Míriam explica a inflação: ignorância ou má fé?
Amigo navegante ouviu a longa explicação da Míriam Leitão, aqui também conhecida como Cegonhóloga sobre por que os ouvintes da CBN, a rádio que troca a notícia, não acreditam nela.
Quem entender a explicação ganha de presente as obras completas do Historialista ou o direito de assistir a uma aula - gratuita - do André Haras Resende, na Casa Das Garças, sobre a "Imaterialidade da Riqueza na Privatização da Pérsia de Dario".
Recomenda-se ir até o fim e não cair, antes, na gargalhada.
Mas, é uma comédia!
Ou será uma farsa (medieval)?:
Débora: o boletim Focus de hoje traz a previsão de inflação de 2017, que deve ficar mesmo abaixo dos 3%, uma das inflações mais baixas que já tivemos. Mas tem aquela coisa da sensação do consumidor. O que a gente pode dizer pro nosso ouvinte a respeito disso?
Míriam: Dessa vez, a queda da inflação não veio associada a outros efeitos que levam ao aumento do conforto econômico. As pessoas ainda estão vivendo uma crise, o desemprego ainda está alto, a renda muito apertada. A renda começa a melhorar um pouco em relação ao passado recente, mas caiu muito em relação há alguns anos atrás. As pessoas continuam com dificuldades de pagar as contas do mês, então, a sensação de que a crise continua permanece, e de fato a crise continua. Mas a inflação caiu muito. Caiu tanto que alguns preços, algumas cestas ficaram inclusive mais baixas, porque às vezes cai um produto e não cai outro. Mas, aí, o que os economistas olham é que são dados que... no tempo, né... são... a queda que é devagar, um pouquinho a cada mês... e que quando você olha a trajetória, a curva, o gráfico é impressionante, porque no começo de 2016 o País estava com 10,71%. E a recessão estava em 3,5%. E, de lá pra cá, caiu muito e é uma das menores da nossa História. A inflação brasileira tem uma história muito ruim de inflação alta, mas na era do Real, que é o que pode comparar (porque antes disso teve 50 anos de inflação de dois, três, quatro dígitos), a inflação de 98 foi mais baixa do que essa, mas 98 estava num ambiente meio... o crescimento não estava grande, mas não era uma recessão. Agora, o que provoca essa percepção de queda da inflação foi algumas vezes em que ela caiu fortemente e isso veio associado a um período de crescimento. Não só na época dos planos, como, por exemplo, em 99, a inflação chegou a 9%. Então, 98 foi baixinha, aí 99 teve a desvalorização do câmbio e a inflação foi a 9%. Nesse momento teve de tudo: o Governo caiu a popularidade e foi assim um momento muito ruim do Governo Fernando Henrique, foi quando foi lançado o movimento Fora, FHC pelo PT... aí aconteceu em 2000, o Banco Central conseguiu segurar a inflação. Foi quando o Armínio foi indicado, né, a inflação conseguiu ser limitada até esse ponto. Em 2000, a inflação caiu e o País cresceu 4%. Aí, quando tem um crescimento com a queda da inflação associada, dá essa sensação de conforto, desemprego caindo e tal. Em alguns momentos teve isso. Em 2010, por exemplo, o País cresceu muito forte, então a renda cresceu, o emprego cresceu, então teve muitas notícias boas na Economia. Mas, normalmente, o que as pessoas associam à inflação é todo o sentimento de desconforto econômico; então, por exemplo, agora a inflação caiu mas o desconforto continua, por causa do ambiente recessivo e do desemprego alto.
Débora: Principalmente por causa do desemprego, né...
Míriam: É... porque o desemprego provoca não só a perda da renda... digamos assim, uma família em que uma das pessoas que geravam renda perdeu emprego, então teve uma redução da renda, digamos, de um quarto da renda... Isso aí continua sendo sentido. Ou alguém em cuja família ninguém tenha perdido o emprego, mas que está com medo de perder o emprego. Então, o ambiente é mais difícil, de temor. Ou, uma pessoa que perdeu o emprego e conseguiu outro, mas o outro é informal, com uma renda menor, com mais precariedade. Porque houve um aumento recente da oferta de empregos... um aumento grande, quando você pega no final de 2017 para o final de 2016, é um aumento de número de pessoas ocupadas de de 1,7 milhão de pessoas, então, o número é grande. Agora, a percepção não é essa, até porque o crescimento dessa oferta de emprego aconteceu principalmente pelo mercado informal ou por conta própria, quando a pessoa perdeu o emprego e foi fazer alguma coisa para ter renda. Então, não necessariamente ela... ela tem a sensação, ainda, de estar em situação precária. Então, exatamente neste momento há um descompasso entre os números que os analistas olham e o que as pessoas sentem, porque, ao mesmo tempo em que houve aumento do número de pessoas ocupadas, ou seja, pessoas com trabalho, não houve uma queda significativa da taxa de desemprego, porque mais gente foi ao mercado de trabalho procurar emprego. Então, são dois números, na verdade, duas formas de olhar: se você olha por um ângulo, melhorou; por outro ângulo, não melhorou tanto assim; e por um terceiro ângulo, as pessoas ainda não sentem conforto em relação ao mercado de trabalho, porque a deterioração foi muito rápida, muito forte, você sai de 6,5% de desemprego para quase 14%. Então, cai agora para 12%, mas lá atrás ficou o 6,5%, né... Então, esse é que o momento de descompasso. Eu sei porque eu falo "olha, esse dado aqui melhorou", aí sempre tem alguém dizendo "melhorou nada, só melhorou pra você!". Então, tem sempre esse descompasso entre o número e a percepção das pessoas.
Em tempo: quá, quá, quá! - PHA