Argentina: crise bancária violenta aparece no horizonte
O amigo navegante acompanhou a massiva mobilização de trabalhadores e trabalhadoras da Argentina contra os sucessivos fracassos da agenda neolibelista do Presidente Maurício Macri.
Inflação acima dos 20% no ano, tarifaço atrás de tarifaço, juros estratosféricos (há cerca de dez dias passaram à casa dos 40%, graças à típica estratégia neolibelista para conter uma crise cambial) e nenhuma perspectiva de melhora com a decisão de se ajoelhar, 12 anos depois, aos gordos banqueiros do FMI.
Entre 17 de março e 10 de maio, o dólar subiu 12% em relação ao peso argentino!
(Nos últimos 12 meses, a desvalorização do peso já ultrapassa os 50%!)
Nesta terça-feira 15/V, um dólar é vendido a mais de 25 pesos pelos principais casas de câmbio (algumas já chegam a cobrar 26 pesos).
Ou seja, mais inflação e salários renegociados a patamares muito abaixo dos níveis inflacionários.
Por isso, o Conversa Afiada publica, a partir da Agência Paco Urondo, entrevista que o diretor do Centro de Economia Política e conselheiro da Unidade Cidadã por San Martín, Hernan Letcher, concedeu a Santiago Asorey para alertar: uma crise bancária pode estar a caminho da Argentina:
(...) Se a taxa de juros não satisfaz as expectativas de variação da taxa de câmbio esperada, vão para o dólar. O que está acontecendo é que ninguém acredita que o governo controlou o dólar. Pelo contrário, a decisão de ir ao Fundo Monetário Internacional também não aliviou essas complicações. De fato, o Fundo teve de esclarecer que não pediria uma desvalorização, embora não esteja claro. Provavelmente o Fundo pedirá uma desvalorização. Se amanhã o Fundo Monetário solicitar um dólar a 26, 27 ou 28 pesos, perderá dinheiro a qualquer taxa de juros. O que não faz sentido. É o que estamos vendo neste momento.
APU: É apenas uma crise cambial? Existem possibilidades de outro tipo de crise financeira aparecer?
HL: Em princípio, há uma crise cambial. Se o cenário levar a uma maior desconfiança, o problema será uma crise bancária. E, nesse caso, a discussão é muito mais séria e mais difícil. Se perdermos a confiança, basicamente vamos pegar nosso dinheiro no banco. Quem puder, comprará dólares. Mas nós descreveríamos um cenário de desconfiança generalizada. E se acreditarmos que pode haver um novo corralito (ver em tempo - C Af), geramos esse cenário.
APU: Mas o aumento do dólar é explicado por essa desconfiança?
HL: Por enquanto, não. Por enquanto há apenas um problema com a taxa de câmbio. A desconfiança é mutável. Não se sabe a quanto fechará a cotação do dólar. O que você tem agora é uma crise de demanda pelo dólar. Existe uma tendência "ascendente" que eles não podem controlar. As pessoas não estão tirando dinheiro dos bancos, pelo menos por enquanto.
APU: Qual é a base do governo para dizer que a intervenção do FMI será diferente da da crise de 2001?
HL: É uma grande estupidez. Não tem pé nem cabeça. É apenas a tentativa de explicar o inexplicável. Que agora "o Fundo é bom e quer nos ajudar". Nas notícias de hoje, Macri prometeu fazer um forte ajuste fiscal. Esta é a realidade. Tudo o mais é o que o governo deseja vender de forma cosmética.
APU: Que margem tem o governo para vetar o projeto de lei da oposição para conter o aumento das taxas?
HL: Eles anteciparam isso. Se toda a oposição também entrar no Senado e se unir para legislar sobre questões tarifárias, acho que o governo terá um problema. Nesse sentido, acho que o Cambiemos (grupo político do Presidente Macri - C Af) avalia duas opções: a primeira é o veto do presidente (o que traria um custo político fenomenal). A outra alternativa, que acredito ser a que eles vão tentar implementar, é judicializar a decisão do Congresso, apontando a falta de poder para legislar sobre tarifas.
Em tempo: o Corralito foi uma medida executada pelo Governo de Fernando de la Rúa no fim de 2001, em meio a uma profunda crise econômica na Argentina. Foi pensado como um instrumento para "impedir que os bancos quebrassem", com a ameaça de uma corrida em massa aos bancos para sacar dinheiro e trocar os pesos por dólares. Congelaram as poupanças e estabeleceram limite de saques nas agências.
Em tempo²: o Banco Central da Argentina joga pesado nesta terça-feira, 15/V: liberou mais de US$ 5 bilhões de reserva a 25 pesos para tentar frear a alta na cotação. Ontem, essa cotação subiu 7% e bateu record.
Em tempo³: sobre a Míriam Lúcia, não deixe de consultar o trepidante ABC do C Af