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Petróleo a US$ 28! E se houver uma guerra civil?

Alencastro aplica a História à Arábia Saudita
publicado 18/01/2016
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arabia

O maior poço de petróleo do mundo está cercado de xiitas por todos os lados

Nessa segunda feira, 18/01, o barril do petróleo chegou a US$ 28, na abertura dos negócios na Ásia, por causa da suspensão das sanções ao Irã.

Nenhum, nenhum economista de banco jamais imaginou que o preço do barril chegasse a US$ 28...

Nem a sábia Urubóloga!

O que será da Ciência Econômica?

Ao historiador Alencastro::


Petróleo e religião na Arábia Saudita

O preço do petróleo continua caindo. Especialistas não excluem que o barril possa descer até US$ 20 ou a um valor ainda menor. Há uma restrição da demanda global e, em particular, um recuo das importações chinesas. No entanto, existe, obviamente, um excesso de produção de petróleo no mercado.

Uma das razões centrais da fartura da oferta é a política da Arabia Saudita, potência sunita, de manter um alto nível de produção nos seus poços. Para enfraquecer o Irã, potência petrolífera xiita, seu principal rival na região e no mundo muçulmano. Mas também para torpedear a concorrência dos produtores americanos de óleo de xisto. Tal política, viável no médio prazo, é facilitada pelos baixos custos de produção do petróleo saudita.

Ghawar, o maior campo de petróleo do planeta, de onde é bombeada 7% da produção mundial, ilustra o peso descomunal da Arábia Saudita no mercado.

Como assinala um colunista do "The Times" (somente para assinantes) o custo de produção em Ghawar é de US$ 5 e todos os poços do campo estão bombando. Mudanças em Ghawar e na produção saudita terão um forte impacto no mercado.

A estatal Saudi Aramco, a maior companhia de petróleo do mundo, controlando 15% das reservas mundiais e valendo possivelmente US$ 10 trilhões, terá uma fatia de seu capital ofertada nas bolsas ainda neste ano. Confrontada à queda do preço do petróleo, a Arábia Saudita também reforma sua economia.

Desde logo, a direção da companhia, deverá gerir as demandas contraditórias de seus acionistas privados, que buscam maiores dividendos, e de seu acionista principal, o governo saudita, que persegue objetivos políticos e estratégicos. Tal dilema, familiar aos que acompanham a gestão da Petrobras, poderá impactar a produção saudita e aumentar os preços do petróleo.

Outro fator que pode influenciar a evolução do mercado tem a ver com conjuntura social saudita e mais diretamente com a situação de Ghawar. Plantados na região majoritariamente xiita do leste do país, os poços de Ghawar estão rodeados por comunidades que entretêm uma relação conflituosa com Riad. Principalmente depois da execução, no começo deste mês, por ordem do governo saudita, do proeminente líder religioso xiita Nimr al-Nimr.

Há incidentes e protestos xiitas na região de Ghawar. Observadores mais pessimistas evocam a possibilidade de uma guerra civil no país.

Num artigo na revista "Forbes" intitulado "Quem não sabe Economia está condenado a repetir a História", Michael Lynch, um conhecido especialista da economia do petróleo, descarta as influências geopolíticas nesta e na precedente (em 1986) queda acentuada dos preços do petróleo.

Para ele, em 1986, como agora, tudo se resume à soma da atual recessão com a superprodução engendrada anteriormente pelos investimentos maciços na alta especulativa dos preços das commodities. No contexto atual, teria existido ainda a crença equivocada no crescimento contínuo da economia chinesa.

Resta que a desconsideração da História nunca ajudou o entendimento da Economia. Sobretudo no que concerne o Oriente Médio e o mercado de petróleo.

Luiz Felipe de Alencastro
Cientista político e historiador, professor emérito da Universidade de Paris-Sorbonne e professor da Escola de Economia de São Paulo - FGV. É membro da Academia Europaea.