Tem cheiro de maracutaia no leilão da Petrobrax
O Conversa Afiada reproduz do Tijolaço, de Fernando Brito:
Mais cedo se falou aqui da pressa e da falta de estudos para fixar as bases dos lances do leilão de partilha do campo de Uirapuru, na bacia de Santos, colado ao megacampo de Carcará. O bônus em dinheiro era relativamente caro (R$ 2,65 bi) mas a participação mínima da União no “oil profit” – a parcela do petróleo retirado descontada dos gastos de extração e dos royalties – que não chegava a 23%.
Pois o campo foi arrematado pela Petrogal, Equinor (ex-Statoil) e ExxonMobil (Esso) com o oferecimento de 75,49% de cota, batendo a Petrobras (com participação minoritária da BP e da Total) por meros 3%.
A diferença entre a parcela pedida no leilão e a ofertada não resiste a qualquer análise de consistência técnico-econômica.
Imagine, para ter uma ideia melhor, que você faz um leilão para arrendar uma loja, pedindo 23% do lucro como pagamento. O vencedor do leilão se oferece para pagar mais de 75% do lucro líquido como arrendamento.
Há, evidentemente, algo errado aí. Ou você subavaliou a parcela a ser pedida ou o arrendatário generoso sabe que a sua loja é capaz de produzir, com toda a certeza, lucros imensos e valia a pena “afundar o pé” na oferta para não perder para o concorrente.
Considere, claro, que a “parcela do lucro”, neste caso, trata-se de uma fração de, provavelmente, dezenas ou de centenas de bilhões de dólares, porque se refere a alguns outros bilhões de barris de petróleo. A quantidade é impossível de precisar, porque sequer foi perfurado qualquer poço pioneiro na área de Uirapuru, o que impede avaliações mais precisas do que simplesmente a produzida por estudos sísmicos.
Até nisso os compradores do campo estão protegidos, porque um eventual – embora improvável – custo de exploração está coberto: quem perde é a União, pois o “oil profit” sobre o qual incidirá a sua parcela é o que cairá.
É evidente que não se pode fazer, de longe, investigações sobre este estranhíssimo leilão de Uirapuru, mas é bom que se recorde a tirada de leonel Brizola: “tem cara de jacaré, tem couro de jacaré, tem rabo de jacaré: como é que não vai ser jacaré?
Em tempo: quem fez o leilão foi o gatinho angorá, Minixtro das Minax. Como foi o mesmo Brizola quem lhe aplicou o apelido, é o caso de dizer... se tem maracutaia, o rabo do gatinho ficou de fora... - PHA
***
Antes, o Conversa Afiada publicou:
Brito: Canalhas tiveram pressa para leiloar o pré-sal
Por Fernando Brito, no Tijolaço:
Governo segue na liquidação do pré-sal para ter dinheiro à vista
Como o sujeito da fábula da galinha dos ovos de ouro, que abriu o bichinho que lhe dava um precioso presente todos os dias por burrice e ambição, o Governo Temer leiloa hoje mais áreas do pré-sal.
Como ainda são dentro do modelo de partilha, isso lhe dá direito de outorgar a exploração por uma taxa de participação no petróleo que será produzido – são áreas sem risco de dar no “seco” – por que perfurar os campos de Itaimbezinho, Três Marias, Dois Irmãos e Uirapuru, nas bacias de Campos e Santos.
O governo Temer, porém, optou por estabelecer percentuais muito baixos pelas outorgas e, em lugar de garantir receitas permanentes, prefere que a bolada venha cash para suprir suas dificuldade orgamentárias.
O mais promissor dos campos, Uirapuru, para que você tenha ideia, tem um bônus a ser pago à vista de R$ 2,6 bilhões, e, pela área (1.285,33 km²) e pela localização (próximo ao megacampo de Carcará, na Bacia de Santos) pode representar lucros imensos, com bilhões de barris. Ocorre, porém, que há certeza de que ali há muito petróleo, mas não quanto, porque nem mesmo um poço foi perfurado, para dimensionar a reserva.
A Associação de Engenheiros da Petrobras acha “muito estranho que dentro da ANP os técnicos não tenham conhecimento destes fatos. E mais estranho ainda que os sumários exploratórios dos campos disponibilizados pela ANP omitam os volumes originais in place de petróleo (VOIP) e de gás (GOIP)”.
Quão conveniente é para um governo ilegítimo, que tem pressa de leiloar o Pré-Sal, que o povo brasileiro não tenha conhecimento sobre os volumes destes campos gigantes e supergigantes? Será que tal “esquecimento” não seria proposital para facilitar o ataque ao Pré-Sal através de leilões e das “parcerias estratégicas” com as multinacionais de petróleo?
Proposital ou não, o leilão de hoje, com a alta do preço do petróleo e as condições generosas que se oferece atraíram um número recorde de multinacionais interessas em arrematá-los: 14, no total.
Onde tem doce, tem mosca.