jn: recheio insosso entre novelas da Globo
Como se sabe, o ansioso blogueiro já dizia: sem a novela das sete antes e a das oito depois, o jornal nacional tem a audiência do Programa da Fátima.
Esta é a obra do Gilberto Freire com i (*) na Globo Overseas - clique aqui e aqui para ler sobre a queda retumbante de audiência do jn.
O Conversa Afiada reproduz post de Fernando Brito no Tijolaço, com referência ao artigo de Nirlando Beirão, extraído da Carta Capital:
Nirlando Beirão: Kamel tornou jornalismo da Globo recheio insosso entre novelas
A queda dos índices de audiência do jornalismo de Globo salta aos olhos, mesmo antes que o instituto alemão GfK, contratado por suas concorrentes para medir a audiência das tevês ponha fim ao monopólio dos números do Ibope, parceiro global de longa data nesta atividade, à base da qual se fixam as tabelas de publicidade nas emissoras.
A maior máquina de jornalismo, com muitos dos melhores profissionais do país e recursos quase infindáveis de trabalho, em poucos anos, uma decadência visível a todos.
É verdade que o processo de enfraquecimento do Jornal Nacional, carro-chefe do jornalismo da emissora vem de antes.
O programa onde o que não aparecia “não tinha acontecido” chegou à virada do século com perto de 40 pontos de audiência, na média.
Hoje, mal se sustenta numa média de 25 e há dias em que chegou a apenas 18 pontos.
Será que se pode dizer que foram a internet e a tevê a cabo que fizeram minguar tanto o JN?
Um parte, sim.
Mas não tudo. E a pista para demonstrá-lo está no próprio “perfil comercial” com que a Globo descreve a audiência do Jornal Nacional:
“Em São Paulo, 75% dos telespectadores do Jornal Nacional são das classes ABC; no Rio de Janeiro, 69%; e no Distrito Federal, 70%.”
Ou seja, os grupos sociais que têm acesso a internet e tevê a cabo seguem fortemente majoritários.
As novelas também perderam, mas muito menos.
E Nirlando Beirão, cobra criada do jornalismo aponta, na CartaCapital: não adianta dizer que a queda do JN é resultado de novelas mais fracas em público.
Talvez, quem sabe, o público tenha se cansado de lhe dizerem, todos os dias, há dez anos, que o Brasil vai mal e ficará pior ainda.
Sanduíche à moda da Globo
por Nirlando Beirão
Sempre revolucionário – sem mencionar outros atributos seus, como a blindada imparcialidade, o apartidarismo irrestrito e o compromisso em defender os interesses da nação, e não os do casa –, o jornalismo da Globo inverteu a lógica do sanduíche, segundo a qual o recheio deve ser mais saboroso do que as peças que o contêm.
O Jornal Nacional, sob a expertise do chef Ali Kamel, decretou, voluntariamente ou não, outro método de degustação. As novelas das 7 e das 9 é que falam hoje ao apetite – peculiar que seja esse apetite – do telespectador. O JN virou apenas um entremet muito do insosso entre um melodrama e outro.
O Ibope, a quem não se pode atribuir propósito de prejudicar a Globo, indica que a plateia do JN minguou em 30% nos últimos dez anos. Na esteira do show produzido em conjunto pela Globo e pelo Supremo Tribunal, o carro-chefe do jornalismo platinado mergulhou recentemente em inéditos 18 pontos de audiência. Um recorde.
Em prol dos imperativos comerciais (a publicidade brasileira é a última adepta do JN), o jornalismo da Globo inverte mais uma vez a realidade e tenta atribuir às novelas – a que a precede e a que a sucede – a culpa pelo desastre de público. Mas está na cara que, dos vilões que o JN operosamente fabrica, nenhum tem a mesma graça perversa, por exemplo, daquele Félix de Amor à Vida.
Haverá quem queira tributar os tropeços do JN a detalhes menores como, digamos, a credibilidade. Bobagem: credibilidade nunca foi o forte da Globo, mesmo antes do Ali Kamel.
(*) Ali Kamel, o mais poderoso diretor de jornalismo da história da Globo (o ansioso blogueiro trabalhou com os outros três), deu-se de antropólogo e sociólogo com o livro "Não somos racistas", onde propõe que o Brasil não tem maioria negra. Por isso, aqui, é conhecido como o Gilberto Freire com ï". Conta-se que, um dia, D. Madalena, em Apipucos, admoestou o Mestre: Gilberto, essa carta está há muito tempo em cima da tua mesa e você não abre. Não é para mim, Madalena, respondeu o Mestre, carinhosamente. É para um Gilberto Freire com "i".