Economia

Você está aqui: Página Inicial / Economia / 2015 / 01 / 23 / Draghi faz Levy dar umas pedaladas

Draghi faz Levy dar umas pedaladas

O problema é que a Metrópole não avisa à Colônia quando troca de chapéu.
publicado 23/01/2015
Comments

O Ministro Levy abafava em Davos – que, segundo afiado amigo navegante, é a SP Fashion Week do 1% - e ali perto, em Frankfurt, o Banco Central Europeu, sob a regência do Super Mario, o italiano Mario Draghi, afundava a ortodoxia do Levy.

Durante muito tempo, Draghi tentou conviver com a hegemonia ideológica e política do Banco Central alemão.

(Só os parvos do tripé, os mesmos parvos do “ajuste”, acreditam em “independência” do Banco Central.  Pergunte a um vendedor de salsicha com chucrute em Berlim se o Banco Central alemão é independente – dos bancos alemães e, provisoriamente da Angela Merkel …)

(Como disse aquele francês ilustre: nem todos os alemães acreditam em Deus. Mas, todos acreditam no Banco Central alemão.)

A Economia da Europa ia para o saco e a Alemanha firme na defesa de seus bancos.

A Direita crescia na Europa e a Alemanha, nada.

Os fundamentalistas executavam jornalistas e a Alemanha, nada. (Não percam divagações na TV Afiada sobre fundamentalistas brasileiros.)

Instalou-se a estagflação na Europa, com desemprego aberto e a Alemanha, nada.

Ortodoxia na veia.

O Obama e o Banco Central americano deram uma banana aos Republicanos e aos parvos do tripé, derramaram dólares nos bancos, para salvá-los e obrigá-los a emprestar – e a gerar emprego e renda.

A economia americana bombou, voltou a crescer a 5% ao ano – e o Banco Central alemão, nada.

O Banco Central alemão continuava “independente”, mantinha o Banco Central Europeu na coleira e a Alemanha a exportar, com um Euro (onde se abriga o Marco alemão, disfarçado de moeda da Europa) amigável.

Semana que vem, vencia o plano de salvamento da Grécia e um forte candidato às eleições presidenciais gregas promete sair da Zona do Euro – e levá-la à breca.

Aí, a realidade se impôs.

Os fatos foram mais convincentes que os economistas mortos que governavam o Banco Central Europeu.

“Economistas mortos” são os que governam os políticos, como dizia um lord inglês que os neolibeles brasileiros consideram um economista ultrapassado – como o Piketty.)

O Draghi conseguiu, enfim, construir maioria no conselho do BCE e empurrou um plano para salvar a Europa.

Os cadáveres começavam a se amontoar na porta, e a Democracia, como lembra o Piketty – não perca esse vídeo - se preparava para cair no abismo.

O Plano é mega.

“Choque e pavor”, segundo o jornal inglês The Guardian.

(Sim, porque essas coisas não se pode ler no PiG – por incompetência e viés ideológico.)

O BCE vai injetar 60 bilhões de Euros nos mercados financeiros todo mês, até Setembro de 2016.

Ao todo, será uma enxurrada: um trilhão de Euros.

Com a finalidade de comprar títulos dos governos da Eurozona – é o Quantitative Easing, QE, “flexibilização quantitativa”, ou “ou vai ou racha”, que salvou os Estados Unidos.

O que vai acontecer ?

Vai derrubar o valor do Euro para impulsionar a exportação e recuperar a Economia.

Como aconteceu nos Estados Unidos.

Deve provocar um pouco de inflação – o que não aconteceu nos Estados Unidos  - e reanimar os empresários.

E o Brasil ?

O Brasil vai sofrer os mesmos efeitos da Quantitaive Easing dos Estados Unidos.

Uma fortíssima pressão para valorizar o Real; ferrar as exportações brasileiras, especialmente as já desanimadas exportações de manufaturados; e acender a inflação, com o encarecimento dos produtos importados.

Foi o que levou o Guido Mantega – e a Presidenta Dilma – a  “dar pedaladas”, “flexibilizar”, “desonerar”, usar a marcha do carro errada – na figura criativa do Ministro Levy, em Davos.

Queria ver a Economia brasileira aguentar a estagflação da Europa e o QE dos Estados Unidos sem as pedaladas do  Mantega.

E agora, com a ortodoxia do Ministro Levy ?

O problema da Colônia é que a Metrópole troca de chapéu sem avisar à Colônia.

O Draghi não telefonou para o Levy ...

Como é que  a ortodoxia vai enfrentar a enxurrada de Euros que vai bater à porta do Brasil ?

A taxa de juros vai ter que ir para onde ?

Para os 45% do inesquecível NauFraga ?

Onde fica a arquitetura que o Ministro Levy ofereceu ao 1% em Davos, com a noticia que, simultaneamente, chegava de Frankfurt.

Ele foi lá pensando que ia enfrentar a Merkel e os “economistas de bancos” americanos e alemães e tomou uma bola nas costas do Draghi.

Vai ter que voltar para casa e reescrever o Manual de Chicago.

E quem sabe dar umas pedaladas ?

Por que não faz como o Obama, no “Discurso à Nação”, quando anunciou um programa de aumentar os impostos dos bancos e dos ricos, para aliviar o o trabalhador e a classe média ?

(Clique aqui para ler “foi um erro não reajustar o Imposto de  Renda”.)

Como diz aquele excelente articulista do New York Times, Thomas B. Edsall, os Capitalistas podem salvar o Capitalismo ?

E onde fica o “espírito animal” que o Delfim (o Keynes, primeiro) considera indispensável despertar nos empresários brasileiros, para que a Economia volte a crescer ?

Com todo o respeito ao professor Delfim Netto e ao conhecimento sedimentado numa exemplar biblioteca, “espírito animal” de empresario brasileiro funciona assim:

“Vocês, do PT, nordestinos burros, bovinos, podem ganhar a eleição. Mas o Ministério da Fazenda, do Planejamento, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa, a Receita Federal e a Policia Federal – essas irrelevantes repartições, essas quem controla é a Casa Grande.”


Paulo Henrique Amorim