Podcast com Lindbergh: Lula tinha que ter resistido!
Ouça entrevista exclusiva com o Senador Lindbergh Farias (PT-RJ) em edição especial do Podcast com PHA nesta quarta-feira, 11/IV:
PHA: Eu entrevisto o senador Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro. Senador, o senhor acabou de fazer um discurso no Senado em que disse que aconselhou o presidente Lula a resistir. Quando estava lá entre sexta, sábado e domingo, o senhor disse para resistir e não se entregar. O que o senhor disse para ele?
Lindbergh: Bom, Paulo, queria primeiro dizer assim: eu estive lá no sindicato desde o primeiro momento. Na verdade, depois que saiu aquela decisão do juiz Sérgio Moro, eu estava na sede do PT. Eu fui para o Instituto Lula e ainda peguei o presidente Lula saindo dali. De lá, nós fomos em outros carros, também, para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos.
Primeiro, quero dizer uma coisa pra você: o Lula sai desse processo, na minha avaliação, como um gigante. Se o Moro achava que o dia da prisão do Lula era o dia que ele iria se consagrar, quebrou a cara. Porque a foto no mundo - inclusive na mídia empresarial internacional, New York Times, The Guardian, Washington Post - era a foto do Lula carregado nos braços.
Agora, Paulo Henrique, eu estive numa reunião na sexta à noite - que foi a última reunião que teve, uma reunião que participaram umas oito pessoas - e eu, na hora, falei pra ele: "Presidente, olha, já teve muita ilusão em decisões rápidas do Judiciário. Essa resistência aqui está sendo uma resistência heroica! O Brasil e o mundo inteiro estão vendo!"
Disse: "Presidente, você não está fazendo nada errado! Você não está descumprindo nenhuma ordem judicial. O Moro, quando pediu para o senhor se apresentar até 17 horas - e é claro que o senhor não se apresentou, porque ele tem que pedir para a Polícia prender!" É a Polícia que tem que prender! Ninguém é obrigado a ir se entregar. Então, caberia à Polícia prender. Já tinha declarações da Polícia de que não iria entrar ali, com manifestantes na frente.
O que que eu achava? Eu achava que a gente podia ter levado aquele movimento num crescente até, por exemplo, agora.
Eu falei e ele parou. Ele parou. Ele estava querendo fazer isso...
PHA: E o que ele disse?
Lindbergh: Mas aí vieram os argumentos jurídicos, os advogados novamente, que argumentavam o seguinte: "Olha, é arriscado porque pode ter uma prisão preventiva do Lula". Eu volto a dizer: era a Polícia que tinha que prender, Lula não estava fazendo nada de errado. Não tinha motivos para uma prisão preventiva!
No fundo, tinha uma ilusão desse pessoal de que a gente iria ganhar a ADC hoje (quarta-feira, 12/IV). Uma vitória na Justiça rápida, Lula iria ser solto rapidamente. Eu sei que o objetivo desse Golpe é prender ele até depois da eleição, viu, Paulo Henrique? Querem tirar o Lula da eleição! É claro que a gente vai ter que lutar muito, pressionar o Supremo, falar disso e tal... Mas, veja bem: é isso que eles estão querendo. Então, o que pesou foi essa coisa, a possibilidade de o Moro decretar uma nova prisão, uma prisão preventiva do Lula.
Eu, sinceramente, acho que a gente teria ganho muito mais força, até para criar uma situação em que o Supremo visse a situação de impasse que tem no país.
PHA: Claro.
Lindbergh: A gente poderia estar até agora, entendeu? Dava pra ganhar, porque tinha muito jovem vindo. A coisa cresceu. Não é verdade que a mobilização foi fraca lá em São Bernardo. Foi forte! O último ato lá foi um ato massivo, com muita gente.
Eu sei que no outro dia pela manhã, o dia em que ele saiu, ele encontrou uma pessoa e disse: "Eu queria fazer o que Lindbergh disse aquela hora..."
PHA: Para o senhor ele não disse nada?
Lindbergh: ... mas eu acho que essa visão dos advogados acabou pesando. E eu acho, sinceramente... Eu fico com o coração apertado agora, entendeu, Paulo? Vendo o seguinte: "puxa, eu vejo essa indefinição do poder Judiciário, desse Supremo, como que vai ser, esse jogo, essa pressão da Rede Globo em cima do voto da Rosa Weber..." E eu fico com uma dor no coração porque eu achei que a gente poderia ter ido mais, entendeu? E a disposição dele era essa!
O que faltou é que faltou mais gente
falando isso, entendeu? Sei que o Boulos falou, sei que a Gleisi...
PHA: Quem mais apoiava a sua ideia?
Lindbergh: O Boulos! O Boulos foi o que mais defendeu isso, e a Gleisi também defendia isso... Mas digamos que a opinião do mundo jurídico prevaleceu.
Eu sempre acho que as decisões têm de ser mais em cima da questão política, onde você olha... Eu vejo tanto esse pessoal dizer... Esse pessoal dizia o seguinte: tinha ilusão que o Supremo barrasse o Golpe, que a gente achava que o Moro não ia condenar, que a gente tinha ilusão no TRF-4. Tinha gente que tinha certeza que o habeas corpus, nós íamos ganhar. Acho que tem gente que não entendeu o papel do Judiciário, do Supremo, nesse negócio...
PHA: Mas deixa eu fazer uma pergunta de ordem prática: se ele resistisse até uma decisão do Supremo - e agora nós vimos que o ministro Marco Aurélio adiou e pode adiar de novo o julgamento da ADC - por quanto tempo seria possível aguentar uma resistência ali no Sindicato?
Lindbergh: Olha, pelo menos até hoje eu acho que conseguiria. Porque tinha uma juventude, muita gente indo pra lá. Eu volto a dizer: ao invés do que a gente fez, se tivesse esse clima de impasse - e era um impasse sem Lula descumprir ordem judicial nenhuma, viu? Lula não estaria fazendo nada errado! Porque ele estava em um local onde todo mundo sabia qual era! Quem tem que prender é a Polícia! Ninguém é obrigado a se entregar! A Polícia que tem que prender!
Então, veja bem: eu não tenho dúvida de dizer que essa seria uma atitude que forçaria um pouco mais o Supremo a ter que tomar uma decisão, porque seria um impasse no país, entendeu?
PHA: O senhor diria que o Lula errou?
Lindbergh: Não, o Lula foi... Eu não diria isso, porque o Lula foi um gigante. Rapaz, Paulo, eu estive junto com ele esse tempo inteiro. É impressionante ver a capacidade política dele, a serenidade dele. A vontade de resistir. Então, não dá pra jogar isso no Lula, não. Eu acho que foi mais uma visão jurídica. Quando junta muita gente, muito advogado dizendo pro Lula... Aí é uma pressão que é muito grande, e você... Eu entendi o movimento deles. Eu acho que tinha que ter um movimento muito maior de pessoas, ali, com essa outra linha.
Sim, teve uma outra pessoa que tinha uma linha parecida com a minha, que era o governador Wellington Dias, também.
PHA: Wellington Dias, do Piauí.
Lindbergh. Do Piauí. Estava nessa outra postura. Então, o Lula, eu acho que ele foi gigante, viu? Agora, eu acho que essa opinião desse pessoal todo, na verdade, eu acho que foi uma opinião errada, que levou ao erro.
Era um processo que estava o país, o mundo inteiro olhando ali, Lula cercado por um mar de pessoas. Eu encerro dizendo, volto a dizer: Lula, se ficasse ali dentro, cercado de pessoas, ele não estaria fazendo nada errado, nenhuma ilegalidade. Não estaria descumprindo nenhuma determinação judicial. Volto a dizer: é a Polícia que tem que prender! Eu acho que esse teria sido o caminho correto.