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Mourão peita Trump e aceita Huawei da China

Presidente Xi deu ao vice brasileiro tratamento de chefe de Estado
publicado 07/06/2019
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Hamilton Mourão durante audiência com o presidente chinês Xi Jinping, em 24/V (Créditos: Adnilton Farias/Agência Brasil)

Do PiG cheiroso:

Brasil descarta vetar presença da Huawei em 5G, avisa Mourão


(...)Valor: O senhor foi recebido pelo líder chinês, Xi Jiping, como chefe de Estado, mesmo após rusgas no começo da relação com o governo de Jair Bolsonaro...
Mourão:
Eles nos concederam um tratamento muito acima do normal para a minha posição de vice-presidente. Foi um tratamento de chefe de Estado, eles quiseram demonstrar toda a boa vontade para com o governo brasileiro.

Valor: Acha que os chineses estão preocupados em fazer essa deferência por causa da relação próxima do presidente Bolsonaro com os EUA?
Mourão:
Isso faz parte do jogo internacional. Mas a China tem sido um parceiro confiável do Brasil desde 2009. São dez anos de parceria estratégica. Nesse período, multiplicamos praticamente por dez o nosso fluxo comercial, que ficou em mais de US$ 100 bilhões no ano passado. É um fluxo realmente significativo, apesar de a qualidade ainda deixar a desejar. Nós exportamos muito mais produtos in natura do que produtos com valor agregado. Foi uma das conversas que eu tive com eles. Se a gente entrega a soja em estado puro, a taxação é mínima. Se entrega o óleo de soja, a China me taxa lá em cima.

Valor: O Brasil vai aceitar o convite dos chineses de entrar na Nova Rota da Seda?
Mourão:
Os chineses hoje estão muito impositivos em cima dessa questão da "Belt and Road Initiative" [conhecida também como Nova Rota da Seda]. É quase uma laçada que eles te dão para te deixar, vamos dizer assim, alinhados às necessidades chinesas. A orientação do presidente era que a gente não desse um sinal positivo, ficasse com um sinal de que nós consideramos a "Belt and Road", mas queremos que ela se adapte às nossas necessidades, e não única e exclusivamente às da China.

Valor: Alguns países tomaram investimentos baratos e acabaram se endividando. Quais armadilhas o Brasil deve evitar?
Mourão:
O que a gente tem que evitar é o seguinte: quero emprego gerado aqui, não aquele [projeto] que o cara traz 100 mil chineses para trabalhar no Brasil. O que queremos nessa questão? Vamos falar especificamente de investimento. Nós precisamos de investimento em infraestrutura. Aquilo que for de infraestrutura e que vai beneficiar o comércio com a China é um investimento bom que atende o interesse dos dois países. (...)

Valor: O sr. não acha que, mais do que uma guerra comercial, há uma guerra tecnológica definindo o grande protagonista deste século?
Mourão:
Você olha o 5G. As quatro empresas que detêm a tecnologia são duas chinesas e duas finlandesas. Cadê a americana?

Valor: Alguns países, por influência dos EUA, decidiram banir a Huawei. O sr. acha que essa é uma conversa pertinente para o Brasil?
Mourão:
Eu sei que o presidente Trump alertou o presidente Bolsonaro, naquela visita [a Washington em março], sobre a Huawei. Alertou-o sobre a Huawei. E, quando eu tive a oportunidade de conversar com o presidente da Huawei lá na China, disse para ele: "Olha, vocês têm que criar um ambiente de confiança na empresa. De modo que nenhum país que vá receber a empresa e a tecnologia que vocês vão instalar fique preocupado com que todos os dados que estarão no seu poder pertencerão também ao governo[ chinês]". Esta é a discussão.

Valor: O sr. particularmente tem esse receio? Porque a gente vai ter a licitação do 5G em 2020...
Mourão:
Hoje eu não tenho esse receio. Eu não tenho dados para lhe dizer que estão cometendo isso. Seria uma leviandade minha dizer que isso está acontecendo.

Valor: Então, não há nenhuma ideia por ora de banir a Huawei?
Mourão:
Não, não. Aqui não. No nosso governo não tem. O presidente não falou isso para mim em nenhum momento. Nós somos um país que precisa, somos um país muito pouco integrado digitalmente. Você sai daqui de Brasília, anda 50 km na estrada e não fala mais no telefone. Temos um marco de telecomunicações que é da década de 1990. Ele não atende mais. As operadoras têm que expandir a rede, mas elas são obrigadas a investir em telefonia fixa, orelhão. Tem que mudar o marco. (...)

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