SBTemer! O ladrão do Planalto vem aí
Depois do almoço: cadê o cofrinho que estava aqui? (Crédito: Gazeta do Povo)
O Conversa Afiada publica (como sempre) sereno artigo de seu coUnista exclusivo Joaquim Xavier:
Num belo dia, Silvio Santos entra na sala do presidente da República. Com a voz embargada, diz:
--Presidente, estão querendo me prender. Eu não quero ser preso.
Pego de surpresa pela cena inesperada, o presidente acalma o interlocutor:
--Calma, Silvio. Ninguém vai te prender. Vamos resolver isso.
O diálogo acima foi registrado por uma fonte insuspeitíssima, pois presente à reunião. Detalhe: o presidente na ocasião não era nem Figueiredo, nem temer: era Lula.
Seguiu-se então uma conversa sobre o tema que havia levado Silvio ao Planalto. O banco dele, o Panamericano, repousava sobre um rombo de mais de 4 bilhões de reais. Durante o período em que operou quebrado, pagou religiosamente bônus astronômicos aos executivos e dividendos aos acionistas. O maior destes últimos, Silvio Santos.
O resto da história é notório. Silvio passou o banco adiante sem devolver um tostão. O espeto bilionário ficou cravado nas costas das “colegas de trabalho” e do povo brasileiro.
(Após a audiência, um dos momentos mais cômicos do “jornalismo” oficial. Repórteres disputavam selfies com o animador. Entre um clic e outro, alguns lembraram-se de perguntar a Silvio o motivo de sua presença no Planalto. “Vim convidar o presidente para participar do Teleton”. Os “jornalistas” se contentaram com a resposta e a versão foi estampada em toda a mídia oficial, inclusive por colunistas que se vendem como sérios.)
Para quem conhece um pouco a história de Silvio Santos, nada a estranhar que agora ele se preste a servir de mestre de cerimônias para um bandoleiro infame. Decidiu, informa-se, que temer será o astro de participações especiais em programas do dono do SBT e do Ratinho, aquele que estrebucha contra os “viados”.
Tudo para temer explicar, menos para “os viados”, é claro, a demolição da aposentadoria e esconder das “colegas de trabalho” que a reforma da Previdência transforma as agências do INSS em filiais do IML.
Eis um ofício que Silvio maneja como poucos: a adulação desenfreada dos que estão no poder.
Assim como a Globo, sua rede de TV cresceu à base de favores prestados ao Planalto e adjacências, não importam os inquilinos.
Impossível esquecer as intervenções promocionais criadas por Silvio para maquiar a imagem do ditador Figueiredo, aquele que preferia “cheiro de cavalo ao de povo”.
Será que vem ao caso registrar ter sido durante o governo daquele militar, em 1981, que Silvio criou oficialmente o SBT ao ganhar a concessão de quatro canais?
Como demonstra o episódio com Lula, na época ainda inebriado com a mídia podre, Silvio sempre se lixou para as “colegas de trabalho”. Para os colegas também. Sua fortuna começou a empinar quando deu um golpe em Manuel da Nóbrega para ficar com o “Baú da Felicidade”. Sempre mostrou-se dócil com presidentes, tratados como intermediários de seus negócios.
Chegou a pensar em acabar com os atravessadores e tomar ele mesmo as rédeas do Planalto. Candidatou-se ao Planalto, mas não deu certo.
Por isso mesmo, Silvio nunca gostou de jornalismo, nem sério nem mais ou menos sério. Teria que falar mal de governos. Por motivos escancaradamente financeiros, em alguns momentos aturou gente que tentou se atrever àquilo, mesmo timidamente. Cansou-se da brincadeira depois de ficar bilionário. Atualmente, o jornalismo do SBT é uma troça, para desespero inclusive de alguns profissionais com veleidades informativas que vagam pela emissora tentando pagar as contas no fim do mês. Para cumprir requisitos da lei, que exige um mínimo de horas dedicado ao assunto, Silvio repete programas e “reportagens” durante a madrugada. Tudo calhau.
Alguém pode retrucar dizendo que o convite dourado a um ladrão de carteirinha faz parte da democracia.
Paciência, eles não sabem o que falam. Bom, mas se é exercício democrático levar um golpista ao ar, cabe a pergunta: por que não dar espaço equivalente ao ex-presidente Lula para falar sobre a liquidação da aposentadoria e contestar sua execução anunciada para 24 de janeiro?
Sem uma Ley de Medios, a democracia brasileira nunca será mais do que uma ditadura disfarçada.
Joaquim Xavier