A arapuca do debate da Globo. O problema é a edição
Os debates na televisão brasileira são irrelevantes - para dizer pouco.
E por que ?
Porque os partidos e os candidatos nao confiam na imprensa brasileira e não deixaram jornalistas fazer peguntas, com direito a follow-up.
Candidato não sabe fazer pergunta.
Candidato faz pergunta para responder ele mesmo, na volta.
Quem sabe fazer pergunta é jornalista isento, sério.
Desde que ele tenha o direito a fazer a pergunta seguinte à resposta.
Não adianta um jornalista perguntar sobre a maracutaia da concorrência do metrô de São Paulo e o Serra responder sobre Nossa Senhora da Aparecida.
O jornalista tem que ter o direito de ir para a réplica, o follow up: mas, pera ai, santinho do pau oco ... a pergunta era sobre a carta marcada da concorrência do metrô que o senhor administrou.
Hoje, no Brasil, realizou-se a proeza de tirar o jornalista do jornalismo.
Porque os jornalistas do PiG (*) não prestam.
Para evitar desgaste, os partidos e candidatos desidrataram o debate.
Sobra a edição do debate.
E aí a Globo é imbativel.
Numa boa mesa de edição, a Globo já mudou o rumo de duas eleições, a partir de debates.
O mais recente foi em 2006, quando o Ali kamel produziu sua "finest hour": levou a eleição para o segundo turno do Lula contra o Alckmin, ao mostrar o dinheiro dos aloprados e a cadeira do Lula vazia no debate da Globo.
Ele conseguiu passar a ideia de que o Lula tinha fugido do dinheiro dos aloprados.
Clique aqui para ler "O primeiro golpe já houve. Falta o segundo".
É bom não esquecer que o dinheiro dos aloprados nasce das ambulâncias superfaturadas no Ministério da Saúde do Serra, que tinha o Marcelo Lunus Itagiba e o Barjas Negri - gente finíssima.
E que, no segundo turno, o Alckmin teve menos votos do que no primeiro - uma das proezas do marqueteiro do Serra.
O outro debate que a Globo manipulou foi em 1989, quando Lula e Collor se enfrentaram na véspera da eleição do segundo turno.
Sem direito, como agora, a uma réplica no horário eleitoral gratuito.
(Como é que a Dilma foi cair nessa ?)
O Dr Roberto mandou editar o debate de forma muito precisa: tudo de bom do Collor e tudo de ruim do Lula.
E assim fez a Globo.
Logo em seguida ao resumo do debate - o ruim do Lula e o bom do Collor - , na histórica edição do jornal nacional, Alexandre Maluf Garcia leu um editorial em que dava a entender que votar no Collo significava preservar a jovem democracia de um sapo barbudo furioso.
Está na hora de se livrar do monopólio das pesquisas.
E da Globo.
No enterro do Néstor Kirchner, o presidente Lula podia trazer de volta no avião, para dar uma lida, uma cópia da Ley de Medios.
E ver o que Néstor e Cristina fizeram com o Clarín, que mandava na Argenina muitas vezes menos do que a Globo manda no Brasil.
Quando for melancolicamente para casa no dia 1º de novembro, Serra não descansará.
Montado na UDN de São Paulo e na garupa do PiG (*), Serra vai liderar a campanha do impeachment do Dilma.
A partir do dia 1º.
Seu grande aliado nessa eleição, um quadro que honra a campanha udenista, Roberto Jefferson, já avisou: vai jorrar sangue.
Se depender do Serra, a partir de 1º de novembro, jorrará muito sangue.
Ele será capaz de ir a Nápoles e ver como jorra sangue de San Genaro.
Serra travará uma Guerra "Santa" movida pelo ódio.
Ele não descansará.
Ate mandar a mulher para um convento em Lourdes.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.