Roraima: 1.200 venezuelanos fogem após ataques
Fernando Brito, no Tijolaço, explica a diplomacia do porrete
publicado
19/08/2018
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Manifestantes expulsaram os refugiados que estavam abrigados no terminal rodoviário da cidade e, em seguida, queimaram suas barracas e demais pertences (Créditos: Júlio Carvalho/Arquivo pessoal)
Por Fernando Brito, no Tijolaço:
A diplomacia do porrete e o ódio que nos plantaram
Impressionantes as cenas da multidão de brasileiros expulsando centenas de venezuelanos em Pacaraima, Roraima.
É das coisas mais deprimentes que já assisti e o fruto amargo da política absurda que a direita brasileira, há anos, conduz em relação àquele país.
Trabalhamos ao máximo para aprofundar aquela crise. Mais “bonito” era quem mais apostasse no caos na casa vizinha. Aplaudimos toda a convulsão e radicalismo que por lá se plantou.
Sempre, desde que uma comissão de senadores – inclusive o próprio Aécio Neves, a pérola da honradez – foi meter seu nariz nas questões internas de nosso vizinho.
Os refugiados, aliás, eram prova de que lá havia uma “ditadura” e que as levas de migrantes era em busca de “liberdade”.
Não era, era uma fuga das condições desesperadoras de um país sitiado e, ainda por cima, arruinado pela queda a menos de um terço do seu principal e quase único produto de exportação, o petróleo.
E eles vieram aos centos, aos milhares, por onde podiam: a fronteira de Roraima.
Indiferente aos pobres, o Governo brasileiro não cuidou nem dos de lá, nem dos que chegavam.
O governo local quis a solução de “proibir”, o governo federal, a de “liberar”. Apenas isso.
Amparar, assistir, nem pensar.
E como vivemos num caldeirão de ódio, ele ferveu com um incidente de assalto e agressão atribuído a imigrantes, que virou quase um linchamento de centenas de pessoas, que tiveram seus barracos destruídos e seus pertences queimados.
Nada mais triste de que ouvir o Hino Nacional servindo de trilha musical da expulsão de centenas de homens, mulheres e crianças, que só não foram fisicamente agredidas porque o Exército Brasileiro os protegeu.
(...) Quando se destroem governos, o que aconteceu na Venezuela e, escala diferente, aconteceu aqui, voltamos à barbárie.
Onde o ódio termina com todas as razões.
Em tempo: segundo o Exército Brasileiro, 1.200 venezuelanos já deixaram o Brasil após os ataques em Pacaraima.