ABIN não pode ser militar. Os EUA concordam. O Johnbim, não
Saiu no WikiLeaks da Carta Capital:
Embaixador dos EUA relatou “crise de identidade” da Abin em telegrama
Felipe Corazza
Em correspondência revelada pelo WikiLeaks, Clifford Sobel afirma a seus superiores que a agência é incapaz de se adaptar às “realidades do regime pós-militar”
As correspondências diplomáticas reveladas pelo WikiLeaks já demonstraram, por diversas vezes, o tom de crítica de botequim adotado pelos embaixadores dos Estados Unidos na análise dos países onde estavam sediados. Dessa vez, o site divulga um documento do embaixador no Brasil, Clifford Sobel, comentando a atuação da Abin, a estratégia nacional de defesa e relatando a cobertura da imprensa no caso do “grampo” do telefone de Gilmar Mendes, então presidente do STF. O telegrama, de código 08BRASÍLIA1314, foi produzido em outubro de 2008.
No telegrama enviado a seus superiores no Departamento de Estado americano, Sobel relata o que foi divulgado pela grande imprensa na época do grampo que nunca veio à tona. A informação repassada pelo embaixador baseia-se na leitura das matérias publicadas à época e nas declarações de Mendes e do senador Demóstenes Torres – com quem Gilmar teria conversado na conversa que alegou estar grampeada.
(Como se sabe, jamais se achou o áudio do grampo. PHA)
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Segundo ele, “a Abin, que nunca foi um peso-pesado, agora sofreu um golpe devastador”.
Tal golpe, para Sobel, foi fruto de uma certa “incapacidade da Abin de se adaptar às realidades do regime pós-militar e de achar um equilíbrio confortável entre interesses conflitantes na esfera de segurança do governo brasileiro”. Segue o embaixador dizendo que tal “incapacidade” reduziu o setor de inteligências a “um ator institucional peso-galo”.
O quadro pintado pelo embaixador sobre a área de inteligência brasileira desemboca na ideia fixa dos EUA desde 2001: a “guerra ao terror”. Já tendo feito comentários em telegramas passados sobre a “incapacidade” brasileira de lidar com o terrorismo, Sobel coloca mais essa na conta da Abin: “Junto com a esperança de que a Abin pudesse ter um papel mais robusto na luta contra o terrorismo, a reforma e a renovação na Abin terão de aguardar uma nova liderança e agora podem ser mais do que a agência pode almejar”.
Em trecho ainda mais duro, o embaixador afirma que o país ainda não aprendeu a lidar com a segurança nacional após o término do regime militar. Sem apontar exatamente quais são os líderes que falham em tal tarefa – nem , tampouco, fazer qualquer observação sobre quão maléfico foi para o país o comando dos militares -, o argumento de Sobel aponta no comentário: “A crise de identidade de Abin é em parte um sintoma de um problema maior, a incapacidade dos líderes do Brasil, desde o fim do regime militar, de articular uma estratégia de segurança nacional coesa e confiável que delineie as ameaças que a agência de inteligência do Brasil deveria monitorar”.
O Conversa Afiada concorda com o Embaixador Sobel.
Também acha que o Nelson Johnbim dá a impressão de ser um trêfego.
E que é um incansável defensor da ideologia e da prática que orientaram o regime militar.
Leia, por exemplo, amigo navegante, o que disse o Leandro, na Carta Capital : “Johnbim anistia a Lei da Anistia e, portanto, os militares torturadores, mas não anistia os cabos de 1964”.
Sobre a militarização da ABIN, ou seja, sobre a tentativa de manter a ABIN como extensão do poder militar, leia o que este Conversa Afiada já publicou.
Paulo Henrique Amorim