Antônio T. , um mexicano. Os coyotes e a Polícia Federal
Antônio T. é motorista de taxi exclusivo de um hotel americano em Guadalajara.
- Por que você não foi trabalhar nos Estados Unidos ? , pergunto.
- Porque lá já não há mais emprego.
- Quanto ganhava um trabalhador mexicano no México em comparação com o que ganhava um mexicano nos Estados Unidos ?
- Você ganhava lá num dia o que ganhava numa semana no México.
- E agora não vai mais gente para lá ...
- Não, agora o pessoal volta de lá para ca.
- Mas, é só por causa da falta do emprego ?
- Não, é porque passaram a perseguir mais os "molhados".
- Molhados ?
- Sim, os que entram sem papel e tem que entrar nadando pelos rios.
- E se te pegam sem papel ?
- No Arizona te metem na cadeia, seis, oito meses.
- E na Califórnia ?
- Te mandam de volta, mas não te prendem.
- Quanto cobrava o coyote para te atravessar para os Estados Unidos?
- Mil e duzentos dólares só para atravessar. Porta a porta, 1.500.
- O que é porta a porta ?
- O coyote te deixa na casa do teu parente, na casa em que você vai morar.
- E como é essa casa ?
- Moram uns dez, doze num sala e quarto.
- Você pode pagar o coyote em prestações ?
- Sim, metade antes de entrar e metade depois de um mês de trabalho.
- E se você não pagar a segunda metade.
- Não se brinca com isso, senhor.
Chegamos ao aeroporto.
Peço para esperar com o carro o mais perto possível da porta de saída.
Diz que é proibido.
Mas, ele vê um carro da Polícia Federal estacionado, com dois policiais dentro.
Antônio T. salta. Conversa e volta logo. Apanha alguma coisa no porta-luvas, volta ao carro da Polícia e regressa com um sorriso nos lábios.
- O que você fez ?, pergunto.
- Fui agradecer.
- Como você agradeceu ?
- Com 100 pesos. 50 para cada um.
- E então ?
- Vamos estacionar onde o senhor queira.
Paulo Henrique Amorim