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Milícias criam Estado paralelo no Pará

"Criminosos revelaram o preço de um assassinato por encomenda, o qual varia entre R$ 200 e R$ 15 mil"
publicado 31/01/2015
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O Conversa Afiada reproduz do blog As Falas da Pólis:

CPI das Milícias revela um Estado paralelo, poderoso e criminoso no Pará.





Depois de 88 dias do assassinato do cabo da Polícia Militar Antônio Marcos da Silva Figueiredo, o "Pet", seguido com a retaliação por parte de uma milícia que executou 10 jovens em bairros periféricos, na virada do dia 04 para o dia 05 de novembro de 2014, naquilo que ficou conhecido como a Chacina de Belém, foi entregue na manhã desta sexta-feira (30), o relatório final da CPI das Milícias, com 226 páginas, o trabalho é fruto de 44 dias de investigações sobre o caso que abalou o Estado e o Brasil, tamanha a covardia e a frieza com que as vítimas foram executadas.



Além de pedir o indiciamento do miliciano "Pet" e de seus comparsas, entre eles o Sargento Rossicley Silva, que convocou a chacina via facebook, o documento faz uma série de recomendações revela como agem os grupos de milicianos no Pará, além de descrever como funciona o esquema criminoso, que segundo o relatório, é financiado pelo controle do tráfico de drogas, em áreas comandas pelas milícias; assassinatos por encomenda; "contratos" de segurança privada, feita por policiais e ex-policiais de forma clandestina; venda de "proteção" para traficantes venderem suas drogas tranquilamente; apropriação e revenda de drogas roubadas de outros traficantes e usuários de drogas; roubos; assaltos e até desvio de recursos públicos, seja através do financiamento de candidaturas e depois fraudes em licitações, além de outras ações ilegais e corruptas, junto à prefeituras e mandados parlamentares. Um poder pararelo que subjulga e desafia o Estado de Direito no Pará e coloca-nos diante de uma realidade muito parecida com o roteiro do filme Tropa de Elite II.





O relator da CPI, Deputado Carlos Bordalo (PT) revelou que ficou perplexo ao ter acesso às informações de um grampo telefônico da polícia, onde os criminosos revelaram o preço de um assassinato por encomenda, o qual varia entre R$ 200 e R$ 15 mil. "Um delegado confessou para mim que investigar o trabalho das milícias fez com que ele se mudasse de endereço várias vezes, saísse do estado. Se ele me disse isso, o que não pode acontecer com a gente?", disse o relator da CPI, Carlos Bordalo.



Não foi à toa que logo depois da Chacina em Belém, mais de 100 entidades da sociedade civil organizada manifestaram a necessidade da instalação da CPI na Assembleia Legislativa do Estado, afinal não havia a confiança de que haveria a vontade política por parte do governador do Estado em dar encaminhamentos práticos e ágeis às investigações de forma transparente, pois muitos outros casos de chacinas e execussões já aconteceram e quase todos ficaram impunes.



E foi na base de muita pressão política, que mesmo com a base governista na ALEPA sendo maioria e se posicionado contra o requerimento feito pelo Deputado Edmilson Rodrigues (PSOL), a oposição conseguiu coletar o número mínimo de assinaturas entre  seus pares e deu entrada no requerimento de instalação da CPI, que foi instalada e cumpriu seus objetivos específicos, os quais estavam definidos em:



I – Determinar a existência de Milícias e Grupos de Extermínio, identificando seu “modus operandi”, seu estágio de desenvolvimento e o grau de infiltração de seus membros em instituições públicas, especialmente da área de Segurança Pública.



II) Determinar a participação de Milícias ou Grupos de Extermínio nas seguintes Operações:



1. Operação “Navalha na Carne”, deflagrada em agosto de 2008;


2. Operação “Katrina”, deflagrada em agosto de 2014;


3. Operação “Falso Patuá”, deflagrada em setembro de 2014.



III – Determinar a participação de Milícias ou Grupos de Extermínio nos seguintes eventos:



1, Chacina de Rondon do Pará, ocorrida em 12 de fevereiro de 2010;


2, Chacina de Abaetetuba, ocorrida em 04 de junho de 2011;


3. Chacina de Santa Izabel, ocorrida em 27 de agosto de 2011;


4. Chacina de Icoaraci, ocorrida em 19 de novembro de 2011;


5. Chacina da Terra Firme e Guamá, ocorrida nos dias 04 e 05 de novembro de 2014.



IV – Determinar a existência de correlação entre a atuação de Grupos de Extermínio abaixo relacionados e Mílicias:



1. Grupo de Extermínio de Igarapé Açu;


2. Grupo de Extermínio de Tomé Açu;


3. Grupo de Extermínio de Paragominas;


4. Grupo de Extermínio em atuação em Ananindeua e Marituba, com foco no bairro do Aurá.



Como se pode perceber, a CPI não apurou apenas um evento e uma ação de extermínio, como muitos imaginam, e sim um poder paralelo que se alimenta das mais variadas práticas criminosas e que age com braços de agentes públicos, com poder econômico e político no Estado do Pará. Cabe agora que o Executivo Estadual e o Ministério Público do Estado deem continuidade às investigações e assim como as prefeituras das cidades, os órgãos responsáveis pelas políticas públicas desenvolvam ações que oportunizem a juventude a ter mais acesso ao seus direitos com oportunidades e proteção social.



Leia e baixe o relatório completo aqui.



Protesto pacífico





Durante a apresentação do relatório um grupo de mais de 200 jovens oriundos de movimentos sociais da cidade e do campo, conseguiram se desvencilhar dos seguranças da ALEPA e ocuparam o auditório João Batista com palavras de ordem contra a impunidade e cantando letras de canções como "Polícia para quem precisa, polícia para quem precisa de polícia", fizeram uma performance como protesto pacífico e depois participaram do ato que entrou para a história política do Estado do Pará.



A juventude sendo dizimada



Segundo o 5º Índice de homicídios de adolescentes divulgado pelo governo federal, sociedade civil e UNICEF, nesta quarta-feira (28), até 2019 mais de 40 mil jovens, entre 12 e 18 anos serão assassinados. No rancking nacional, o Pará o 8º Estado mais violento e Belém é a 5ª cidade mais violenta do Brasil para a juventude.

Mesmo assim, os problemas do Estado e da região Norte não são citados em vários instumentos de monitoramento dos Direitos Humanos, tal como o Relatório sobre os Direitos Humanos no Brasil e no mundo, recentemente publicado pela Human Rights Watch e pouco se fala dos problemas da região Amazônica. É uma guerra invisível, onde as vítimas são negros, pobres e sem acesso à educação, saneamento, bens culturais e proteção do Estado.

Pra piorar, programas policialescos exibidos por diversas emissoras de ´radio e TV, incitam a violência policial, com o preconceito e a discriminação, formando uma opinião pública favorável à ação de grupos de extermínio de quem se enquadra no perfil de suspeitos.

Com isso, por mais não que não sejam criminoso, muitos jovens e adolencentes em situação de vulnerabilidade social e pessoal, acabam sendo mortos ou presos injustamente.