CPI que interessa é a da Privataria
O noticiário do PiG (*) sobre a CPI desta terça-feira ignorou que um Senador da República e ex-Presidente da República entrou com seis representações judiciais contra o Procurador Geral da República.
Isso não tem a menor importância.
Durante os debates na CPI, também não houve qualquer referência à bomba que neste fim de semana desabou sobre o Supremo Tribunal federal: um de seus membros é acusado de desviar recursos de uma empresa, sonegar o Imposto de Renda e levantar R$ 8 milhões, assim, de uma hora para outra, para abafar um litígio que corria em segredo de Justiça.
(E, numa boa, o acusado participa de um seminário sobre “liberdade de imprensa” com o patrocínio da Globo: é como se o Ustra fosse convidado pela Globo para um seminário sobre Direitos Humanos.)
O alto escalão da Justiça brasileira está envolta em suspeitas que vão da prevaricação à sonegação de impostos.
Ao mesmo tempo em que um desembargador - http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/06/provas-contra-cachoeira-sao-ilicitas-diz-relator-de-habeas-corpus.html - tenta anular precisamente as provas obtidas na Operação Marco Polo, Operação em tela na sessão da CPI.
Nada que surpreenda.
No Brasil, como se sabe, não é que rico não vá preso: rico não pode ser, sequer, investigado.
Daniel Dantas recebe dois HCs Canguru, apesar do vídeo incriminatório no jornal nacional.
O STJ tenta anular a Castelo de Areia, que bate nos calcanhares dos tucanos de São Paulo.
O STJ tentou – até que o Supremo reveja a estarrecedora decisão – anular a Satiagraha, sempre com o mesmo argumento: anulação das provas.
É assim: contra rico não se pode nem denunciar.
Se chegar na marca do pênalti, anulam-se as provas.
E a CPI do Cachoeira a dormitar entre a retórica hipócrita do Catão dos Pinhais e a serenidade inútil do relator Odair Cunha, devidamente engolido pelo Perillo.
Nada na CPI, nada no PiG.
Porque, como diz o amigo navegante, existia naquela sala uma mórbida atração pelos repórteres do PiG.
Aparentemente, o único que não corteja o PiG é o Collor – já o conhece de sobra.
Collor chama a Veja e seu diretor em Brasília de cúmplices do crime.
Descreve como o diretor da Veja em Brasília operava como “trader” de informação entre o Ministério Público e o crime organizado.
E ninguém diz nada – no PiG e na CPI.
Quem também não disse nada foi a bancada do PC do B e do PSB.
Entraram mudos e mudos saíram da sala.
Nem para defender o Presidente Lula.
Quanto mais para apoiar o Collor ou dar vitamina ao Odair.
Que mistério aí se esconde ?
Como se comportarão nesta quarta-feira, com o Agnello ?
É óbvio que tem caroço no angu da casa que o Perillo vendeu.
Ele não sabe a quem vendeu a casa.
Mas, se sabe que o Carlinhos Cachoeira lá morava, lá armazenava os grampos, e lá foi preso.
(Até que o desembargador de Brasília o solte, a tempo de passar a Noite do Dia dos Namorados na casa …)
Mas, se a Polícia Federal, sempre tão eficaz, não consegue estabelecer a relação entre a casa e o crime organizado, não haveria de ser o Odair Cunha.
Mas, a casa do Perillo não é o que justifica uma CPI.
Esta é a CPI do mensalão.
Do Ernani de Paula , que ajudou a TV Record a melar o mensalão.
Esta é a CPI do PIG, da Veja, do Robert(o) Civita e do Policarpo.
Já que jornalista bandido bandido é.
Essa é a CPI da Globo, que peitou o vice presidente da República e avisou: se falar em Veja significa imprensa, se falar em imprensa significa Globo .
E os filhos do Roberto Marinho – eles não tem nome próprio – tem razão: o Leandro Fortes na Carta Capital achou as pegadas da Globo no crime organizado.
Essa é a CPI do Gurgel, que se sentou em cima das operações que incriminavam o Demóstenes.
(E o Agripino Maia, dr Gurgel ? )
Agora, essa não é a CPI que interessa.
A CPI que interessa é a CPI da Privataria.
O Carlinhos Cachoeira perto do Daniel Dantas é o Neymar perto do Messi.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.