FHC a Dilma: seja leniente com a corrupção. Ou será derrubada

O Farol de Alexandria brinda os leitores do Globo e do Estadão neste domingo de sol com uma armadilha para a Presidenta.

O título é “David e Golias – Sem leniências (sic), como obter apoio para a agenda necessária ao país ?”

Primeiro, ele tece considerações óbvias sobre a situação dos Estados Unidos e da Europa, na suposição de que só ele tem banda larga e acessa a internet.

Aí, desembarca no Brasil com fel por destilar.

Chama o Brasil de “periferia gloriosa” – o que, no mínimo, é um deboche.

Logo ele, o teórico da eterna dependência.

Depois, duvida que o Brasil seja mesmo capaz de enfrentar o tsunami criado pela crise americana e européia.

O Brasil, portanto, está condenado a ser, sempre, como no Governo dele, uma “gloriosa periferia”, que foi três vezes ao FMI, de joelhos.

FHC, como de hábito, ofende o Nunca Dantes – ele jamais se recuperará dos 10 a 0– que o Governo Lula impôs ao Governo dele.

Chama Lula de “o predestinado”.

Ou será que ele quis dizer “o Iluminado” do Kubrick: aquele que “anestesiou qualquer crítica não só ao sistema, mas as suas partes constitutivas”.

E aí vem a tese.

O Brasil do Iluminado e sua sucessora, segundo FHC, é o Brasil “do grande capital, das estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos e de um conjunto desordenado de atores políticos ... (num) presidencialismo de coalizão no qual troca-se a governabilidade por favores, cargos e tudo o mais que se junta a isso.”

No Governo do Farol, como se sabe, combateu-se furiosamente o grande capital (o Cacciola que o diga); quase vende a Petrobrax (é uma ideia fixa dos tucanos); não entregou os fundos de pensão ao Daniel Dantas; e não comprou votos para aprovar a re-eleição.

Foi um Governo casto.

Imaculado.

E, sobretudo, temente a Deus, como demonstrou na campanha de 2010 o seu afilhado, o Padim Pade Cerra.

E qual é a tese ?

A Dilma tem que deixar roubar.

Se não deixar roubar, não governa.

Ela tem que ser leniente.

Já no Governo sombrio do Farol de Alexandria, um notável filósofo da USP tentou explicar o pacto de governabilidade com o Antonio Carlos Magalhães e o PMDB dessa mesma forma.

Aquela fórmula que o Ciro Gomes (que conhece a alma tucana como ninguém) resumiu assim: o FHC não rouba mas deixa roubar.

O que o FHC quer ?

Leniência.

Que a Dilma deixe aditivar.

Aí, ele engatilha – no PiG (*) - dois mísseis.

Se roubar, ele ataca de UDN de varejo e acusa o Governo Vargas de criar um mar de lama.

Se não deixar aditivar, a Dilma cai, porque perde a governabilidade.

O Farol é esperrrto (é assim mesmo revisor, com muitos erres, para acentuar a esperrrteza), como se diz lá no Rio.

O Maurício Dias, na imperdível coluna Rosa dos Ventos, da Carta Capital, na pág. 18 trata dessa armadilha do Farol.

Impor à Dilma o impasse: ou deixa aditivar ou cai.

Mal sabia o Farol que, neste fim da semana a Datafalha, numa dessas pesquisas em que o Conversa Afiada não acredita, ia manter  popularidade (leia na primeira página) que o FHC jamais teve.

A certa altura do ensaio golpista, o Farol de Alexandria se pergunta “onde está a argamassa ... a guiar-nos para um patamar mais seguro ?”.

Ele não será.

Não fosse o PiG (*), esses tucanos de São Paulo não passavam de Resende.

Em tempo: é nisso o que dá ser gentil com os tucanos. Eles são como o escorpião. Morrem afogados, mas não deixarão de ser, nunca, o que de fato são: golpistas.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.