O que exatamente dizem os Odebrecht sobre a CartaCapital
O Conversa Afiada reproduz nota de esclarecimento da CartaCapital:
A tentativa de acusar a revista CartaCapital de ser beneficiária de um esquema de corrupção ou de ter recebido dinheiro de maneira indevida não se sustenta nos fatos. Detalhes dos depoimentos de Marcelo e Emílio Odebrecht à Justiça corroboram o teor da nota “CartaCapital: a verdade sobre o dinheiro da Odebrecht” publicada em dezembro, quando o assunto foi tratado pela primeira vez por meios de comunicação, e republicada na quarta-feira 12. Nos depoimentos, fica claro que o “empréstimo”, na verdade um adiantamento de verba publicitária, era uma prática corriqueira da construtora. Reforçamos: trata-se de um expediente comum no mercado.
É a enésima tentativa de macular a imagem de CartaCapital. Desde seu lançamento, em 1994, a revista é vítima de ataques canhestros, típicos de um país que não conhece o significado de democracia e diversidade de opinião. O fato de remarmos contra a maré, de nos dedicarmos diariamente em oferecer um contraponto ao pensamento único e, portanto, de expor em praça pública a facciosidade de outros meios de comunicação nunca foi perdoado. Como no passado, esse tipo de emboscada não nos intimida. Ao contrário. Só fortalece a nossa convicção de estarmos no caminho certo e de quanto essa posição independente e crítica incomoda.
Não deixa de causar estranheza o interesse seletivo, quase obsessão, como se verifica nos vídeos, dos investigadores. Em mais de um momento, Marcelo e Emílio Odebrecht reafirmam que esse tipo de era corriqueiro e realizado com diferentes empresas jornalísticas. Em nenhum momento os interregoadores se interessam em saber quais outros meios de comunicação foram contemplados pela construtora. O objetivo, parece, era tão somente arrancar informações que pudessem ser usadas contra a revista, crítica dos excessos da Operação Lava Jato.
O que exatamente disseram Marcelo, Emilio e o executivo Paulo Cesena a respeito da operação financeira?
Por volta do sexto minuto de seu depoimento aos investigadores, Marcelo Odebrecht afirmou: “Era compra antecipada, como sempre a gente fez, em várias épocas. Compra antecipada de espaço”.
Aos oito minutos e quarenta cinco segundos, o executivo volta a reafirmar que adiantamentos para meios de comunicação eram corriqueiros. Ele cita um fundo criado para realizar um empréstimo para o grupo que controla o diário Correio Braziliense, relembra operações de apoio ao antigo Jornal do Brasil e afirma que todos os jornais da Bahia foram contemplados com operações semelhantes. E nomeia A Tarde. “Em geral esses adiantamentos eram convertidos em publicidade. Como fazíamos pouca publicidade, às vezes levava três, quatro anos para compensar”.
Cesena, aos 26 minutos de seu longo testemunho, menciona uma reunião com Manuela Carta, publisher da revista, Mino Carta e Luiz Gonzaga Belluzzo, sócios da editora, para tratar do assunto. Segundo o executivo, nunca se falou que o “empréstimo” tinha sido solicitado pelo então ministro Guido Mantega. Aos 48 minutos e vinte segundos, afirma que nas reuniões subsequentes Manuela Carta “sempre foi muito clara” ao dizer que “não haveria nunca nenhum tipo de interferência editorial”.
Instado a descrever a existência de pedidos semelhantes feitos por outros meios de comunicação, Emílio Odebrecht, por volta do minuto oito de seu depoimento, recorda operações com O Estado de S. Paulo (“várias vezes, começou na época do Júlio Mesquita) e com o Jornal do Brasil. Nos mesmos moldes de CartaCapital?, pergunta o interrogador. “Nos mesmos moldes”, responde Emílio Odebrecht. “Eram dificuldades momentâneas dos veículos. No caso do Jornal do Brasil, quantas vezes... O filho do Britto (Manoel Francisco Nascimento, ex-diretor do JB) inclusive trabalha hoje conosco. Um menino extraordinário... Na área de comunicação”.
Aos sete minutos e cinco segundos, o patriarca havia sido mais claro: “Não quero que você esteja tolhido de dar informações, mas não explore as informações. São coisas diferentes. Sempre foi uma conversa que eu tive com todos. As ajudas sempre existiram, para todos os veículos. O único que não me lembro se teve alguma direta foi a Globo”.
Embora tenha afirmado que o ex-presidente Lula intercedeu a favor da revista, Emílio Odebrecht declarou não ter se sentido pressionado a atender ao pedido. “Neste caso não. Pareceu-me que o Lula falou do assunto para cumprir tabela”. CartaCapital reitera: não houve interferência de terceiros na negociação. Elas aconteceram diretamente entre representantes da construtora e a cúpula da revista.
Antes o Conversa Afiada tinha publicado:
CartaCapital: A verdade sobre o dinheiro da Odebrecht
Como o assunto voltou à tona nesta quarta-feira 12, CartaCapital, ancorada em seu compromisso de transparência e honestidade, explica mais uma vez a seus leitores como se deu a relação comercial com a construtora Odebrecht. A editora, se convocada a tanto, fornecerá todas as informações legais e documentais a quem de direito. Seguem os esclarecimentos:
1. Em 2007 e 2009, a Odebrecht fez um adiantamento de publicidade no valor total de 3,5 milhões de reais a CartaCapital, uma operação normal no mercado. Naquele momento, a revista procurou vários anunciantes em busca de um reforço de caixa. O adiantamento foi negociado diretamente com a empresa por Mino Carta e Luiz Gonzaga Belluzzo, sócios da Editora Confiança, que edita a revista CartaCapital. Não houve interferência de ninguém a nosso favor.
2. O adiantamento foi pago da forma tradicional: por meio de anúncios e patrocínios de eventos. A Odebrecht chancelou vários de nossos seminários regulares intitulados “Diálogos Capitais”, bem como patrocinou a premiação “As Empresas Mais Admiradas no Brasil” em 2009, 2011, 2012, 2013 e 2014. Em 2013, figurou entre os patrocinadores do “Fórum Brasil”, que trouxe o economista Dani Rodrik. No ano seguinte, também patrocinou o mesmo evento, cujo principal palestrante foi Paul Krugman, Nobel de Economia. A editora possui os registros e notas fiscais dos anúncios publicados e eventos realizados.
3. Uma das maiores empresas do País, a Odebrecht regularmente anuncia e patrocina eventos em diversos veículos, entre eles, o próprio O Globo. CartaCapital não sabe e não tem obrigação de saber de onde vieram os recursos do adiantamento da verba de publicidade. Não existe carimbo em dinheiro e trata-se de má-fé acreditar que o investimento na revista saiu de “um departamento de propina” e o aplicado nos demais meios de comunicação tem origem lícita. Além disso, o investimento publicitário da empreiteira deu-se quando não havia nenhum sinal do envolvimento da empresa nas ilicitudes apontadas pela Operação Lava Jato. Lembremos que outros meios de comunicação receberam verbas da Odebrecht em 2016, quando os fatos eram sobejamente conhecidos, nem por isso esses veículos podem ser acusados de conivência com qualquer tipo de atitude da empresa ou de defender este ou aquele interesse.
4. Desconfiamos que o novo vazamento dessa citação distorcida a CartaCapital esteja relacionado ao fato de não termos abdicado do dever jornalístico de apontar os erros e abusos da Operação Lava Jato, além da nossa conhecida postura crítica em relação aos meios de comunicação, em grande medida responsáveis, no nosso entender, pelo clima de caça às bruxas reinante no Brasil. Nossa lisura e transparência, reforçadas semanalmente ao longo dos últimos 23 anos, não serão abaladas por essa classe de ilações.
Manuela Carta é publisher de CartaCapital