocação de recursos públicos. Não tem saída. Vamos precisar garantir o emprego daqueles que estão na formalidade e um cinturão de proteção social para aqueles que estão na informalidade. A crise é muito grande. E nessa crise, que é um tsunami, quem entra é o Estado brasileiro. É nisso que eu acho que o governo ainda não preparou as medidas, mas tenho certeza que está preparando", disse.
O presidente da Câmara, ao falar sobre as críticas de Bolsonaro às medidas de governadores, afirmou: "Se olharmos o exemplo dos outros países, as restrições estão até pequenas. Os países que restringiram mais rápido sentiram menos os efeitos do vírus. A pergunta é: vale, pela garantia da atividade econômica, a perda de vidas? Essa é a pergunta que a gente tem que fazer. Do meu ponto de vista, não. A prioridade são as vidas. Se as vidas vão atingir a atividade econômica, precisamos priorizar as vidas. Até porque, se essa crise entrar com muita força no Brasil, as pessoas vão para casa do mesmo jeito. As pessoas estão vendo, nos outros países, que para sobreviver ao vírus, é preciso ficar em casa. Primeiro, o que vale é a vida. Na economia, o Estado tem condições de garantir a estrutura mínima de sobrevivência do setor produtivo e, junto com os governadores, construir as soluções", acrescentou.
"Bolsonaro quer conflito"
Rodrigo Maia também foi entrevistado pelo Estadão. Na conversa, ele foi ainda mais enfático, como se atesta nas duas respostas abaixo.
O próprio Bolsonaro insinuou que haveria uma articulação para o impeachment. É fato?
Isso não está na agenda da Câmara. A nossa agenda é única: enfrentamento ao coronavírus nos próximos meses no Brasil. Ele fica arrumando inimigo para arranjar um conflito. É besteira. Nós estamos com uma projeção grave no mundo real. O mundo real é o que contrata, que gera emprego, que investe. Hoje (terça-feira, 17/III) morreu o primeiro brasileiro. Temos de garantir sempre o diálogo permanente com a equipe econômica, com a área social do governo, para que possamos construir um cinturão de soluções.
O presidente colocou a disputa pelo controle do Orçamento e a suposta pressão que sofre do Congresso como pano de fundo da crise. Ele não está entendendo a gravidade da situação?
Você acha que eu tenho que estar preocupado com o que o Bolsonaro está falando ou em ajudar o Brasil a conter essa crise? O que eu digo a ele é que ele pode contar com o Parlamento, como sempre contou. Pode atacar, bater, criar as narrativas que, do meu ponto de vista, não são verdadeiras, mas nos próximos três ou quatro meses, terá não um, mas 513 aliados.