Podcast

Você está aqui: Página Inicial / Podcast / Gorki da UBES quer universidade pública!

Gorki da UBES quer universidade pública!

Ele não é cara pintada, não quer derrubar o Bolsonaro
publicado 23/05/2019
Comments
Gorki.jpg

Gorki: a gota d'água está se transformando num tsunami (Créditos: Circus da Ubes)

PHA: Eu converso com Pedro Gorki. Ele é presidente da UBES, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, e ele é um dos organizadores das manifestações estudantis programadas para o dia 30 deste mês de maio.

Pedro, o que vocês pretendem fazer agora, no dia 30?

Pedro Gorki: A gente pretende repetir a dose e aumentar a dose do que foi o dia 15 de maio. A gota d'água para o povo brasileiro foi os cortes na educação propostos pelo governo federal. E essa gota d'água tá virando um tsunami - o tsunami da educação, tsunami dos estudantes - que vai ocupar, de novo, no dia 30, as ruas de todo o Brasil em grandes protestos contra os cortes na educação, em defesa da escola pública e gratuita, universidade de qualidade, em defesa da pesquisa, da ciência e da universidade.

Então, vamos fazer uma repetição ainda mais bonita e ainda maior do que foi o dia 15 de maio, dia de levar os estudantes pra rua pra defender nossa educação pública.

PHA: Quantos estudantes em quantas cidades se manifestaram no dia 15?

Pedro Gorki: Na nossa contagem, mais de dois milhões e meio em 220 cidades.

PHA: E agora vocês estimam o quê?

Pedro Gorki: Eu acho que a gente coloca, por base, levar de novo esses dois milhões e meio de pessoas pras ruas, né. Ainda não sabemos dizer exatamente quantas pessoas estarão nas ruas, porque o movimento estudantil tem um mapa infinito, né. Então, tem muitas escolas, muitas universidades. Mas o clima que vem pra gente é de muita mobilização, um clima muito positivo.

A agressão que a gente sofreu ontem na Câmara dos Deputados jogou ainda mais gasolina nesse fogo, porque os estudantes não aceitam ficar calados. Não aceitam ser silenciados. E tenho certeza de que faremos grandes e bonitos atos no dia 30 de maio.

PHA: Até que ponto vocês, secundaristas, estão articulados com os universitários da UNE?

Pedro Gorki: Além das nossas entidades serem irmãs - a UBES e a UNE - nossos estudantes também são irmãos. Então, assim como eles lutam pelo direito de permanecer na universidade, a gente luta pelo direito de permanecer na escola e conseguir entrar na universidade, ter essa oportunidade.

Então, a nossa luta tá muito coesa, muito unida, não apenas os secundaristas e os universitários, mas também estudantes com trabalhadores da educação, com os trabalhadores gerais.

É uma luta de muito unidade porque é isso que o momento político nos pede: muita unidade pra conseguir mudar essa realidade tão difícil pela qual nosso país passa.

PHA: A UNE é controlada há algum tempo pelo PCdoB. É o mesmo caso da UBES?

Pedro Gorki: Olha, na verdade, a composição das entidades estudantis, da UNE e da UBES, é uma composição muito plural: desde partidos como PSTU até partidos como o PSDB. Então eu não sei se é tão certo colocar que a UNE é controlada pelo PCdoB - mas o campo do qual fazem parte PSB, PDT, PCdoB e algumas outras forças políticas, alguns coletivos de juventude, são os que dirigem hoje, majoritariamente, as entidades estudantis.

Mas existem vários campos políticos - PPL, PSOL, enfim, vários partidos e movimentos compõem essa pluralidade gigante das entidades estudantis brasileiras.

PHA: Então, eu me permito corrigir depois da sua explicação: não é que ela seja controlada, mas sim que sofre a hegemonia do PCdoB.

Outra pergunta, Pedro: a questão do desemprego, sobretudo entre jovens, é um fator que contribui para a mobilização de secundaristas e universitários?

Pedro Gorki: Com certeza! Nossa luta, socialmente, Paulo, é uma luta por esperança, uma luta por perspectivas. A juventude brasileira, hoje, está desalentada. Enquanto pouco mais de 13% da população brasileira, no geral, está desempregada, a juventude é o dobro desse número: 27% dos jovens brasileiros estão desocupados. São jovens entre 17 e 29 anos.

É a geração nem-nem-nem: nem estuda, nem trabalha, nem procura emprego, porque não têm perspectivas, porque o número de desemprego alarmante da juventude - que, nessa crise, é aguçado ainda mais nos setores mais vulneráveis da sociedade - faz com que a juventude esteja muito perdida, desesperançosa.

Então, a gente, pra lutar contra a depressão, contra o suicídio, pra lutar pela felicidade do povo brasileiro, a gente luta também contra o desemprego entre a juventude, contra os danos dessa reforma trabalhista que atacou o povo brasileiro - especialmente a juventude - e na luta, também, pela aposentadoria. Então, a questão do emprego também é muito urgente, e está também na pauta do dia 30 de maio, porque isso é luta não somente dos jovens estudantes, mas também dos jovens trabalhadores, de todo o povo brasileiro.

PHA: Outra questão: o presidente do Bradesco disse hoje que o ano de 2019 está perdido. Você tem alguma esperança de que haja uma recuperação da economia ainda este ano?

Pedro Gorki: Olha, eu acho que, com a reforma da previdência sendo o principal baluarte da política econômica deste governo, eu acho que a gente não tem muita perspectiva - afinal, a reforma da previdência pode vir a quebrar diversos municípios, especialmente os pequenos municípios do Brasil que dependem quase que exclusivamente, em suas receitas, da previdência social.

Com a bandeira principal do governo, essa pauta polêmica, eu não vejo muita esperança. Mas a esperança que eu vejo é da gente conseguir, inclusive, apontar perspectivas melhores para o crescimento do país, do que, enfim, apontar a reforma da previdência como central.

Infelizmente, hoje, Paulo, pra ser sincero, não vejo uma recuperação econômica tão rápida no Brasil - afinal, essa é uma crise que não é instalada apenas no Brasil, mas em todo o mundo - mas eu espero que, com a gente discutindo em nosso país um projeto de ação, de política econômica, política social, política educacional, política previdenciária, a gente construa um projeto de nação... Para o nosso país ainda conseguir recuperar a economia e, principalmente, que é o principal da economia, resgatar a confiança, a esperança e a felicidade do povo brasileiro.

PHA: A Míriam Leitão, da Globo, assegura que, feita a reforma da previdência, a coisa vai melhorar. Outros empresários acreditam no mesmo. Você acredita que, com a reforma da previdência, a coisa melhore?

Pedro Gorki: Pelos paralelos que se fazem desse projeto de reforma da previdência, do regime de capitalização, com o que existe no mundo - e se a gente ver casos como o Chile, que tem o mais alto nível de suicídio entre idosos - eu não sei, realmente, como um país pode se recuperar sangrando os direitos dos idosos e da juventude...

Então, eu não acredito que a recuperação econômica do Brasil vá se dar com a reforma da previdência, especialmente porque ela atinge, diretamente, as receitas dos pequenos municípios desse país - e nosso país tem mais de cinco mil municípios, muitos deles bem pequenos, e a previdência é o que garante, na maioria desses municípios, a receita da localidade.

Então, eu discordo de Míriam Leitão, discordo dos empresários. Eu acho que tem que existir, e a gente tem que apontar, partindo inclusive da escola e da universidade brasileira, outras perspectivas de crescimento econômico de nosso país que não sejam sangrar direitos ou fazer políticas de austeridade.

PHA: Você disse antes que uma das missões, uma das preocupações do seu movimento é oferecer alternativa, ideias novas. Que ideia nova, por exemplo?

Pedro Gorki: Olha, eu acho que existe uma fórmula que não é nem nova, sinceramente, mas é uma fórmula que sempre dá certo e que no Brasil deu certo: o investimento na educação como perspectiva de criação de saídas para as crises que nosso país enfrenta. Se hoje 99% da ciência do Brasil é produzida na universidade pública, eu tenho certeza que os caminhos pra gente encerrar essa crise tão difícil pela qual nosso país passa também vão partir da universidade, da escola pública brasileira.

Então, o caminho que a gente aponta é o fortalecimento dessa base estruturante da educação, para conseguir desenvolver políticas, desenvolver ciência, inovações, tecnologia, para resolver os problemas que nosso país enfrenta.

PHA: Assim como os caras-pintadas, você pretende derrubar o Bolsonaro?

Pedro Gorki: Eu tenho, às vezes, mais dúvidas se a derrocada do governo Bolsonaro não criaria um clima de instabilidade pior do que já está. Eu acho sinceramente que, pelo caminho que o governo está tomando, a gente nem precisa dar um empurrão pra ele cair...

Então, eu não acho que o movimento estudantil tem como principal pretensão, hoje, a derrocada do governo Bolsonaro, derrotar a base do governo Bolsonaro, trocar de presidente. Ainda hoje, não está centralizado nessa posição. Mas eu tenho certeza de que a nossa política, nossa estratégia, ela tem função, inclusive, de desgastar esse governo, para conseguir, sim, fortalecer nosso projeto de educação pública gratuita e universidade de qualidade.

PHA: Muito obrigado, Pedro Gorki! Foi um prazer falar com você!

Pedro Gorki: Até mais!

Gostou desse conteúdo? Saiba mais sobre a importância de fortalecer a luta pela liberdade de expressão e apoie o Conversa AfiadaClique aqui e conheça!