E quem indicou a Dilma ?
Navegante de longo curso, o Vasco desembarca na Baia Cabralia, onde se instala habitualmente.
( Suspeita-se que o Vasco descenda de um dos dois degradados que Cabral ali deixou, a caminho das Índias.)
O Vasco telefona assustadíssimo.
- O PiG (*) só faz dizer que a Dilma resolveu fazer a faxina no pessoal que o Lula indicou.
- É verdade, Vasco. Você andou em alto mar e perdeu essa parte: parece até que a Dilma vai fazer a faxina no Lula.
- Mas, isso isso é uma maluquice, interrompe ele, indignado !
- Maluquice, não, Vasco. O nome disso é ... Golpe.
- Então, eu tenho uma pergunta a fazer a esse pessoal.
- Qual é, Vasco ?
- E quem indicou a Dilma ?
- Vasco, Vasco, assim você jamais será entrevistado no Roda Morta.
- Você quer dizer ... Roda Viva, aquele programa de cunho essencialmente jornalístico e densamente cultural da TV Cultura de São Paulo ...
- É esse mesmo. O Zé Simão é que chama de Roda Morta. Não sei por quê.
- Ouvi dizer que a Marília Gabriela vai deixar de ser a âncora ...
- É possível.
- O Heródoto já tinha ido embora, não é isso ?
- Sim, ele ousou perguntar ao Cerra sobre pedágios ...
- E vai para o lugar da Marília Gabriela um notável jornalista do PiG (*) ...
- São tantos, Vasco. Quem é o novo âncora que vai dar vida à morta roda?
- Bom, isso já não sei se ele será capaz de conseguir ...
- De quem se trata, Vasco ?
- Aquele que escreveu um livro sobre os jornalistas e o Governo Collor.
- Já sei ! Aquele livro que tem mais de duas dezenas de elogios ao Roberto Marinho.
- Ele mesmo.
- Ele teve uma carreira fulgurante na rádio Bandeirantes.
- Sim, ele fazia boletins radiofonicos de Paris. Lembrou-se o Vasco.
- Inesquecíveis.
- Um pouco fanhoso, mas eternizados no éter. Você tem razão, concordou o Vasco.
- A ancoragem de um programa na televisão há de ser também inesquecível.
- Você se lembra de quando o Ed Murrow levou os Murrow Boys do escritório da CBS em Londres, logo depois da Guerra ?
- Já ouvi falar, Vasco. Não é do meu tempo.
- E aí eles criaram o jornalismo de televisão na CBS ... e o Murrow ancorou aquele programa ... Como é que chamava ?
- O See it Now, tento ajudar.
- Isso ! Tua memória é boa.
- Eu como espinafre, Vasco.
- E foi nesse programa que o Murrow acabou com o macartismo ...
- Mas, o que esse âncora da Cultura tem a ver com o Murrow, Vasco ?
- O Mario Sergio Conti.
- Não conheço. Mas, se não me engano, naquele romance ... romance, O Castelo de Âmbar, o Mino Carta descreve um tipo que se aproxima muito desse âncora e o Mino o chama de "finório".
- Pois, finório ou não, o Conti fará uma revolução no telejornalismo brasileiro, quiça do mundo !
- Caramba !, Vasco. Até que enfim os tucanos da TV Cultura acertaram a mão. É isso?
- Claro ! Enfim, teremos o nosso Murrow.
- Quem será o McCarthy dele ?
- O Lula, o Jango, o Vargas ... E, mais do que todos, a Dilma !
Pano rápido.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.