Bláblá: de 3ª. via não tem nada. É a 2ª. mesmo !
O Conversa Afiada reproduz aguda analise que se origina no site do ex-Presidente da Câmara, João Paulo Cunha:
O Brasil e seus dois caminhos: Marina não é a terceira via
A um mês do primeiro turno a eleição presidencial brasileira está polarizada entre Dilma e Marina, empatadas em primeiro lugar. Essa comprovação se extrai das últimas pesquisas tanto do Datafolha (35% Dilma e 34% Marina) como o Ibope (37% Dilma e 33% Marina).
A candidata do PSB iniciou sua participação na disputa já de um patamar alto, acima de 20% e, anabolizada pela comoção em torno da morte de Eduardo Campos, não teve dificuldade para subtrair mais de um terço do eleitorado de Aécio Neves, que se encontra em processo de fritura e abandono pelos próprios tucanos e aliados (14% no Datafolha e 15% no Ibope). Para superar os 30% Marina, conquistou também quase metade dos eleitores indecisos ou que votariam branco ou nulo. A rigor, seu crescimento, até aqui, não se deu em cima do eleitorado de Dilma, que se mantêm em torno de 35% há vários meses.
Entretanto, como Marina é a bola da vez, recebendo todas as atenções da mídia e dos eleitores, ela pode subir ainda mais, aproveitando o sentimento de mudança que é majoritário entre os brasileiros, em maior ou menor escala. Como o número de indecisos e dos que dizem querer anular ou votar em branco foi reduzido para 13% no Datafolha e 12% no Ibope, muito pouco daqui será possível recolher. Portanto, para Marina continuar a crescer, terá que entrar ainda mais no eleitorado de Aécio que, neste caso, viraria pó. Ou então conquistar parte do eleitorado de Dilma, o que é menos provável, dado que a candidata do PT está no seu piso mínimo de intenções votos, que reproduz fielmente o mesmo número de eleitores que dizem aprovar o seu governo (36%no Ibope e no Datafolha).
Então, se o PSDB conseguir segurar Aécio na casa dos 15% que tem hoje, a tendência é que o quadro eleitoral se estabilize com a manutenção da polarização entre Dilma e Marina na disputa pelo primeiro lugar, ambas procurando subir de 35% para 40%. Assim, o último mês do primeiro turno será uma espécie de primeiro tempo do segundo turno.
Outro cenário seria Aécio conseguir recuperar os votos perdidos e Dilma voltar a crescer. Para tanto PT e PSDB terão que desconstruir a candidatura de Marina, apontando os equívocos, incoerências e contradições de seu discurso e das propostas do seu programa de governo. E o que não falta aqui são fatos, argumentos, evidências e contradições comprovando que Marina é muito mais aparência do que consistência, muito mais representante da velha política do que nova, como falsamente tem se apresentado.
Resta saber se o processo de desconstrução de sua candidatura será eficiente ou não. Entre tantos e graves problemas da candidatura de Marina, pode-se destacar, de início, a postura de total subserviência com os interesses do mercado e dos capitalistas, em particular os banqueiros, que ela assumiu logo nos primeiros dias de sua campanha. Assim, assinou vários cheques em branco que estão para ser depositados no Itaú, em detrimento de todos os brasileiros.
O primeiro e mais preocupante compromisso que assumiu com os donos do capital foi o de garantir em lei a autonomia do Banco Central. Com isso, vai entregar aos banqueiros a condução da gestão macroeconômica, que hoje é feita pelo BC, em harmonia com o interesse público e não com o privado, como seria em um possível governo da candidata do PSB. Nem o PSDB foi tão longe na visão conservadora e neoliberalizante da economia.
Ainda na área da macroeconomia, Marina se apressou em firmar um compromisso com os operadores do mercado de que vai manter e aprofundar o chamado tripé da política econômica brasileira, baseado no superávit fiscal, metas inflacionárias e câmbio flutuante. Diz que o PT abandonou essas políticas, mas esconde dos eleitores que os economistas que lhe assessoram são todos neoliberais de carteirinha. Portanto, ávidos por altos juros e superávit fiscal exagerados para pagar dívidas ao setor financeiro do capitalismo, em detrimento e penalizando a renda e o emprego dos brasileiros.
Desta estirpe de economistas conservadores que fazem o jogo do mercado e da elite econômica brasileira, basta lembrar que Marina tem ao seu lado como consultor especial André Lara Resende, que foi responsável pelo confisco do plano Collor e também um dos artífices do neoliberalismo econômico do PSDB que quebrou o Brasil por duas vezes.
Esta postura de Marina na área econômica termina, na prática política, por inviabilizá-la com uma terceira via do ponto de vista programático e ideológico, já que ela assinou e assumiu literalmente a cartilha do PSDB. Não por acaso, Aécio se disse lisonjeado ao ler a parte econômica do programa de governo de Marina. Até parece que o candidato do PSDB apressou-se em indicar Armínio Fraga como Ministro da Fazenda porque tinha medo de que Marina o fizesse antes. Quando geriu a macroeconomia, no governo de FHC, os juros no Brasil chegaram perto dos 50%.
Portanto, quando Marina diz que sua candidatura representa um rompimento na polarização entre PT e PSDB, colocando-se como uma terceira via, está falseando a verdade, pois na prática ela assinou e assumiu as propostas e as ideias dos tucanos, não passando, assim, de uma segunda via repaginada com um verniz personalista. Seu programa econômico é comprado por completo do PSDB, com a defesa do estado mínimo, privatização, terceirizações primitivas e outras barbaridades que fazem parte do modelo neoliberal assumido por Marina.
Com esta postura na área econômica, Marina que critica a polarização entre PT e PSDB, acaba por reeditar esta mesma polarização no que existe de mais essencial, as visões diferentes de desenvolvimento do país. Na verdade, a polarização não é entre partidos, mas entre visões diferentes de mundo e de gestão da administração pública. Ao se associar de maneira umbilical ao ideário dos economistas neoliberais brasileiros, Marina está bebendo na mesma fonte que só desemprego e fome gerou no Brasil, quando esteve a frente do governo federal o PSDB com FHC.
Ainda no campo econômico, na frente energética, o programa de Marina é ainda mais preocupante, ao relegar a um segundo plano ou abandono quase total o desenvolvimento e produção do petróleo do Pré-sal. Uma temeridade que projeta uma grave crise institucional e econômica a partir de um desmonte, quebra e privatização da Petrobrás. Como Dilma informou no debate, o programa de Marina de 252 páginas dedica somente uma única linha ao Pré-sal.
Se Marina trata com total desleixo um programa federal de trilhões de reais, o que podemos esperar do governo dela? Toda a regulação aprovada para o desenvolvimento do Pré-sal, fundos criados, licitações e empresas operando vão ser ignoradas? Os recursos do Pré-sal que estão previstos e definidos em lei para serem investidos na saúde e educação serão mantidos se Marina chegar ao governo? Sem os recursos do Pré-sal, como Marina vai garantir 10% do orçamento para saúde e educação?
O que podemos esperar de um governo de Marina é muito discurso, num idioma que está mais para embromês. Discurso eleitoreiro que em nada serve para governar o país. Como é o caso do seu discurso em defesa das energias solar e eólica, ignorando por completo os grandes avanços nesta área nos 12 anos de governos petistas e pior ainda, escondendo do público que a energia solar e a eólica são hoje apenas fontes de energia complementares, com o petróleo e seus derivados, que movem centenas de diferentes ramos industriais, ocupando papel de protagonismo na área energética, econômica e social, entre outras.
Marina faz um discurso vazio de que defende o estado laico, pois no mundo real e na prática manda retirar de seu programa de governo, um dia depois de lançado, por pressão de algumas lideranças evangélicas, o apoio à aprovação do casamento civil homoafetivo e da criminalização da homofobia. Um recuo considerado vergonhoso e vexatório pelas lideranças do movimento LGBTT. Uma imposição antidemocrática de Marina sobre o programa do partido, tomando uma decisão política equivocada, por convicções pessoais e religiosas. E Marina ainda fala que defende o estado laico e o que ocorreu foi um erro de edição de seu programa de governo. Na verdade, no terreno dos costumes, Marina representa um profundo retrocesso até para causas que já estão estabelecidas pelo STF.
Outro retrocesso presente na campanha de Marina é a personificação de uma figura messiânica, que se porta e discursa para, subliminarmente, apresentar-se como a salvadora da pátria. A ungida que recebeu de Deus a missão de ser presidente do Brasil. Nada pior do que está pratica que mistura, visando conveniências pessoais e benefícios próprios, a religião e a política. Numa postura equivocada, como se a fé pudesse se sobrepor a racionalidade, especialmente quando tratamos de administração pública.
A personificação de sua liderança, como mote particular, acima das ideologias e programas dos partidos onde já esteve filiada, é uma marca da carreira política de Marina. Por que pensa essencialmente em seu projeto pessoal de poder, Marina saiu do PT para filiar-se ao PV, usando o partido para ser candidata a presidente em 2010. Como o PV não se submeteu ao seu controle, saiu do partido e resolver criar um partido para chamar de seu. Como tem aversão aos partidos, apenas usando-os para suas conveniências políticas, Marina definiu que o seu iria se chamar Rede Sustentabilidade, dando assim um lustro com viés ambiental, que no seu caso é mais marketing do que ideologia.
Como não conseguiu regularizar o seu partido a tempo de disputar as eleições deste ano, mas precisava ser candidata para manter ativo seu projeto pessoal de poder, resolveu se filar ao PSB para ter uma legenda e garantir a condição de candidata. Com a morte de Eduardo Campos, realizou seu desejo mais íntimo de disputar novamente a presidência. Passada a eleição, vai sair para criar o seu partido. Essa trajetória mostra que Marina coloca seu projeto pessoal acima do projeto coletivo do partido. O usado da vez é o PSB.
A prova cabal de que Marina não quer o fortalecimento dos partidos políticos, mal ou bem esteios da democracia representativa, é o que ela defende como reforma política em seu programa de governo. Unificar as eleições e acabar com a reeleição, candidaturas avulsas, fim do quociente eleitoral com a eleição em ordem dos mais votados nos estados e financiamento privado das eleições. Todas essas propostas fortalecem as individualidades, bem ao gosto de Marina, em detrimento do coletivo partidário.
Assim é Marina, uma liderança política que se vê e atua como se estivesse acima das instituições. Numa postura personalista, o que é um claro risco para a consolidação da democracia brasileira e para o atual ciclo de desenvolvimento econômico nacional com distribuição de renda e inclusão social.
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