Mais Médicos: Padilha responde a coxinha paulista
A partir do DCM:
Padilha: “É um desrespeito alguém imaginar que pode me agredir em público e fazer uso dessa imagem”
Por Alexandre Padilha, em seu Facebook.
Toda vez que uma pessoa que nitidamente nunca passou pela dificuldade de não ter médico no seu bairro, comunidade ou família faz um gesto de ódio ao #MaisMédicos, fico mais orgulhoso do programa que criei e implantei e de toda luta contra a intolerância, arrogância e descompromisso com os que mais precisam que empreendi quando Ministro da Saúde do Brasil.
Hoje os jornais estamparam mais uma vitória do Mais Médicos. A nova etapa mobilizou apenas médicos brasileiros. Atingimos o universo de mais de 18mil médicos, atendendo mais de 63 milhões de brasileiros que não tinham médico. Isso foi possível por dois motivos. Diferente do desejo de alguns, dos cerca de 14 mil médicos recrutados a partir de 2013 a desistência foi ínfima até 2015. O segundo motivo é que o programa criado pela minha gestão no Ministério da Saúde em 2011 (PROVAB), que garante pontos para o concurso de residência (especialidade) para médicos brasileiros que atendem nas periferias revelou-se um sucesso e, agora, os inscritos em 2015 foram incorporados ao Mais Médicos.
Em junho de 2013, o governo brasileiro iniciou uma longa batalha para aprovar a implantar o programa Mais Médicos. Seu objetivo: levar à saúde para mais perto daqueles que, por não terem plano de saúde, por não poderem pagar por uma consulta particular, não tinham direito ao cuidado e ao acolhimento que só o atendimento médico pode oferecer em um momento de tanta fragilidade como o da dor, o da doença.
Na ânsia de afrontar os que mais precisam, a democracia é desrespeitada. A democracia deve ser exercida para a liberdade. Somos um país democrático também em suas ideias, em seus anseios. O respaldo do Mais Médicos não é dado por mim. É dado pelos brasileiros e brasileiras atendidos pelo programa, que antes ansiavam pela presença de um médico, e por mais de 80% de toda população brasileira.
O último ato de agressão foi inusitado. Hoje fui convidado para um almoço em um restaurante no Itaim Bibi (bairro de classe média alta paulistano) com amigos de infância. São pessoas com quem convivo há mais de 30 anos. Uma amizade que sobrevive a tudo: distâncias e diferenças futebolísticas e políticas. Os respeito, convivo, divirto-me com eles tanto como com as outras amizades, que conquistei ao longo da minha vida profissional em comunidades da periferia e da Amazônia brasileira e na militância política.
Talvez para a repugnância de alguns e dos detratores da intolerância, sim, tenho amigos da elite econômica paulistana e outros tantos tucanos, neoliberais e neoconservadores. Parte disso, pois minha família com muito esforço me garantiu a oportunidade de convivermos mesmas escolas e estudar na USP e na Unicamp. Divergimos em opções de vida, profissionais e na política, mas essas amizades sobrevivem apesar do clima de agressão, desrespeito, ódio e intolerância que alguns buscam aquecer no país e na nossa cidade.
Tudo ocorria normalmente quando de súbito um senhor que já se retirava começou a fazer um discurso, sendo filmado em vídeo pelo seu colega de mesa. Embora tenha buscado chamar a atenção do salão, talvez imaginando que seria solenemente aplaudido, foi absolutamente ignorado pelas dezenas de pessoas durante o seu ato de agressão. Apenas seu colega de mesa o aplaudiu. Após sua retirada, os garçons, as pessoas de outras mesas e o proprietário do estabelecimento prestaram solidariedade a mim. Meus amigos, que divergem das minhas posições políticas, ficaram indignados e certamente terão posições de maior rechaço a qualquer postura de intolerância, falta de educação e agressividade que alguns oposicionistas do Mais Médicos ainda alimentam pelo país. Paradoxalmente, episódios como esse são capazes de despertar cada vez mais as pessoas para que a democracia possa conviver com a diversidade e a diferença.
Já é um desrespeito aos meus direitos individuais alguém imaginar que pode me agredir em público e fazer uso dessa imagem. É um desrespeito ainda maior quando isso envolve direitos individuais dos meus amigos, que ao contrário do que pode-se pensar, não possuem nenhuma vinculação partidária nem política comigo.
Essas agressões não me abalam. Enfrentei alguns colegas de profissão para defender o Mais Médicos. Pelas pessoas beneficiadas pelo programa, venci preconceitos e mentiras. Não é qualquer coisa que me deixa perder o rumo e o foco. Muito menos me faz levantar de uma mesa repleta de amigos. Tão pouco me impressionaria com um agressor e um aplauso solitários de quem não encara um debate democrático e prefere a agressão e a fuga.
No ano passado, percorri todas as regiões do Estado de São Paulo – o que possui a maior elite econômica, o mais rico do país e o que mais pediu por profissionais do Mais Médicos desde a primeira fase até hoje -. Não foram poucos os depoimentos de agradecimento pelo programa. Ter a certeza que o Mais Médicos mudou a vida de milhões de brasileiros é a confirmação de que estamos melhorando a vida das pessoas, principalmente das que mais precisam, cada vez mais. Ainda precisamos fazer muito para melhorar a saúde do país. O Mais Médicos é apenas o primeiro e corajoso passo, dado enquanto fui ministro da Saúde pela presidenta Dilma, para que a saúde brasileira seja universal.
Posso deixar alguns frustrados, mas saibam que agressões como essa não me inibem, não reduzem meu convívio com amigos, sobretudo os não petistas, nem farão com que eu deixe de frequentar qualquer lugar. Sou feliz por ter amigos no Itaim Bibi e no Itaim Paulista e gosto muito de cultivá-los. Tenho muito orgulho de ter criado o Mais Médicos e, como disse, já enfrentei muito mais do que agressor solitário para implantá-lo.
Em tempo:
Homem que importunou Padilha já ‘enterrou’ companhia aérea
O homem que importunou Padilha num restaurante em SP foi identificado como o executivo Danilo Amaral.
Amaral, advogado de formação, enterrou, em sua trajetória profissional, a companhia aérea Bra, que chegou a ter um pouco mais de 4% do mercado nacional de vôos.
Amaral era vice-presidente da Bra. Em 2007, insolvente, a empresa entrou em processo de recuperação judicial e demitiu seus 1 100 funcionários.
Em 2009, Amaral afirmou que a Bra estava de volta, sob seu comando. Não deu certo. Segundo a ANAC, a agência que regula o mercado de aviação brasileiro, a Bra é “inoperante”.
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