Tijolaço espetacular ! O navio clandestino da Dilma
O Conversa Afiada reproduz artigo de Fernando Brito, extraído do Tijolaço:
Dilma, os paneleiros e o “navio clandestino”
A Presidenta Dilma Roussef é, tornou-se evidente, vítima do seu autismo político.
Quatro meses depois de receber o apoio majoritário do povo brasileiro tornou-se prisioneira de dois grilhões: a pauta do adversário e o silêncio que se impôs.
Certamente não e, nem era, simples os desafios colocados diante dela.
Afinal, quem sabe, podia-se julgar não haver outra saída diante da avalanche de mídia sobre a Operação Lava-Jato que, agora já se vê, alcança basicamente a periferia do poder, as práticas “comerciais” das eleições e os ícones do chantagismo político sobre o Governo.
Mas é fato compreender que, desde junho de 2013, brotam entre nós as sementes de uma radicalização política que não tem contraponto, ocorre de um lado só.
Os “paneleiros” dos bairros de classe média, sobretudo a paulistana, são filhos de um longo processo em que oposição política foi transformada em ódio político à beira da insanidade.
Não importa que, mesmo aí, possam ser 10% apenas das luzes piscando.
Existem e isso não vai desaparecer, mesmo que, a médio prazo, o ajuste fiscal de Joaquim Levy traga algum “alívio” para a economia, com uma pequena queda na inflação obtida à custa dos cortes que, se podem ocorrer na máquina pública, precisariam se pensados e debatidos para funcionar.
O fato é que temos, outra vez, um clima de udenismo nas nossas classes médias, como não existia há mais de meio século.
Menos carola, é certo, com pit-bulls nada semelhantes aos homens da TFP, mas igualmente feroz contra um país que “ameaçava” caminhar para a democracia real e o desenvolvimento econômico.
A tudo isso o governo assistiu sem quase nenhuma reação.
Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, hoje, compara o episódio do juiz que sugeriu, diz ele que brincando, o assassinato de Dilma – “Dilma disse que vai sancionar amanhã a Lei do Feminicídio. Legislando em causa própria?”, escreveu. Em seguida: “Panelaço” – e uma “brincadeira semelhante nos EUA:
“Nos Estados Unidos, a terra prometida da liberdade de expressão, um sujeito chamado Donte Jamar, de 21 anos, foi preso em 2012 depois de tuitar que iria “atirar em Obama com aquele negócio do Lee Harvey Oswald”.
Uma bobagem. Foi em cana, fim de papo.
Por aqui, o limite é o não limite.”
Não é exagero, porque não se sabe de alguma sanção contra o agente federal que treinava tiro ao alvo com um desenho da Presidenta ou contra os delegados da “Lava-Jato” que mantinham grupos pró-Aécio nas redes, com xingamentos a Dilma”.
Pode tudo, no Governo Dilma, desde que seja contra um governo que, do outro lado, é incapaz de proclamar sua própria legitimidade e seus objetivos.
Nem os seus próprios feitos, como num fato tragicamente curioso que vivi ontem.
Sem uma nota nos jornais, atracou no Estaleiro Inhaúma – o ex-abandonado Ishikawagima, no Rio, um orgulho nacional – o imenso casco da P-76, com mais de 300 metros de comprimento. Um monstro, o segundo navio-plataforma destinado ao campo de Búzios (a área de Franco, como era chamada na fase de pesquisas), que vai entrar em reforma e adaptação num dique do qual sairá, daqui a poucos dias, outro gigante, a P-74, que, depois de receber as estruturas de convés, será o pioneiro do petróleo naquele campo imenso, igual ou maior ao de Libra.
Como eu sei? Só porque atravessei a ponte Rio-Niterói, vi o navio e, sem poder deixar de prestar atenção por estar dirigindo, pedi ao meu filho de dez anos para firmar a vista e ler o que que estava escrito, em letras pequenas, no casco do navio. Depois, descobri um vídeo na internet, feito possivelmente por algum tripulante de embarcação ou aficcionado por navios.
Em qualquer país do mundo, isso teria sido feito em clima de festa, com os outros navios soando suas sirenes, fazendo seu canhões de água esguicharem, um grande evento que é para o país. Ou, como dizem os “moderninhos”, a tal “agenda positiva”.
No Governo Dilma, como ocorreu há dois anos com o primeiro navio – e não havia Lava-Jato quando a P-74 começou a ser transformada em plataforma, obra aí beirando R$ 1 bilhão e de milhares de empregos qualificados – faz-se quase que clandestinamente. Só sairá nos jornais para dizerem – ah, claro! – que o cronograma está dois meses atrasado.
Dilma, infelizmente, ainda não soube se libertar de uma visão burocrática de governo. Governa com relatórios, despachos, papelório.
Governo é política, embora não deva ser politicagem, o que ela também abomina.
E política é a arte de aproveitar as oportunidades sem fazer do oportunismo seu Norte.
Estamos diante de uma – talvez única – possibilidade de reagrupamento de forças políticas, mas que só será aproveitada se Dilma abandonar o isolamento que, em parte, ela própria se impôs.
Do qual pode sair, só e apenas, com política.
Que, no Governo, se faz com autoridade e legitimidade.
E a legitimidade de Dilma tem dois nomes, que jamais podem ser esquecidos e que se misturam: o voto popular e Lula.
Esquecer qualquer um deles mina a legitimidade e, com ela, a autoridade.
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