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Santayana: a espionagem no governo FHC

Como muitos outros homens que transitaram pela esquerda na juventude, o presidente se converteu, com a mente e o coração, à direita.
publicado 31/07/2012
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Ficção e espionagem


Os serviços secretos só se justificam na defesa da integridade territorial e política das nações contra seus inimigos externos, sobretudo em tempo de guerra e em situações internacionais de grande instabilidade e perigo. A experiência histórica demonstra, no entanto, que a coleta de informações por esses agentes, mesmo nessas situações, é precária. Os relatórios dos mais importantes serviços do mundo, como os britânicos, norte-americanos e franceses, de acordo com as revelações conhecidas, demonstram que, em sua maior parte, as informações eram absolutamente falsas. No caso brasileiro, costumam ser ridículas as informações dos agentes da ditadura sobre algumas pessoas.

Os agentes precisam mostrar serviço, e, quando não há o que informar, valem-se da ficção, ou se baseiam em boatos, em denúncias absolutamente falsas, de desafetos dos monitorados. Qualquer pessoa que tenha acesso aos registros dos vários serviços secretos, aqui e em qualquer país do mundo, sobre si mesma, encontrará absurdos espantosos. E —  o que é curioso  —  na maioria das vezes, esses serviços não conseguem  registrar as atividades reais dos investigados contra os governos ditatoriais.

Segundo revelou o site Carta Maior, o serviço secreto da União monitorou, durante o governo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, as atividades dos intelectuais e políticos de esquerda que se opuseram à sua adesão ao Consenso de Washington, ao neoliberalismo e à globalização da economia. Na realidade, esses intelectuais, políticos nacionalistas, e militantes de esquerda, se opunham, de maneira clara, transparente, nunca clandestina, à entrega dos ativos públicos, representados pelas empresas estatais, e à desnacionalização da economia e do sistema financeiro, em benefício dos capitalistas estrangeiros.

Foi uma luta de peito aberto, dentro das regras democráticas, mediante documentos públicos, entre eles vários manifestos, como o assinado por personalidades respeitáveis da República, contra a privatização da Vale do Rio Doce, que tive o privilégio e a honra de redigir em Juiz de Fora, no escritório do honrado presidente Itamar Franco.

Como muitos outros homens que transitaram pela esquerda na juventude, o presidente se converteu, com a mente e o coração, à direita. De formação, e profissão acadêmica,  fascinou-se pela inteligência técnica dos jovens economistas que o cercaram no Ministério da Fazenda, e genuflectiu diante de Wall Street. Ele agiu como um arrependido de seus ideais antigos, e saudou o neoliberalismo como uma nova era na História.  Mas  não foram poucos os que se aproveitaram de sua guinada a fim de se enriquecer com o processo.  E há gestos seus que ainda incomodam a muitos de nós  —  como as suas relações muito próximas com alguns banqueiros e sua visível preferência por alguns consórcios licitantes, como no caso do Banco Opportunity.

Descobrimos agora que os serviços secretos não foram devidamente usados durante os oito anos dos tucanos paulistas na direção da República. Em lugar de seguir e monitorar os agentes estrangeiros que agiam em nosso país, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, e de acompanhar as atividades de autoridades brasileiras que colocavam em risco os interesses permanentes da nação, os arapongas investigavam os patriotas brasileiros que defendiam o nosso desenvolvimento autônomo. Nada de espantar: a ditadura aprimorou o incipiente serviço secreto e o transformou no poderoso SNI para se alinhar aos norte-americanos na luta contra os comunistas, dentro do maniqueísmo da Guerra Fria. Como não há mais comunismo a combater, foi preciso encontrar outra causa, a causa dos novos liberais.

Teriam feito melhor  se houvessem investigado como foi o enriquecimento rápido e tranquilo de alguns daqueles que participaram do processo de privatização. Teriam feito melhor se houvessem acompanhado a evasão de recursos mal havidos, como os bilhões que atravessavam a fronteira do Paraguai, em caminhões fechados e autorizados, por portaria do Banco Central, para o ir e vir, sem a devida fiscalização da Receita Federal, em uma evasão calculada em 80 bilhões de dólares. Teriam, se assim agissem, justificado seus vencimentos, suas diárias, seus privilégios funcionais, na defesa dos interesses permanentes do nosso povo. Atuando, como atuaram, sob a ordem direta, ou não, do presidente da República, eles se aliaram aos inimigos de nosso povo, que hoje estão sendo internacionalmente desmascarados, com a revelação de que a maior quadrilha de gângsteres da História se encontra no conglomerado de Wall Street.