“O Palocci acertou o veio.”
O motorista de taxi, vestido de corintiano da cabeça aos pés, me pergunta de estalo:
- E o Pimenta, vai ficar preso ?, Paulo Henrique.
- Só um pouco, respondo.
- E aquele médico que agarrava as mulheres ?
- Ah, esse sumiu. Foi agarrar em outra freguesia.
- E aquele banqueiro que o Protógenes não bota ele na cadeia, nunca ?
- Esse não vai preso nunca.
- E o Palocci ?
- O que é que tem o Palocci ?, aí, eu é que pergunto.
- O Palocci acertou o veio, Paulo Henrique.
- O que é que quer dizer isso ... “acertou o veio”.
- Paulo Henrique, trabalhando fica difícil. Muito difícil. Você sabe ...
- É verdade ...
- Trabalhando não dá. Você tem que acertar o veio.
- O que é que é isso ? Que veio ?
- Olha só, Paulo Henrique. O dinheiro tá aí. Olha só – e aponta para fora da janela. Estávamos em Higienópolis, único lugar do mundo em que o Farol de Alexandria se elegeria alguma coisa.
- Tá aí, onde ?
- Aí fora ... Olha só que predião bonito. Ele tá cheio de dinheiro.
- E o “veio” ?
- O veio é o seguinte. Você tem que acertar o veio. O veio é que vai fazer os caras botarem dinheiro na tua conta do banco ...
- Mas, isso não é corrupção ?
- Não, senhor ! Não tem nada de corrupção, ele explica. Se você acertar o veio, o cara vai lá, pega o dinheiro dele – que dinheiro é o que não falta - pega o dinheiro dele e põe na tua conta.
- Mas, como é que o cara tira o dinheiro do bolso dele e põe na tua conta, assim, sem mais nem menos, eu pergunto atônito e perplexo, como diria o Mino.
- Paulo Henrique ... você tem que acertar o veio ... o veio.
- É, pode ser.
- Porque trabalhando tá muito difícil...
Pano rápido
Paulo Henrique Amorim