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Abbas foi à ONU, porque os EUA não são mais os mesmos

O Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, voltou a Ramallah, na Cisjordânia, consagrado.
publicado 26/09/2011
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O Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, voltou a Ramallah, na Cisjordânia, consagrado.

E reafirmou que só volta a negociar se Israel congelar os assentamentos.  

Estados Unidos, Rússia, a ONU e a União Européia – conhecidos como “O Quarteto” – deram um mês de prazo para Abbas voltar a negociar, sem pré-condições.

Israel aceitou.

Abbas, não.

Diante desse novo impasse e do gesto sem precedentes de Abbas – ir direto à Assembléia da ONU, com o apoio da Presidenta Dilma, e pedir o reconhecimento pleno do Estado Palestino –, este ansioso blogueiro não teve alternativa, senão, ligar para a velha conhecida Golda Nair.

O ansioso blogueiro se encontrava com Golda nos fins de semana, em Nova Iorque, quando ia ao Carnegie Deli, na 7ª Avenida, abater o sanduíche de pastrami.

- Golda, tudo bem ? Há quanto tempo ! Tem ido à Carnegie Deli ?

- Claro, sempre !

-  Golda, como você explica que o Abbas tenha ido direto à ONU ? Não parece um gesto por cima dos americanos ?

- Tudo bem ? Pois é ... A Carnegie Deli não muda, o sanduíche de pastrami jamais mudará. Israel não muda, mas o Abbas mudou, respondeu ela, filosoficamente.

- Mas, por que ele resolveu apelar diretamente à ONU ? Por que ele usou essa carta só agora, depois de tanto tempo na batalha diplomática com os Estados Unidos e Israel ?

- Porque os Estados Unidos não mandam mais no mundo.

- O que é isso, Golda ? Logo você que viveu e foi professora nos Estados Unidos. Israel depende tanto dos Estados Unidos ...

- Pois é, meu filho. O Abbas desistiu de esperar pela arbitragem dos Estados Unidos. E a paz no Oriente Médio, até agora, só seria feita com os Estados Unidos.

- O que mudou ?

- Os Estados Unidos.

- Mudou como, Golda ?

- Os Estados Unidos não têm mais bala na agulha. O novo plano de controle de gastos do Obama prevê uma economia de um trilhão de dólares com a saída do Iraque e do Afeganistão.

- E daí, Golda ?

- Os Estados Unidos não têm mais dinheiro para mandar no mundo.

-Mas, como isso afeta os palestinos e Israel ?, pergunto.

- Veja bem, meu filho.  A “Primavera Árabe”. Os americanos saíram correndo atrás, para não ser atropelado. A Turquia rompeu com Israel e era um grande amigo de Israel. Os egípcios, também muito amigos de Israel no tempo do Mubarak,  invadiram a embaixada de Israel. O Irã se tornou a maior potência da região. O Irã é xiita, como a maioria do Iraque ...

- E os Estados Unidos ?

- Os Estados Unidos não têm mais como arbitrar a paz entre os palestinos e Israel. E Abbas foi bater em outra freguesia.

- Que freguesia ?

- A opinião pública mundial, que vai deixar os Estados Unidos e Israel isolados.

- Mas, o compromisso dos americanos com Israel é um compromisso moral inalienável, ponderei.

- Meu filho, Israel é um problema interno americano, um problema eleitoral, nos Estados Unidos, Como os cubanos na Florida. Fidel Castro não tem nada a ver com isso. Nem o Bibi.

- E o Bibi ?

- O Bibi é governado pelos partidos à direita dele, como o Obama é governado pelo Tea Party. Como se houvesse espaço à direita do Bibi Netanyahu ...

- Você quer dizer, Golda, que o Abbas desafiou os Estados Unidos ?

- Claro ! O Obama não queria que ele fosse à ONU pedir o reconhecimento pleno. Deixou o Obama numa saia justa. Como fica o Obama com os países muçulmanos ?, perguntou ela ?

- E Obama e Bibi ?

- O Obama acha o Bibi um desastre ferroviário, como diz o teu amigo Mino Carta.

- E o Bibi ... como fica ?

- O Bibi vai ficar isolado, cercado de inimigo por todo lado. E com um aliado enfraquecido, os Estados Unidos.

- O Bibi vai congelar os assentamentos ?

- Se congelar cai.

- E aí ?

- Os israelenses costumavam dizer que o Yassir Arafat jamais perdia a oportunidade de perder uma oportunidade. O Bibi também.

Pano rápido.

Em tempo: o Conversa Afiada reproduz trecho do discurso de Abbas na ONU :

Confirmo, em nome da Organização para a Libertação da Palestina, o único representante legítimo do povo palestino, que permanecerão assim até o fim do conflito, em todos os seus aspectos e até a resolução de todas as questões do estatuto final, os pontos seguintes:


1. O objetivo do povo palestino é o reconhecimento de seus ​​direitos nacionais inalienáveis em seu Estado independente da Palestina, com Jerusalém oriental como capital, em todas as terras da Cisjordânia, incluindo Jerusalém oriental e Faixa de Gaza – que Israel ocupou na guerra de junho de 1967 –, em conformidade com as resoluções de legislação internacional e com o reconhecimento de uma solução justa e acordada para a questão dos refugiados da Palestina, em conformidade com a Resolução 194, de acordo com o estipulado na Iniciativa Árabe de Paz, que apresentou a solução do consenso árabe para resolver o núcleo do conflito árabe-israelense e alcançar uma paz justa e abrangente. A isso aderimos e é isso que trabalhamos para alcançar. Alcançar a paz desejada também exige a libertação de prisioneiros políticos e detidos em prisões israelenses sem demora.


2. A OLP e o povo palestino aderiram à renúncia da violência e rejeitam e condenam o terrorismo em todas suas formas, especialmente o terrorismo de Estado, e aderiram a todos os acordos assinados entre a Organização de Libertação da Palestina e Israel.


3. Aderimos à opção de negociar uma solução duradoura para o conflito, de acordo com as resoluções da legislação internacional. Aqui, eu declaro que a Organização para a Libertação da Palestina está pronta para retornar imediatamente à mesa de negociações, baseada nos termos de referência adotados com base na legislação internacional e da cessação completa das atividades de colonização.


4. Nosso povo continuará sua resistência popular pacífica à ocupação israelense, bem como à colonização, às políticas de apartheid e à construção do muro de anexação racista, e recebem apoio por sua resistência, o que é compatível com o direito humanitário internacional e com as convenções internacionais, e contam com a ajuda de pacifistas de Israel e de todo o mundo, refletindo um exemplo impressionante, inspirador e corajoso da força desse povo indefeso, armado apenas com seus sonhos, coragem, esperança e palavras de ordem diante de balas, tanques, gás lacrimogêneo e buldôzeres.


5. Ao trazer nossa situação e nosso caso a este pódio internacional, confirmamos a nossa confiança na opção política e diplomática, confirmamos que não tomaremos medidas unilaterais.Nossos esforços não são destinados a isolar ou deslegitimar Israel; queremos ganhar legitimidade para a causa do povo da Palestina. Apenas visamos deslegitimar as atividades da colonização, da ocupação, do apartheid e a lógica da força implacável, e acreditamos que todos os países do mundo estão conosco a esse respeito.



Paulo Henrique Amorim