O Fanfarrão Minésio, governador de MG
O Conversa Afiada reproduz imperdível - e o C Af também é cultura ! - colaboração de amigo navegante que tem "o rei dos peraltas" na mira !
Eu sabia que seu epíteto para o Aecim, o fanfarrão, me lembrava alguém. Achei: o Fanfarrão Minésio. Foi assim que Tomás Antônio Gonzaga batizou o infausto governador de Minas, Luís da Cunha Meneses, em suas “Cartas Chilenas”, pouco antes da Inconfidência. As coincidências são notáveis. O Fanfarrão Minésio gostava de cobrar imposto dos pobres (o ICMS de Minas para energia é o mais alto do Brasil), distribuía boquinhas pros amigos, era um farrista metido a santarrão, um fingido, e mandou fazer uma cadeia que era um prédio faraônico para a época (que nem o Palácio Tiradentes na Cidade Administrativa do Aecim, que está afundando). O Fanfarrão não gostava de críticas, e por isso Gonzaga teve de criar um universo paralelo: Minas era o “Chile” e Vila Rica. “Santiago”. Na imprensa mineira de hoje, controlada por dona Andréa Neves, nem universo paralelo existe.
Pede uma pesquisa aí que você vai adorar:
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/TomasAntonioGonzaga/cartaschilenas.htm
1ª Carta - Entrada de Fanfarrão em Chile (isto é, a chegada do governador Cunha Menezes em Vila Rica)
2ª Carta - Fingimentos no início para aos poucos centralizar todos os negócios
3ª e 4ª Cartas - Injustiças e violências de Fanfarrão por "causa de uma cadeia"
5ª e 6ª Cartas - Desordens nas festas de casamento de Fanfarrão
7ª Carta - Sobre as decisões arbitrárias de Fanfarrão
8ª Carta - Corrupção em vendas de despachos e contratos
9ª Carta - desordens no "governo das tropas"
10ª Carta - "desordens maiores que fez em seu governo"
11ª Carta - "brejeirices" do governador
12ª Carta - imoralidade e atos prepotentes de Fanfarrão em prol de seus protegidos
Prestenção nesses versos:
Tem pesado semblante, a cor é baça,
O corpo de estatura um tanto esbelta,
Feições compridas e olhadura feia;
Tem grossas sobrancelhas, testa curta,
Nariz direito e grande, fala pouco
Em rouco, baixo som de mau falsete;
Sem ser velho, já tem cabelo ruço,
E cobre este defeito e fria calva,
À força de polvilho que lhe deita.
Ainda me parece que o estou vendo
No gordo rocinante escarranchado,
As longas calças pelo umbigo atadas,
Amarelo colete, e sobre tudo
Vestida uma vermelha e justa farda.
De cada bolso da fardeta pendem
Listradas pontas de dois lenços brancos;
Na cabeça vazia se atravessa
Um chapéu desmarcado; nem sei como
Sustenta só do laço o peso.
Ah! tu, Catão severo, tu que estranhas
O rir-se um cônsul moço, que fizeras
Se em Chile agora entrasses e visses
Ser o rei dos peraltas quem o governa?
Um abraço do internauta que curte literatura setecentista.
Em tempo: o nome completo de certo sucessor de D. Luís da Cunha é Aécio Neves ... da Cunha. - PHA