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Venezuela: o barulho é maior que a ameaça

Maduro não é Allende nem Trump é John Kennedy
publicado 10/02/2019
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O Conversa Afiada publica artigo sereno (sempre!) de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:

Sei que estou indo contra a maioria dos analistas defensores da democracia quanto à ameaça real de intervenção armada na Venezuela. Mas não considero que a temperatura verdadeira de uma escalada militar esteja tão alta quanto pregam muitos colunistas sinceros.

Não há dúvida de que Donald Trump, a direita e a extrema-direita espalhadas pelo mundo torcem pela queda de Nicolás Maduro e a restauração de um regime responsável por episódios como o Caracazo, que resultou na morte de centenas de venezuelanos em 1989.

O movimento foi uma reação a uma onda de aumentos decretada pelo então presidente Carlos Andrés Pérez, representante de plantão da oligarquia pró-imperialista. Acabou abrindo caminho, anos depois, para a ascensão de Hugo Chávez ao poder.

Os tubarões da finança internacional nunca aceitaram a derrota. A Venezuela detém as maiores reservas de petróleo do planeta. Essa riqueza sempre foi explorada a favor de uma minoria que mantinha 85% da população na miséria. A morte de Chávez deu o sinal para a ofensiva reacionária visando liquidar as conquistas sociais obtidas durante seu governo. É isto que está em curso.

Mas os tempos são outros. A Venezuela de hoje não é a mesma de décadas atrás. Centenas de milhares de venezuelanos foram educados para defender o país contra a volta aos tempos de miséria e pobreza. Estão conscientes de que o discurso da direita não anuncia melhoras, mas novos massacres em benefício da rapina das riquezas nacionais. Mais ainda: além da experiência ideológica, essas centenas de milhares possuem armas nas mãos com disposição para resistir a uma intervenção.

Donald Trump e seus asseclas podem falar o que quiserem, mas as condições políticas também são muito diferentes. Chega a ser um exagero comparar a situação da Venezuela ao Vietnã. Trump não tem a sustentação política de John Kennedy ou Lyndon Jonhson. Está desmoralizado dentro dos próprios EUA, ameaçado até por um pedido de impeachment.

Se é verdade que as maquinações intervencionistas de Trump são aplaudidas de ofício por governos subservientes na América Latina, dificilmente isto será transformado em ações concretas. Inclusive no Brasil, o parceiro mais importante. Os militares locais já deixaram claro que, assim como a população, não levam a sério o chanceler Ernesto Araújo. Em público e nos bastidores, Araújo é ridicularizado como um alucinado foragido de algum hospício. Um paspalho, em que só alguém como Bolsonaro e Olavo de Carvalho podem acreditar.

Não bastasse tudo isso, China e Rússia estão de olho no que acontece na América Latina. Trump e seu estado maior sabem muito bem disso. Qualquer movimento em falso vai implicar reações cujas proporções a elite americana certamente leva em conta. E não serão pequenas. Nada disso exclui a necessidade de uma saída diplomática para a grave crise que atinge a Venezuela. Nicolás Maduro não é nenhuma Brastemp, mas o ponto de partida para qualquer solução é o respeito à soberania do povo venezuelano sobre seu destino.

Da mesma forma, a campanha em defesa da Venezuela tem que denunciar o boicote do grande empresariado local e internacional no fornecimento de produtos, o congelamento ilegal de bens do governo decretado pelos EUA e o locaute patronal que esvazia as prateleiras dos supermercados como ocorreu no Chile contra Salvador Allende.

Joaquim Xavier

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