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A crise do Euro. Alberto dá de 10 a 0 na Urubóloga

Sem dar um tiro, a Alemanha vai fazer o que não conseguiu com a Segunda Guerra, diz Alberto.
publicado 04/03/2012
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O ansioso blogueiro foi tomar café da manhã na Padaria Aracaju, uma das mais importantes contribuições da cidade de São Paulo à culinária brasileira.

Quando não está em Paris, o Farol de Alexandria faz o mesmo.

Na hora de pagar, viro-me para o dono, o Alberto, e reclamo:

– Você desapareceu, nunca mais te vi por aqui.

- Fui a Portugal, visitar a família. Ficamos ali em Vale do Cambra, perto do Porto.

- E como está Portugal ?, pergunto.

- Uma desgraça. As estradas vazias. Os restaurantes vazios. Só sobrevivem os muito caros ou que tenham uma clientela fiel.

- E o que houve ? Por que essa desgraça ?, pergunta o ansioso blogueiro, como se não acompanhasse, febrilmente, as explicações da Urubologa.

- Foi a União Européia.

- Mas, como ? Dizem que ela é ótima !

- Vou te contar uma coisa. Houve uma ruptura em Portugal.

- O que se rompeu?

- A estrutura das famílias. Minha família é da agricultura há séculos. Uma geração após a outra. E isso se rompeu, se dilacerou.

- Mas, o que a União Européia tem a ver com a tua família ?

- Lá em Vale do Cambra tinha uma cooperativa de leite. O meu pai tinha uma vaquinha. Com essa vaquinha ele tirava dez litros por dia, entregava à cooperativa e assim a nossa família se sustentava há séculos. Aí, chegou a União Européia.

– E o que fez a União Européia ?

– A União Européia chegou para o meu pai e disse: não temos como continuar a subsidiar a tua vaca. Meu pai nunca soube que a vaquinha era subsidiada.

– Mas, e o que queria a União Européia ?

– A União Européia chegou ao meu pai e disse: vou comprar toda a tua produção por dez anos, e te pago agora. Mas, com uma condição.

– Que condição ?

– Matar a vaquinha, coitada, a subsidiada.

– E o teu pai topou ?

– Claro: ele não tem um neto que quisesse cuidar da vaquinha.

– O que fazem os netos dele ?

– É tudo economista de banco.

– Ah, entendi. Não sabem produzir.

– Não produzem.

– E a cooperativa de leite ?, pergunto.

– Fechou. Você chega hoje lá na porta e ela está toda coberta de uma erva daninha, que lá se chama de “Silva”.

– Mas, aqui não convém chamar assim … interrompo.

– Não, claro ! É daninha mas dá uma amora muito saborosa. E você sabe o que aconteceu com a fábrica de queijo que comprava da cooperativa do meu pai ?

- Ah!, tinha uma fábrica de queijo ali perto ?

– Sim, aquele queijinho francês, o Bel.

– Sei. E de quem a Bel agora compra o leite ?

– Da Espanha.

– E a Espanha tem leite para consumo próprio e para mandar a Portugal ?, pergunto ansioso.

– Não ! A Espanha tem que comprar da França.

– Caramba ! E isso tudo vai dar em que ?

– Já deu !, diz o Alberto.

– Deu em que ?

– Sem dar um tiro, a Alemanha vai fazer o que não conseguiu com a Segunda Guerra.

– O que a Alemanha vai fazer ?

– Dominar a Europa.

– Mas, como assim, Alberto ?

– Depois de Portugal, a Espanha, a Itália, a próxima é a França.

– E a Grécia ?

– A Grécia fraudou o balanço para entrar no Euro. Todo mundo sabia que aquilo era uma mentira, mas de mentira em mentira todos ganharam dinheiro !

– E Portugal ?

– Portugal era um país de poupadores e virou um país de gastadores. A União Européia chegou lá, deu  um cartão de credito a Portugal e o português saiu a gastar. Como quem ganha 10 não pode dever 11, Portugal quebrou.

– E, Alberto, por que você não volta lá e compra Portugal ?

– Não há o que comprar.

Pano rápido

Navalha

Não é melhor que dez edições do Bom (?) Dia Brasil, amigo navegante ?

Paulo Henrique Amorim