Quem manda no Brasil é o Citibank
É o guia do Meirelles e do gatinho angorá...
publicado
28/03/2017
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O Conversa Afiada reproduz da BBC reportagem espantosa: o maior banco americano é quem dá as cartas.
Não esquecer que o Citibank participou ativamente da privatarização na Argentina do Carlos Menem e da privatarização no Brasil, no governo (sic) do Carlos Menem brasileiro, o FHC Brasif, Príncipe da Privataria e maestro da Privataria Tucana.
Aqui, o Citibank "operou" na imaculada companhia do ínclito banqueiro Daniel Dantas.
Precisa desenhar, amigo navegante?
Conselheiro informal do governo Temer, Citi promove privatizações brasileiras nos EUA
Ricardo Senra - Da BBC Brasil em WashingtonO presidente Michel Temer é "um dos melhores políticos do Brasil" porque "tem coragem" para tocar reformas impopulares, apoia a venda de ativos públicos para investidores estrangeiros e tem boa relação com o Congresso para aprovar estas medidas.
Quem afirma é Charles R. Johnston, diretor global de assuntos governamentais do Citigroup, um dos maiores conglomerados bancários dos Estados Unidos.
O trabalho do executivo é fazer a ponte para negociações entre clientes do banco e governos de mais de cem países.
Apostando no programa de privatizações do governo brasileiro, que pretende transferir áreas de mineração e exploração de petróleo e gás (incluindo o pré-sal), usinas e empresas de energia, portos, ferrovias e outros, o banco americano patrocinará um encontro entre seus principais clientes e ministros brasileiros em Nova York no mês que vem.
Não será a primeira vez. Em setembro do ano passado, dias depois do lançamento do pacote, o banco apresentou bilionários a Temer e aos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), que foram pessoalmente ao encontro de negócios em um hotel em Manhattan.
"O projeto (de privatizações) está colocando o Brasil no caminho certo", diz o executivo.
Não há nenhum contrato ou vínculo formal de cooperação entre o banco e o governo Temer. Mas a máxima dos investidores de Wall Street permanece intacta: "Não existe almoço grátis" nos Estados Unidos.
"É claro que estamos aqui tentando proteger os interesses do banco", diz Johnston em entrevista à BBC Brasil em Washington. "Mas também tentamos realçar oportunidades."
Para o executivo, as citações de Temer e pelo menos cinco ministros em delações da Odebrecht pela operação Lava Jato o Brasil não espantam o otimismo dos investidores com as reformas da previdência e trabalhista.
"(Temer) é um dos melhores políticos do Brasil, graças à sua experiência no Congresso, para fazer reformas importantes acontecerem", avalia Johnston.
"Investigações sobre corrupção são sempre constrangedoras, mas acredito de coração que o governo está tentando acabar com a corrupção."
Segundo a Secretaria-Geral da Presidência, a promessa do programa de privatizações e concessões é arrecadar R$ 45 bilhões e gerar 200 mil empregos indiretos e diretos.
Citi e as privatizações
Em meio aos preparativos para o novo encontro entre políticos brasileiros e seus clientes, o executivo se classifica como "conselheiro econômico" quando questionado sobre o papel específico do Citigroup nas privatizações brasileiras.
"Ajudamos governos a estruturarem projetos em sintonia com os interesses dos mercados de capital privado", afirma. "Neste caso, obviamente, projetos de infraestrutura, seja nos Estados brasileiros ou em projetos federais."
Segundo o executivo, o banco pode participar de diferentes formas de privatizações em outros países.
A atuação vai desde recomendar investimentos em empresas com boa chance de rentabilidade a seus clientes, passando por financiar a compra destes ativos e prestar consultoria técnica e jurídica sobre o tema.
"Uma das belezas do programa é algo que notamos aqui em Washington também", diz Johnston. "É preciso conectividade entre diferentes órgãos, cooperação entre diferentes órgãos, e isso certamente é algo que (Moreira) Franco está tentando alcançar."
Procurado para informar se existe algum documento que oficialize a relação do banco junto ao governo brasileiro, o escritório do Citibank em São Paulo afirmou que "não há nenhum vínculo contratual".
"O Citi apoia a aproximação entre investidores estrangeiros e o governo, por meio de reuniões e conferências, visando ampliar o conhecimento desses investidores sobre os projetos e oportunidades no Brasil", disse o banco, em nota.
À BBC Brasil, por telefone, o secretário de articulação para investimentos de Temer, Marcelo Allain, também negou vínculos diretos.
"O Citibank não é conselheiro nenhum formal do governo, nem poderia ser", disse. "Simplesmente, quando fazemos estas reuniões com o mercado, pedimos que eles organizem ou apresentem clientes que tenham interesse no Brasil. Nesse papel, eu acho que de fato o Citi está ajudando bastante."
TransparênciaA interação entre bancos que têm grandes investidores internacionais como clientes e governos que pretendem fazer privatizações é frequente.
Para especialistas neste tipo de negociação, entretanto, é preciso atenção para "o limite ético entre viabilizar operações importantes para os cidadãos em geral e favorecer um grupo econômico".
Na opinião do economista Ciro Biderman, professor de políticas públicas da FGV e pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), "não há como se relacionar com o setor privado sem conhecer o setor privado".
"Mas isso tem que ser feito com toda a transparência, especialmente do lado do governo."
O especialista sugere que todos os encontros entre ministros e executivos de bancos ou empresas sejam divulgados em agendas públicas.
"E, depois das reuniões, tudo o que tiver sido discutido tem que ser amplamente divulgado."
O professor, que trabalhou com o tema na Prefeitura de São Paulo por quatro anos, ressalta que encontros entre investidores e governo são importantes durante o processo de privatizações.
"Você precisa saber qual é a expectativa do setor privado e testar o mercado para ver o que eles estão interessados ou não", diz. "O importante é que não haja troca de informações privilegiadas."
Na avaliação de Biderman, o otimismo dos investidores não costuma se contaminar por investigações como a Lava Jato.
"Basta pegar os índices internacionais de percepção de corrupção. Quando o país está crescendo, independente do contexto, esses índices caem. Se a economia está em queda, a noção de corrupção dispara."
Reformas
O Citi está presente no Brasil há mais de cem anos - começou abrindo contas para americanos que vieram trabalhar no país no início do século passado.
Seu executivo não poupa elogios a Temer: "Mesmo sabendo que sua popularidade é muito baixa, o presidente persiste", diz ele, afirmando que o banco prevê retomada no crescimento econômico brasileiro no próximo semestre, após uma sequência de quedas.
O índice de aprovação do peemedebista, segundo a última pesquisa Datafolha (dezembro), é de 10%.
Como principal diferença entre os governos Dilma e Temer, Johnston aponta a aprovação do teto dos gastos, que limita investimentos do governo pelos próximos 20 anos - críticos preveem retrocessos em áreas como saúde e e educação, o que o Planalto nega.
"Foi um recado para os estrangeiros de que o Brasil está realmente empenhado em controlar o orçamento."
O diretor do Citi também comemora o empenho de Temer nas reformas trabalhista (que deve discutir mudanças nas relações entre empresas e funcionários), da previdência (que pretende fixar a idade mínima para aposentadoria em 65 anos) e tributária (que pode unificar impostos, como ocorre em outros países).
"Todo mundo sabe: quando a sua economia está em maus lençóis, é preciso tomar decisões difíceis politicamente", afirma.
O entusiasmo também se reflete do lado brasileiro.
Há duas semanas, após se reunir pessoalmente com Temer no Palácio do Planalto, o presidente mundial do Citigroup, Michal Corbat, distribuiu nota à imprensa afirmando que "apoia as medidas de ajuste fiscal" e que "o Brasil é um mercado muito relevante" para o banco.
Lava Jato e Trump
Além do próprio presidente, os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência, responsável pelo programa de privatizações), Eliseu Padilha (Casa Civil), Bruno Araújo (Cidades), Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia e Comunicações) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores) foram citados em delações recém-homologadas de executivos da Odebrecht.
Outros homens fortes do governo, como os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), além e os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Aécio Neves (PSDB-MG), também aparecem em delações como envolvidos em supostos atos de corrupção.
Todos negam as acusações.
Para o executivo do Citigroup, o simples fato de as investigações continuarem em andamento tranquiliza investidores estrangeiros.
"Quando um governo, de forma não discriminatória e obedecendo a regras jurídicas, busca acabar com a corrupção e investigá-la, a comunidade internacional recebe um sinal de que a regra da lei faz a diferença no país", diz.
"Nós, do Citi, já vimos países onde investigações do tipo são interrompidas." À BBC Brasil Johnston diz acreditar que a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos possa caminhar para um acordo de livre-comércio entre os dois países.
Uma pesquisa divulgada em janeiro pelo FED (Federal Reserve, o banco central dos EUA) e pela rede CNBC mostrou que 51% do mercado americano indica o protecionismo de Trump como ameaça número um ao crescimento dos Estados Unidos.
Para o diretor de assuntos governamentais do Citigroup, entretanto, esta imagem de Trump é um mal-entendido que "serve para atrair leitores" para a imprensa.
"Admito que na campanha soou desta maneira. O slogan 'America First' (ou 'América em primeiro lugar') talvez seja infeliz de uma perspectiva de relações econômicas internacionais", afirma.
"O que esse governo Trump realmente quer é garantir que as relações comerciais sejam justas. Livres, com certeza, mas também justas. É mais uma questão de cumprimento da lei do que de protecionismo."
Hoje, o Brasil é o 12º maior parceiro de negócios dos Estados Unidos, mas tem prejuízo na balança de exportações: vende US$ 35 bilhões anuais, enquanto compra US$ 59,5 bilhões (os EUA têm superavit de US$ 23,6 bilhões nesta relação).