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RIC expulsa Bolsonaro, "ferramenta colonial do Trump"

Rússia, Índia e China se escondem dele no Japão
publicado 01/07/2019
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Puntin, Modi e Xi: capacho do Trump não entra! (Crédito: Mikhail Klimentyev/Sputnik/AFP)

O Conversa Afiada, de brasileiros constrangidos e envergonhados, reproduz trechos do respeitado jornal Asia Times:

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Os líderes dos três países se encontraram em segredo. Os poucos jornalistas presentes na sala, rapidamente, foram convidados a se retirar. Os presidentes Xi, Putin e Modi estavam acompanhados por assessores que mal tinham espaço para se sentar. Não houve qualquer vazamento. Muitos diriam que, em todo caso, a sala estaria grampeada. Afinal, Xi pode chamar Putin e Modi para uma conversa em Pequim, sempre que precisar discutir assuntos sérios.

O governo indiano espalhou o boato de que Modi tomou a iniciativa para o encontro em Osaka. Não é exatamente o caso. O encontro é o ponto alto de um longo processo liderado por Xi e Putin para convidar Modi para formar uma séria integração triangular na Eurásia - um plano consolidado no último encontro da Organização de Cooperação de Shanghai (SCO) em Bishkek, mês passado.

Agora, Rússia-Índia-China (RIC) está em cena novamente. O próximo encontro do grupo está marcado para o o Fórum Econômico Oriental em Vladivostok, em Setembro.

Em seus discursos de abertura, Putin, Xi e Modi deixaram claro que o objetivo do RIC é, acima de tudo, como disse o presidente russo, estruturar uma "arquitetura de segurança indivisível" na Eurásia.

Modi - à moda de Macron - enfatizou o esforço multilateral para a luta contra o aquecimento global e reclamou que a economia global é gerenciada por quem favorece apenas "um dos lados", deixando claro a necessidade de uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Putin foi além e insistiu que "nossos países são a favor da preservação do sistema de relações internacionais, cujo núcleo é a Carta da ONU e o regime da Lei. Nós defendemos tais importantes princípios como o respeito à soberania nacional e a não-interferência nos assuntos domésticos".

Putin também destacou a interconexão geopolítica da ONU, BRICS, SCO e G20, além da necessidade de "fortalecer a autoridade da OMC", além do FMI, como "alicercers de um mundo moderno e multipolar que repudia o uso de sanções como ferramentas legítimas".

O contraste dos RIC com o governo Trump não poderia ser mais claro.

O BRICS está morto. Houve um encontro oficial do bloco, por pura formalidade, antes do RIC. Mas não é segredo algum que Putin e Xi desprezam completamente o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, a quem consideram uma ferramenta neocolonial de Trump.

Pouco antes de seu encontro com o presidente americano, Bolsonaro serviu como camelô das reservas minerais do Brasil, afirmando que o país agora pode exportar quinquilharias de nióbio.

Certamente é um ítem de exportação menos controverso que a mula militar presa na Espanha por carregar quantidades industriais de cocaína (36 quilos) em um avião da comitiva presidencial - o que, definitivamente, arruinou as festas em Osaka.

Mais tarde, Trump cumprimentou Bolsonaro pelas "tremendas riquezas" do Brasil, atualmente em processo de privatização que irá beneficiar empresas americanas.

Xi, durante o encontro do BRICS, denunciou o protecionismo e defendeu uma OMC mais forte. Os países do bloco, disse, devem "fornalecer nossa resiliência e nossa capacidade de lidar com riscos externos".

Putin, além de denunciar o protecionismo no comércio global, defendeu também transações binacionais em moedas nacionais, ignorando o dólar americano - ecoando o comprometimento da parceria estratégica entre Rússia e China.

O ministro das Finanças da Rússia Anton Siluanov e o chefe do Banco Popular da China, Yi Gang, assinaram um acordo para negociações em rublos e yuans no comércio bilateral, a começar por agricultura e energia, com o objetivo de aumentar as trocas entre as duas moedas em 50% nos próximos anos.

Os dois países também acordam em, ao longo dos próximos anos, priorizar transações fora do sistema SWIFT (Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), utilizando o SPFS russo ou o CIPS chinês.

Mais cedo ou mais tarde, Rússia e China irão convencer a Índia a se juntar aos mesmos arranjos. Moscou tem excelentes relações tanto com Pequim quanto com Nova Déli, e faz o papel primordial de intermediário entre os dois países.

A mini-guerra comercial iniciada por Trump contra a Índia - incluindo o status de parceiro privilegiado e as punições pela compra de mísseis russos - irá aumentar o ritmo das negociações. Os mísseis, inclusive, serão pagos em euros.

Não houve qualquer vazamento do RIC a respeito do Irã. Entretanto, diplomatas afirmam que esse foi um tema chave do encontro. A Rússia já presta ajuda - secretamente - ao Irã em vários níveis. A Índia tem uma escolha existencial pela frente: continuar a comprar petróleo do Irã ou abrir mão da ajuda estratégica do Irã, através do porto de Chabahar, para facilitar a mini-Rota da Seda indiana para o Afeganistão e Ásia Central.

A China vê o Irã como um elemento primordial de sua Nova Roda da Seda. Já para a Rússia, o Irã é essencial para a estabilidade estratégica do Sudoeste Asiático - tema importante do encontro entre Putin e Trump, que também abordou Síria e Ucrânia.

Apesar do que diz Trump, o RIC é essencial para as consequências de curto e longo prazo do encontro entre China e EUA em Osaka. O governo americano está empenhado em retirar da China seu papel nas cadeias de produção globais, ao mesmo tempo em que Pequim avança a toda velocidade com sua Nova Rota da Seda.

A Europa também desconfia de Trump - Bruxelas sabe que a União Europeia será o próximo alvo da guerra comercial. Enquanto isso, com mais de 60 países comprometidos com centenas de projetos essenciais à Nova Rota da Seda, e com a União Econômica da Eurásia também interligada ao projeto chinês, Pequim sabe que é apenas uma questão de tempo até a União Europeia juntar-se ao trem do RIC.

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