Jatinho do Huck não é notícia...
O Conversa Afiada reproduz do Tijolaço, de Fernando Brito:
Estou ainda esperando que algum jornal se interesse pela notícia, dada ontem aqui, que Luciano Huck e sua mulher, Angelica, através de uma empresa de propriedade de ambos, retiraram R$ 17,71 milhões do BNDES para a compra de um jato executivo, de dez lugares, num financiamento para lá de subsidiado, com juros de 3% ao ano.
Verdade que foi um sábado, verdade que é carnaval e a apuração dos jornais claudica.
Mas não é uma fofoca, um “dizem”, um “falaram que”.É notícia na veia.
Os documentos estão explícitos e reproduzo suas imagens abaixo, para quem não acessou os links.
As fontes são a Receita Federal, a Agência de Aviação Civil e o próprio BNDES.
Quer ter ideia se o assunto é jornalístico? Substitua o nome de Huck pelo de qualquer presidenciável.
Empresa de Lula pegou R$ 17,7 mi no BNDES para comprar seu jatinho
Empresa de Alckmin pegou R$ 17,7 mi no BNDES para comprar seu jatinho
Empresa de Bolsonaro pegou R$ 17,7 mi no BNDES para comprar seu jatinho
Empresa de Ciro Gomes pegou R$ 17,7 mi no BNDES para comprar seu jatinho
Empresa de Marina pegou R$ 17,7 mi no BNDES para comprar seu jatinho
E, se fosse a empresa de qualquer um deles, interessaria saber a fonte das receitas para pagar este luxo.Se não são receitas próprias, mas operações cruzadas, de outras empresas, dos próprios ou de terceiros, interessam, quando se trata de alguém que “cogita” governar o Brasil, o que inclui nomear a direção do BNDES.
PP-HUC não é notícia, mas seriam os imaginários PP-LUL, PP-ALC, PP-BOL, PP-CIR ou PP-MAR?
Como profissional de imprensa há 40 anos, ainda me constranjo com este filtro, ainda mais no momento em que o “escândalo” é a preferência nacional, em detrimento do pensamento de fundo sobre a realidade do país.
Não se pode reconhecer autoridade moral na mídia para reclamar das “fake news” e do Facebook, se elas utilizam as “seletive news” de forma descarada. Não é melhor uma editoria censória do que um algoritmo “escondedor”.
Estou longe de pretender créditos ou louros por uma apuração para lá de básica, que não exige senão um acesso à internet para obter a documentação. Muito menos em aumentar os acessos e a publicidade, porque estaria publicando peitos e bundas, em lugar de jatos glamourosos (como, aliás, sobram na grande mídia…)
Meu ofício me ensinou – já mudaram isso, não é? – que jornalista não é notícia e que sua majestade é o fato.
E o fato está lá, escancarado.
À espera de que o algoritmo da mídia o faça virar notícia.