Abril foge do mercado de revistas. E vai para a tecnologia errada
Saiu no Valor:
A família Civita (e não a Editora Abril) comprou a Anglo, que produz apostilas e ensina a fazer concurso público.
Por que foi a família Civita e não a Abril ?
Essa é uma pergunta muito complexa.
Decidi recorrer ao David Ogilvy, um mestre da publicidade.
(Clique aqui para ler “A Globo pode calar a boca do Galvão antes de 2014”)
- Por que foi a família Civita e não a Abril, perguntei, assim de lata.
- Porque a família está caindo fora do negócio de revistas – respondeu David, na lata.
- A família Civita vai sair do negócio de revistas ?, perguntei incrédulo. O que diria disso o Victor Civita ?
- Primeiro, que não se controla a descendência, meu filho – filosofou o David.
- Sim, vamos sair da genética e voltar ao PiG (*). Quer dizer, então, que a família Civita vai sair do ramo de revistas ?
- Claro. O negócio murcha.
- Não sobra ninguém ?
- Sim, sobram as revistas de nicho. Ou de grife, como a Economist e a Carta Capital. O resto ... dança.
- E a Veja não é uma grife ?
- Como diz você, o Roberto deixou que transformassem a Veja em detrito de maré baixa.
- Roberto ou Robert ?
- Como você preferir.
- Então ele vai fechar a Veja ?
- Não. A Veja vai ser um canhão. Vai ser usada politicamente.
- E por que a Anglo ?
- A Anglo na verdade é um franchising. Ela licencie sistema de aprendizado sob a forma de apostilas e serviços para quem quer fazer concurso público.
- Ela vende ao Governo ?
- Vende a todo mundo, inclusive a governos municipais e estaduais.
- Mas, esse negócio de vender material impresso não é uma gelada ?
- Claro !
- Daqui a pouco vem a banda larga e que estudante vai ler material impresso?
- Meu caro, o Roberto foi para a tevê a cabo e para a internet. Vendeu a TVA e o Luizinho Frias engoliu ele no UOL. O Roberto não acertou uma tecnologia, fora da que o Seu Victor deixou: fazer revistas.
- E quais são os planos da família Civita para a Anglo ?
- Daqui a pouco eles fazem um IPO. Os sócios antigos caem fora e eles botam dinheiro para dentro.
- E quem vai fazer isso tudo ? O Robert – quer dizer, o Roberto ?
- Não, ele chamou o Manoel Amorim, que era do Ponto Frio.
- Ele não foi da Telefônica, também ?
- Sim, você tem boa memória, rapaz.
- E não foi ele quem levou a Telefônica a comprar a TVA da Abril e dar oxigênio à Abril ?
- Uma mão lava a outra, não é isso ? – sorriu o David, enigmaticamente.
Pano rápido.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.