Azenha: toma que o bebê é teu, FHC !
No Viomundo:
“Bebê” de Fernando Henrique nasceu sob o governo dele, nos anos 90; esquema do trensalão tucano foi repetido na Petrobras
Da Redação
A mídia corporativa nunca apresentou o trensalão tucano da mesma forma que o fez com o mensalão petista. Não contextualizou as informações, nem usou gráficos ou detalhou os grupos políticos envolvidos no escândalo. Não publicou cadernos especiais.
Foi preciso um partido político interessado no caso, o PT, para fazê-lo.
Segundo uma apresentação organizada pelos petistas da Assembleia Legislativa de São Paulo, o esquema teve início no governo Fleury, entre 1990 e 1994. Aloysio Nunes era o vice-governador, cargo que acumulou com o de secretário de Transportes Metropolitanos. Mas o cartel das empresas fornecedoras decolou mesmo no primeiro mandato de Mário Covas, 1995-1998.
O cartel envolveu contratos de R$ 40 bilhões. O Ministério Público busca reaver R$ 2 bilhões.
Como denunciou Conceição Lemes neste espaço, há um nexo entre o esquema do trensalão, a Operação Castelo de Areia (que foi anulada) e a Operação Lava Jato.
Acrescente-se a isso a Lista de Furnas.
Relembrando: a Lista de Furnas é um esquema pelo qual teriam sido arrecadados quase R$ 40 milhões de fornecedores da estatal, distribuídos nas campanhas de 2002.
A campanha de José Serra (Planalto) teria recebido R$ 7 milhões, Geraldo Alckmin (São Paulo) R$ 9,3 milhões e Aécio Neves (Minas Gerais) R$ 5,5 milhões.
Há na lista a menção explícita de que as campanhas a deputado federal de 2002 foram irrigadas diretamente pelas construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, Camargo Corrêa e Engevix.
Muito embora seja senso comum que as empreiteiras sempre estiveram no centro da corrupção e do caixa dois no Brasil, só agora existem provas definitivas disso.
Ao estabelecer o nexo entre trensalão, Camargo Corrêa e escândalo da Petrobras, Conceição Lemes escreveu, em Mídia concentra foco na Lava Jato, mas ignora empreiteiras na Castelo de Areia e no trensalão:
CAMARGO CORRÊA: A CONEXÃO LAVA JATO-CASTELO DE AREIA- PROPINODUTO TUCANO
Na verdade, as digitais da Camargo Corrêa estão nos três escândalos mencionados no intertítulo acima.
Por exemplo, ela e a Andrade Gutierrez (outra empreiteira denunciada na Lava Jato e no trensalão) têm um contrato de R$ 1,2 bilhão para execução de um dos lotes da Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo, onde houve ação do cartel e superfaturamento de mais de R$ 300 milhões.
Não é o único. Os contratos do governo paulista com a Camargo Corrêa somam quase R$ 11 bilhões. Entre as obras, figuram o desassoreamento da calha do rio Tietê e o Rodoanel Sul, onde o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento.
Estima-se que, de 1996 a 2010, a Camargo Corrêa teria pago cerca de R$ 200 milhões em propina para agentes públicos de sucessivos governos tucanos em São Paulo. O cálculo baseia-se no valor dos contratos da empreiteira com o governo paulista e o percentual de propina – 3% a 6% — pago a agentes públicos. Já em todo o país o esquema teria movimentado mais de R$ 500 milhões.
– Além da Camargo Corrêa, outras empreiteiras denunciadas na Lava Jato também estão no trensalão tucano? – alguns leitores devem estar já perguntando.
A resposta é sim. Iesa, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, por exemplo, estão tanto no trensalão quanto na Lava Jato.
Agora, com o acordo de leniência fechado entre a empresa Setal e o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), ficamos sabendo que o esquema das empreiteiras na Petrobras nasceu no final dos anos 90, no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso.
Portanto, não seria um bebê, como afirmou o ex-presidente.
Quem estava no embrião do cartel? Odebrecht, Iesa, Mendes Jr, Techint Eng., Setal, UTC e MPE.
Depois o esquema evoluiu para o “grupo dos 9″, segundo informou a Setal ao CADE: Camargo Corrêa S/A, Construtora Andrade Gutierrez S/A, Construtora Norberto Odebrecht S/A, Mendes Junior Trading Engenharia, MPE Montagens e Projetos Especiais S/A, Promon S/A, Setal/SOG Óleo e Gás, Techint Engenharia e Construção S/A e UTC Engenharia S/A.
Finalmente, chegou ao “grupo dos 16″ com o acréscimo de: Construtora OAS S/A, Engevix Engenharia, Galvão Engenharia S/A, GDK S/A, lesa Óleo e Gás, Queiroz Galvão Óleo e Gás e Skanska Brasil Ltda.
Notaram como os nomes se repetem nos quatro esquemas? Trensalão, Petrobras, Lista de Furnas e Castelo de Areia!
É fato também que os esquemas montados sob governos do PSDB avançaram depois que o PT assumiu o Planalto, em 2003.
Furnas é um exemplo. O homem suspeito de operar o esquema e suposto autor da Lista de Furnas, Dimas Toledo, foi mantido como diretor de Engenharia depois que Lula assumiu. Só deixou o cargo quando estourou o escândalo do mensalão, em 2005.
O mesmo aconteceu nos esquemas das ambulâncias superfaturadas, dos hemoderivados e de Marcos Valério: nasceram sob o PSDB e continuaram sob o PT.
Mas o historiador que tentar entender o assunto apenas a partir do que sai na mídia corporativa corre o risco de imaginar que a corrupção no Brasil é coisa recente, “um bebê”, como definiu FHC.
É óbvio que se trata de uma velha senhora, que foi vitaminada com as grandes obras públicas realizadas sob a ditadura militar.
Que recebeu uma nova dose de vitamina durante as privatizações, percorreu o período tucano no Planalto e sobreviveu sob o PT, que havia prometido ser “diferente de tudo o que está aí”.
O historiador também vai constatar que o combate aos esquemas, por coincidência ou não, foi acelerado sob os governos Lula e Dilma.
É a verdade factual, diga o que disser a mídia que distorce, sonega e omite informações quando trata de corrupção.
Abaixo, a íntegra da Operação Castelo de Areia, nossa contribuição ao historiador:
Veja também: