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Palmério: até hoje se paga o preço de 1964

A perna engessada do Lacerda foi precursora da bolinha de papel do Cerra - PHA
publicado 16/07/2015
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O jornalista Palmério Dória acabou de lançar em São Paulo o livro “Golpe de Estado – O espírito e a herança de 1964 ainda ameaçam o Brasil”, que escreveu com Mylton Severiano – morto em 2014 - , e tem como pano de fundo a chegada dos militares ao poder em 64.

Palmério é autor de dois clássicos da literatura política do Brasil.

“Honoráveis Bandidos”, que descreve o poder dos Sarney no Maranhão.

E “O Príncipe da Privataria”, que identifica o Senhor X, que narra como Fernando Henrique comprou a reeleição. Trata em detalhes jamais revelados a relação de FHC com uma jornalista da Globo em Brasília, e como a Globo ajudou FHC a “esconder” na Europa a jornalista e o filho que não era dele, mas ele pensava que era.

Na tarde desta quarta-feira (15), Palmério conversou com Paulo Henrique Amorim por telefone e contou detalhes da obra.


Palmério - Esse livro é sobre os nossos dias, que começa naquele com aquele circo na Avenida Paulista na Avenida Paulista, contra a Dilma. A ideia central desse livro é que estamos pagando até hoje o Golpe em 1964.


PHA: Gostei muito da sua descriçao daqueles que vão para a Avenida Paulista se manifestar contra a Dilma. Você menciona que lá estavam o senador Caiado, o dono do Bahamas, o Marone, o filósofo Olavo de Carvalho e que a soma de todos eles daria um Alexandre Frota.
O livro conta a historia do Golpe de Estado através de personagens e entrevistas com quem viveu aquele momento. Um dos personagens do seu livro é o motorista Nicodemos. Quem é ele?

Palmério Dória: É o [senador pelo PSDB] Aloysio Nunes Ferreira, que foi companheiro do [Carlos] Marighella. E Nicodemos era o codinome dele na luta arma. A especialidade dele era o assalto a bancos e foi um quadro importante da luta armada e hoje é um pregador de golpes, além de defensor da política dos bancos. Hoje, ele diz que não tem nada a ver com o [recebimento] de propinas da Petrobras. A história dele está no Roubanel [em referência ao Rodoanel em SP]. Nicodemus foi morar nas cercanias de Paris logo após participar de outra “expropriação revolucionária”. Ele era um Ronald Biggs ideológico.


PHA: Outro capítulo tem o depoimento do Carlos Araújo, que foi casado com a Presidenta Dilma Rousseff,  em que ele diz, ao se referir ao sindicalismo de hoje, que se acomodou e está em conluio com o capital. É um sindicalismo de resultados.  Para ele, o PT tem responsabilidade sobre isso, porque despolitizou o processo.
Palmério: O Carlos Araújo é um homem com o ponto de vista do Brizola. Esse sindicalismo deu no Paulinho da Força, que não sabe fazer contas em favor do trabalhador, ele saber “fazer de contas”.


PHA: Outro ponto no livro sobre o Araújo.  Diz o seguinte no trecho: “Contamos ao Araújo que um amigo em comum de Curitiba diz que a Dilma é tão meticulosa, que ao se servir sopa de letrinhas ela começa com a letra A e segue o alfabeto. Dando uma gargalhada, Araújo diz: 'Pior que é verdade'”.

Palmério: Quem nos contou essa história foi o Dalton Gonçalves e o Araújo nos confirmou.  Isso mostra as qualidades e os defeitos da Dilma.


PHA: No capítulo 8, você cita o Elio Gaspari, que teria desempenhado o papel de achincalhar o Jango [João Goulart]. Por que o Gaspari fez isso?
Palmério: O Gáspari - que você chama de historialista, porque não é historiador nem jornalista -  usa uma reportagem que eu publiquei, nos anos 1990, com [a viúva do ex-presidente Jango] Maria Thereza Goulart em que ela conta as intimidades dela com Jango. Ela fala do amor que ele tinha por vedetes. A obra desse historialista é dedicada a rebaixar a figura do Jango. O Gaspari é tão imbecil que ele diz que o Jango, já golpeado, foi cuidar de suas fazendas no Uruguai. Ele é capaz de leviandades como essa ao mesmo tempo em que  exalta como pais da República o Golbery e o Geisel. E até o Major Heitor Aquino.


PHA: Me fale um pouco sobre a sua experiência em um semanário em SP, quando você recebeu uma instrução do jornalista Hamilton Almeida Filho, o HAF, que era editore chefe de reportagem.   Ele recortou uma nota de jornal que dizia: “Libertado o pistoleiro Alcino” e deu a ordem: “Palmério, vá cobrir o Alcino”. Como se sabe, o Alcino (1921 - 2014) ficou preso porque participou do atentado que vitimou o Major Vaz, que acompanhava o Carlos Lacerda naquele episódio que resultou no suicídio de Vargas. Você assegura no livro que Alcino não atirou na perna de Lacerda. Como é essa história?

Palmério: Eu não asseguro. Ele [o Alcino] assegura. O 'Hamiltinho' era um pauteiro. Ele comandava o Aqui São Paulo, derradeira aventura do Samuel Wainer, e eu fui me hospedar na casa do pai adotivo do Hamiltinho, no Rio, o Antenor, ao lado do Catête.

O Alcino disse que nunca houve plano de atentado. (O objetivo era acompanhar os passos do Lacerda e reportar ao Gregorio Fortunato, chefe da segurança de Vargas). E diz mais: que nunca atirou na perna do Lacerda. À época, não houve exame de balística, por exemplo. E o Lacerda enfaixou a perna e exibiu a perna engessada no PiG da época.


(Em tempo: foi um precursor da bolinha de papel do Padim Pade Cerra - PHA)

Quer dizer, a República do Galeão, de oficiais da Aeronáutica, que “investigou” o atentado de certa forma é o que você chama hoje de Guantánamo (para se referir à Vara da Lava Jato).  


PHA:  Você trata da tentativa de criar uma imprensa alternativa na ditadura militar. Por exemplo, a ideia do Hamilton de fazer o chamado “livro reportagem” para enganar os censores. O primeiro foi “O ópio do povo” sobre os bastidores da Rede Globo, depois veio o “Matar ou Morrer”, biografia de menino de rua internado na antiga Febem. O que provocou o fechamento da experiência foi o quinto número chamado “Os cassados”. O que seria esse livro reportagem e o que era essa experiência?

Palmério: O Hamiltinho veio com essa que o livro não tem censura e criou essa coleção de livro reportagens. Essa “Os Cassados” acabou sendo publicada em outro jornal, no da Cooperativa de Jornalistas de Porto Alegre.
Esse livro é sobre os nossos dias, que começa naquele 15 de março com aquele circo na Avenida Paulista. A ideia central desse livro é que estamos pagando até hoje o Golpe em 1964.



PHA: Gostaria de falar de um episódio que você conta do jornalista Tasso de Castro (1941 – 1991), que foi gerir “A Tribuna da Imprensa”, do Hélio Fernandes, irmão do Millôr. Certo dia, o ex-guerrilheiro e candidato ao governo fluminense Fernando Gabeira declara que todo homem deveria passar pela experiência da maternidade e a Tribuna saiu com a manchete: “Gabeira: 'Quero ser mãe'”. O que é isso, Palmério?

Palmério: Eram as sacadas geniais do Tasso, que tanta falta nos faz. O título é a cara do Tarso.


PHA: O Tarso depois foi para o Rio na companhia do Pereio e você revela no livro que o Pereio é um dos autores do “Hino da Legalidade” do Brizola.

Palmério: Ele participou ativamente na defesa do Palácio do Piratini. Ele conta em detalhes essa história. Outra história é do Zé Celso que conta que o seu torturador tinha tatuado no braço na frase “Amor de Mãe”.