Imprensa internacional detona Moro e a Lava Jato
Mier: Tacla Duran (foto) não é caso isolado na indústria da Lava Jato (Reprodução/The Real News)
A Real News Network, site fundado em 2007 pelo canadense Paul Jay e que presta inestimável serviço à Democracia, fez o que o PiG - daqui e de fora - se recusa a fazer: mostrou com detalhes como Tacla Duran apunhalou de uma só vez o Judge Murrow e a indústria das delações premiadíssimas.
Abaixo, o amigo navegante pode ler a íntegra de reportagem publicada pela Real News nesta quarta-feira, 6/XII, devidamente traduzida.
Nela, o inglês Brian Mier, editor da Brazil Wire que morou por mais de 20 anos no Brasil, mostra para o mundo o que é a Lava Jato:
O principal juiz do Brasil, Sergio Moro, que vem liderando uma grande investigação contra a corrupção, acabou ele mesmo envolvido em um escândalo de corrupção.
Na semana passada, Tacla Duran, um ex-advogado da Odebrecht, afirmou que um advogado que, por acaso, pertence ao mesmo escritório de advocacia da esposa de Sergio Moro, ofereceu a ele uma redução de sentença em troca de 2 milhões de dólares.
Esse depoimento levanta a questão: quão limpa é a investigação de Sergio Moro sobre a corrupção no Brasil?
A investigação sobre o escândalo de corrupção no Brasil começou em março de 2014, quando o Juiz Moro avançou sobre lavagem de dinheiro e propinas na Petrobras.
Desde então, a investigação e as acusações colocaram a construtora Odebrecht no centro da corrupção; ao mesmo tempo, entre 100 e 200 políticos, muitos deles senadores - incluindo Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados -, são acusados de receber milhões de dólares em propinas da Odebrecht.
Em julho, o ex-Presidente Lula da Silva também foi acusado e condenado como parte desta investigação contra a corrupção. Lula foi condenado a nove anos e meio de prisão, mas segue em liberdade enquanto recorre da sentença. Ao mesmo tempo, ele iniciou a campanha para a eleição presidencial prevista para acontecer no fim de 2018.
A imprensa internacional tem se calado diante das mais novas revelações sobre a Lava Jato que implicam Sergio Moro. Uma fonte que noticiou esse caso em inglês é Brian Mier, para o site Brasil Wire. Ele é de Chicago (EUA), mas morou no Brasil por 22 anos e é editor da Brazil Wire. Ele também é autor do livro "Vozes da Esquerda Brasileira", cujo lançamento está previsto para 15 de dezembro.
[BRIAN MIER]: Ele [Moro] tem sido exaltado na mídia brasileira e na mídia norte-americana pelos últimos dois anos, como sendo um cruzado imparcial na luta contra a corrupção, mas o que veio à tona na semana passada... tem havido uma série de reservas quanto a ele desde o início, porque parece que ele tem como alvo um partido específico, o PT. E ele está não está avançando sobre casos de corrupção muito mais graves, que envolvem políticos de partidos conservadores, como o PSDB. As novas acusações são de que ele organizou um esquema de venda de redução de sentenças para pessoas que fazem "delações premiadas" como parte da Lava Jato. Há um membro da defesa nesse caso chamado Tacla Duran, um advogado da construtora Odebrecht. Ele foi acusado por lavagem de dinheiro e eles automaticamente entraram em contato com ele para fazer uma delação premiada, porque esse é o modo como eles estão reunindo evidências no caso: prendendo grandes empresários e permitindo que eles barganhem a sua saída da prisão, especialmente se eles testemunharem contra o ex-Presidente Lula.
No caso de Tacla Duran, ele foi acusado por lavagem de dinheiro e então o padrinho de casamento de Sergio Moro, que é sócio do escritório de advocacia da esposa de Moro, entrou em contato com Duran e ofereceu uma redução de sentença por 5 milhões de reais, a serem pagos por baixo dos panos, e essa redução de sentença faria com que ele não fosse para a cadeia, mas cumprisse prisão domiciliar. No dia seguinte, eles enviaram os termos do acordo de redução de sentença e ele decidiu não aceitá-los, porque o acordo previa que ele confessasse crimes que ele diz não ter cometido. Ele imediatamente viajou para a Espanha e se entregou para o Governo local como uma testemunha na investigação da Espanha sobre a corrupção na construtora Odebrecht. Sergio Moro tentou extraditá-lo, mas o Governo da Espanha recusou, sob a alegação de que ele não apresentou qualquer evidência. Então, na última quinta-feira, Tacla Duran depôs via vídeo-conferência ao Congresso Brasileiro sobre o escândalo de corrupção envolvendo a JBS. E durante o depoimento ele detalhou o convite à delação premiada que o sócio da esposa de Moro fez para ele por 5 milhões de reais em dinheiro vivo. Ele acusou a Operação Lava Jato de falsificar documentos - disse, por exemplo, que todas as planilhas e todas as informações sobre transações financeiras usadas pela Lava Jato contra a Odebrecht são falsos e que ele tem os originais.
E ele encerrou esse depoimento acusando os investigadores da Lava Jato de criarem uma indústria da delação premiada que envolve milhões de dólares e centenas de grandes executivos.
E isso é muito suspeito, especialmente porque, em primeiro lugar, há uma série de políticos conservadores no Brasil que seguem completamente intocados pela Lava Jato, apesar de muitas evidências em áudio e vídeo contra eles, incluindo o ex-candidato a Presidente Aécio Neves, que foi flagrado em áudio pedindo 20 milhões de dólares em propinas para a JBS, e sequer foi para a cadeia ou suspenso do Senado. E também há fotos dele rindo ao lado de Moro... aparentemente eles eram amigos. Então isso é problemático. E também é problemático quando você olha para o número de grandes executivos envolvidos no caso que tiveram suas sentenças drasticamente reduzidas nos últimos meses. O que nos leva a pensar que esse não é um caso isolado envolvendo Tacla Duran. Tem o exemplo de um dos maiores doleiros do Brasil, o Alberto Youssef. Ele é um milionário. Ele foi condenado a 122 anos de prisão pela Lava Jato e, em outubro, Sergio Moro reduziu sua pena para 4 anos de prisão domiciliar. E tem uma dúzia de casos parecidos. Então, todas essas evidências reforçam o que muitos críticos da Lava Jato vêm dizendo ao longo de dois anos: que essa não é uma investigação imparcial contra a corrupção, como tem sido retratado no New York Times, no Washington Post, no Guardian e em outros jornais como esses, mas, na verdade, é uma caça às bruxas na política, criada para destruir a candidatura de Lula no ano que vem.
Eu digo isso - e outras pessoas dizem isso - porque apesar de haver evidências de milhões e milhões de dólares em lavagem de dinheiro e propinas, Sergio Moro se recusou a implicar candidatos conservadores do PSDB. Ele condenou Lula a nove anos e meio de prisão, por supostamente aceitar reformas em um apartamento, mas Moro não conseguiu provas que Lula foi o dono ou sequer viveu nesse apartamento. Nos últimos dois anos ele [Moro] teve carta branca da mídia. Quando ele ilegalmente gravou conversas de telefone entre Lula e a então Presidenta, Dilma Rousseff, ele divulgou esse áudio para a imprensa, um crime pelo qual nunca foi punido. Mas nos últimos dias, com essas revelações, alguns dos grandes veículos parecem estar se voltando contra ele. A Globo, que é o maior grupo de mídia na América Latina, publicou um artigo em seu jornal na última sexta-feira dizendo que a máscara de Sergio Moro começa a cair, referindo-se a essas alegações de corrupção contra ele. Eu espero que essas acusações de corrupção sejam levadas adiante e que ele seja retirado do caso, já que todas as evidências apontam claramente para um conflito de interesses por causa de sua esposa, as relações dela com o PSDB (ela era conselheira jurídica do vice-Governador do Paraná, do PSDB) e o fato de que nenhum membro desse partido, que tem os maiores implicados nesse escândalo de corrupção, jamais foi preso.
A mais recente pesquisa eleitoral saiu na semana passada, e a liderança de Lula continua a crescer. Ele tem mais que o dobro de intenções de voto de seu mais próximo adversário, que é um neo-fascista, herança da ditadura, chamado Jair Bolsonaro. O fato de aparecerem essas suspeitas de corrupção contra o juiz que o condenou parece ser positivo para a sua candidatura no ano que vem. Exceto que no dia seguinte à divulgação desse escândalo, Moro anunciou novas acusações contra Lula. As últimas acusações não parecem ter qualquer evidência concreta, mas a imprensa está tentando impedir a candidatura de Lula, então nós realmente não sabemos o que vai acontecer.
É um momento de muita tensão no Brasil, porque parece que após Dilma Rousseff ser ilegalmente removida do cargo, em 2016, vivemos em um Estado de exceção, onde as leis não valem mais.
Então, há um sentimento de que, independentemente da culpa ou não de Lula, eles vão encontrar alguma forma de impedir que ele concorra. Se eles não conseguirem impedir que ele concorra, talvez tentem matá-lo, porque o Ministro da Suprema Corte responsável pela Lava Jato morreu em um misterioso acidente de avião um dia antes de ele divulgar resultados da investigação. Nas últimas eleições, o candidato à presidência Eduardo Campos morreu em um acidente aéreo duas semanas antes do pleito, impulsionando a candidatura de Marina Silva, que era a favorita de vários setores da elite norte-americana. Então, existe um sentimento geral de preocupação neste momento, de que, primeiro, Lula não poderá concorrer e, segundo, de que eles cancelem a eleição se a candidatura dele for mantida (ou que mudem o sistema para o parlamentarismo ou eleições indiretas, como eles tiveram em 1985).