Dirceu em Guantánamo
Vamos supor que o viajante no mesmo voo para Brasília tenha razão.
E que a Globo Overseas conseguiu: o Supremo dedicará ao Dirceu o mesmo tratamento que a Justiça americana – que os colonistas (*) pátrios têm na conta de exemplar - dispensa aos prisioneiros em Guantánamo.
(Clique aqui para ler “Era uma vez a dupla jurisdição”; “O Supremo já teve coragem”; e “Janio critica Barroso – ué, ele não é Juiz ?")
Sim, a Globo Overseas concorda com os americanos: Dirceu também é uma ameaça às instituições.
Instituições sagradas como a Receita Federal, por exemplo.
Um inimigo do regime – do regime escravocrata e suas sequelas.
Dirceu é o Oppenheimer da bomba que fez desmoronar a Big House: que abriga, o PRP, a UDN e, provisoriamente, o PSDB paulista.
Dirceu não passa de um afegão com pós-graduação em Cuba.
Vamos supor que o amigo viajante tenha razão.
E que os embargos infringentes sequer sejam aceitos, diante de irremovível opinião do Ministro decano Celso de Mello.
Segundo o Ataulfo Merval de Paiva (**), os dois conversaram longamente – viva o Brasil ! -, nesta quarta-feira, logo após a sessão do Tribunal.
É exatamente isso o que o amigo navegante acaba de ler.
O Ministro decano do Supremo conversou ao telefone com o mais radical dos colonistas do PiG (***), autor de um livro – um fracasso de vendas – sobre suas reflexões a respeito dos embargos infringentes.
E não pediu que a conversa fosse em off.
Assim, à luz o sol.
O Ministro Celso de Mello, neste mesmo julgamento, já defendeu os embargos infringentes – clique aqui para ver “por que serão aceitos”.
Mas, no inacreditável telefonema a um jornalista (sic) de solar parcialidade, o Ministro admite que, agora, precisa “refletir”.
Ou seja, o Supremo brasileiro não dará a Dirceu mais do que se estivesse em Guantánamo.
O amigo viajante não tem esperanças.
Dirceu ficará em Guantánamo.
O que, segundo o viajante, para Dirceu, no fundo, no fundo, vai fazer pouca diferença: Dirceu é um político profissional, tem lado e História: quando sair de Guantánamo continuará o mesmo.
E combaterá os que o condenaram – como combaterá os escravistas da Big House.
É o que faz desde 1968.
Mas, o viajante se pergunta, aí, sim, desconsolado: e você, e o outro e o cidadão, o Zé Mané do botequim ?
Que segurança jurídica terá, com os critérios para condenar o Dirceu: “o domínio do fato”, a morte do Martinez, o dinheiro que não é publico da Visanet, a verdade é uma quimera, as provas são tênues …
Diz o viajante: não terá segurança nenhuma.
O ansioso blogueiro pensa com seus botões e os do Mino Carta.
Não, se o cidadão morar na Big House, defender a escravidão (com sofismas, claro); os cartéis; a Privataria; a Lei “Leona Helmsley” - quem paga imposto é pobre; apoiar o monopólio da comunicação com o argumento do “o conteúdo é sagrado” – esse cidadão não tem nada a temer.
A Lei o protegerá, como sempre.
A Lei que condenou o Dirceu só foi Lei porque era para condenar o Dirceu.
Não se aplica ao Cerra, ao Aécio Land-Rover nem ao Fernando Henrique “eu tenho um probleminha que é aquela fazendola em Minas”.
E muito menos ao Ricardo Sergio de Oliveira “se isso der m...”.
Para esses, o Código Penal está imaculado.
Resistiu ao estupro que ora se presencia, ao vivo.
A dupla jurisdição prevalecerá.
E o BV da Globo Overseas é intocável.
Como a compra da reeleição do FHC.
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
(**) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse . Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos, estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance "O Brasil".
(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.