Ataulfo não engoliu o Chico Buarque até hoje
Saiu no Globo, da Globo Overseas Investment BV, que acaba de tomar (um) ferro da Receita Federal, na colona (*) do Ataulfo Merval de Paiva (**):
(…)
Falando (sic) grosso
Deve ter sido a decisão mais fácil já tomada pela presidente Dilma o adiamento da visita aos Estados Unidos. Veremos, na próxima reunião da ONU, Obama e Dilma em conversa amistosa, enquanto a presidente brasileira defende nossa soberania diante do mundo, e isso certamente caiu do céu para o marqueteiro João Santana.
De concreto mesmo, essa bravata nacionalista não trará benefício algum, a não ser agradar a certa camada do eleitorado que leva a sério essa simulação de confrontação, como se tivéssemos ganhado alguma vantagem geopolítica em toda essa trapalhada (sic) internacional.
É verdade que a primeira visita de Estado do segundo mandato do presidente Obama poderia ter um simbolismo político importante, como ressalta a nota oficial do governo americano, mas tinha ao menos um aspecto constrangedor: haveria até mesmo a dança de uma valsa no jantar de gala. Houve o cuidado de usar o termo "adiar" em vez de “cancelamento" que seria ato diplomático mais incisivo. Para governantes da América Latina, é sempre recompensador em termos eleitorais brigar com os Estados Unidos, e grosso com a Bolívia, afinal, é o que se esperava de Dilma desde que a definição de nossa política externa foi dada no Teatro Casa Grande por Chico Buarque, na campanha presidencial de 2010: não importa que se fale fino com a Bolívia desde que se fale grosso com os Estados Unidos.
Em resumo, a Dilma deu um Golpe de Mestre.
E a resposta completa a Obama ela dará na ONU, quando assumir a liderança de uma batalha em defesa da neutralidade e da segurança na internet.
Uma batalha do interesse de todos – em qualquer parte do mundo.
Lula lançou no púlpito da ONU a defesa de mecanismos institucionais para defender os pobres.
Dilma lança outra, também de dimensões globais.
Além disso, ela vai aproveitar para rever todo o esquema de segurança e criptografia do Governo central.
Note-se que as observações mervalianas coincidem exatamente com o que diz o principal (até agora) candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Never: que foi puro marketing.
Como se sabe, o PSDB não pensa.
O PiG pensa por ele.
O PiG é o que resta do PSDB.
Como se sabe também, Ataulfo faz parte daquele seleto grupo de jornalistas brasileiros que, segundo o WikiLeaks, ia à Embaixada brasileira analisar os acontecimentos políticos tropicais.
Como se isso aqui ainda fosse um imenso Portugal.
Ataulfo fala fino com os Estados Unidos.
E grosso com o Dirceu.
Por enquanto.
Ataulfo prefere o Caetano ao Chico.
Paulo Henrique Amorim
(*) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
(**) Ataulfo de Paiva foi o mais medíocre – até certa altura – dos membros da Academia. A tal ponto que seu sucessor, o romancista José Lins do Rego quebrou a tradição e espinafrou o antecessor, no discurso de posse. Daí, Merval merecer aqui o epíteto honroso de “Ataulfo Merval de Paiva”, por seus notórios méritos jornalísticos, estilísticos, e acadêmicos, em suma. Registre-se, em sua homenagem, que os filhos de Roberto Marinho perceberam isso e não o fizeram diretor de redação nem do Globo nem da TV Globo. Ofereceram-lhe à Academia.E ao Mino Carta, já que Merval é, provavelmente, o personagem principal de seu romance "O Brasil".