Singer: o “lulismo” vai durar
O programa Entrevista Record Atualidade, que vai ao ar nesta sexta-feira, na RecordNews, às 22h15, logo após o programa do Heródoto Barbeiro, apresenta André Singer, cientista político, professor da USP e ex-porta-voz do Presidente Lula, autor do livro “Os sentidos do lulismo – reforma gradual e pacto conservador”, editado pela Companhia das Letras - http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30177784&google&id=14782&gclid=co2oynvxtbicfqsxnqod-tuadw.
Singer sustenta que, a partir do segundo mandato, em 2006, o Presidente Lula provocou um realinhamento político que pode durar por muitos e muitos anos, como aconteceu com a eleição do Presidente Franklin Roosevelt, em 1933, nos Estados Unidos.
Como em Roosevelt, até a oposição terá que se orientar pelo eixo central da política de Lula: os programas sociais que atendem às necessidades do que Singer chama de subproletariado: os que recebem por até dois Salários Mínimos por mês.
Essa política se caracteriza pelo aumento real do Salário Mínimo e programas como o Bolsa Família, o PAC, o Minha Casa Minha Vida, e o crédito consignado, que vinha do primeira mandato.
Metade da População Economicamente Ativa em 1976 era formada por subproletários, segundo estudos do pai de André, o respeitado economista Paul Singer.
Ainda hoje, em 2012, a proporção de subproletários no conjunto da PEA deve ser a mesma, supõe André.
Lula teria percebido isso, quando perdeu a eleição para Fernando Collor, em 1989.
Em entrevista a que o próprio André Singer compareceu, como repórter, Lula, logo após a derrota, disse que o seu objetivo dali para a frente deveria ser atingir quem vive de salário minimo, porque o empresário não vai votar mesmo nele.
O PT sempre tinha sido um partido que se apoiava na classe média.
O subproletariado votou em Collor.
Mas, só em 2006, Lula e o PT aprofundaram essa aliança com o subproletariado.
Com os mais pobres.
O que explica a votação e o apoio de Lula e Dilma Rousseff nas regiões mais pobres, como o Nordeste, e os bolsões do Rio e de Minas.
Para fazer esse “realinhamento”, segundo Singer, Lula arquivou o radicalismo do PT do “Sion”, do Partido que se fundou no Colégio Sion, em São Paulo, em 1980.
Era um PT quase-socialista.
Com o tempo, prevaleceu o PT do “Anhembi”, onde se deu a Convenção de 2002, quando Lula assinou a “Carta aos Brasileiros”, em que se comprometia a seguir a política econômica ortodoxa de Fernando Henrique e a “respeitar os contratos”, ou seja, não ia rasgar a Privatização.
Lula e o PT teriam percebido que o subproletariado quer que o Estado o proteja, mas não quer saber de ruptura, instabilidade política ou greves.
Por que ?
Porque o subproletariado é o mais desprotegido politicamente.
Ele não tem sindicato, não tem que se apoiar diante de uma instabilidade política aguda.
Lula passou, então, depois de 2006, a adotar uma política de “reformismo fraco” e “desmobilizador”.
Esse “reformismo fraco” explicaria por que Lula conseguiu andar mais rápido no aumento da renda dos pobres e mais devagar na redução da desigualdade de renda entre os ricos e os pobres.
Porque o “fraquismo” permitiu que os ricos continuassem a ganhar muito dinheiro
(Nesse ponto, o ansioso blogueiro se lembrou de frase atribuída a Alzirinha, filha e secretária de Vargas: quando ouço dizerem que meu pai é o Pai dos Pobres, dá vontade de dizer … e a Mãe dos Ricos.)
“Reformismo fraco” não significa “despolitizar” - enfatizou Singer.
Lula aprofundou o embate político entre o “rico” e o “pobre”.
O que não tem muito a ver com “direita” e “esquerda”.
E quando o subproletariado melhorar de vida ? – ele vai virar conservador e deixar de votar no PT do Lula e da Dilma, perguntou o ansioso blogueiro.
O subproletarido vai ser fiel, enquanto o PT respeitar a agenda que Lula impôs: defendê-lo.
Paulo Henrique Amorim