A Dilma tem culpa. A Oposição mais ainda!
Marcos Coimbra não vai sentir saudades de 2015
publicado
06/01/2016
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Sugestão do amigo navegante Roberto
O Conversa Afiada republica da Carta Capital afiado - como sempre - artigo de Marcos Coimbra:
Sem saudades
Parte da culpa é da presidenta. Parte, de quem agiu para imobilizá-la
por Marcos Coimbra
Termina um dos piores anos de nossa história recente. Talvez nenhum desde o fim da ditadura tenha sido tão ruim. É difícil encontrar um aspecto favorável. E, como foi pródigo em fatos negativos, seu saldo é muito ruim. Não há, neste fim de ano, um único indicador que sugira otimismo.
Ao terminar um ano assim, é preciso identificar que atores mais concorreram para produzi-lo. Se não soubermos quais foram, como cobrar responsabilidades?
Paradoxalmente, a resposta mais fácil à pergunta do principal responsável está longe de tudo resolver. Ao contrário do que parece a muita gente, Dilma Rousseff e seu governo tiveram sua culpa, mas foram mais vítimas que algozes no drama brasileiro de 2015.
Em retrospecto, qualquer um enxerga as decisões de política econômica tomadas em 2013 e 2014 que contribuíram para a crise atual. Foram, no entanto, apostas que pareciam então razoáveis, mesmo que envolvessem risco.
Manter aquecido o mercado interno, estimular investimentos privados em infraestrutura e consolidar grandes grupos econômicos nacionais, sem reduzir gastos sociais e sem abrir mão da iniciativa pública em setores estratégicos, era uma combinação complicada de objetivos.
Mas não inviável. Com um quadro internacional não de todo desfavorável e um mínimo de adesão dos empresários, poderia ser, até, uma aposta vitoriosa.
Sabemos que a estratégia não funcionou, seja por erros na administração macroeconômica e de gestão, seja porque foram inúteis os estímulos ao setor privado e aos governos estaduais e municipais.
A quase totalidade do empresariado preferiu acreditar que Dilma seria derrotada na eleição, recusou-se a investir e a atividade econômica desabou. Com despesas fixas, o déficit deu um salto. Para piorar, estados e municípios continuaram a gastança.
Apostas erradas e onerosas foram comuns em nossa história recente. Era, por exemplo, impossível manter o valor do real em 1998, mas ele foi congelado artificialmente para ensejar a reeleição de FHC. Quando derreteu, quem pagou a conta foi o povo. Lembrança que serve, aliás, para mostrar que todo governante procura se reeleger, mesmo que tenha de abrir mão de uma política econômica ajuizada.
Mas os erros de Dilma e do governo só se tornaram dramáticos em 2015. Por mais equivocadas que tivessem sido as apostas feitas no passado, havia como corrigi-las com custo aceitável. Sem que tivéssemos que enfrentar uma crise da proporção da atual.
Dilma não iniciou bem o segundo mandato, montando um ministério fraco e aquém do que dela esperava a sociedade. Não conseguiu apresentar projetos e programas novos, que traduzissem os muitos compromissos que havia assumido na campanha.
O maior pecado, contudo, foi mal interpretar sua própria vitória. Parece que a entendeu como um cheque em branco, que lhe permitia fazer tudo aquilo que achasse necessário, sem ter de justificar seus atos.
Ela não explicou à sociedade por que era preciso fazer um forte ajuste fiscal, em que consistiria e quanto tempo duraria. Nunca disse que país queria construir e não convidou as pessoas a participar da construção. A quase metade do eleitorado que não votara nela teve certeza de que havia tomado a decisão correta em outubro de 2014. Quem desconfiou que errou foram aqueles que a elegeram.
Mas a crise que vivemos em 2015 foi principalmente provocada por outros personagens, que tolheram a capacidade da presidenta de consertar seus erros e agravaram os problemas existentes. Obcecados pelo propósito de derrubá-la, tudo fizeram para atrapalhar o governo, indiferentes ao prejuízo causado ao País.
Parte da responsabilidade pelo drama é da presidenta e de sua equipe, mas parte é daqueles que agiram conscientemente para imobilizá-la, promoveram a deterioração das expectativas e provocaram a piora da economia. Eles estão na oposição partidária, nos grandes grupos de comunicação, no Judiciário e em algumas corporações do funcionalismo público.
Se Dilma e o governo não conseguiram se explicar adequadamente e atravessaram 2015 de tropeço em tropeço, seus adversários passaram o ano com um único projeto: o impeachment. Só mesmo uma ideia tão medíocre, tão despropositada e tão nociva à consolidação de uma cultura democrática no Brasil conseguiria a proeza de fazer com que um ano que começou mal terminasse ainda pior.
por Marcos Coimbra
Termina um dos piores anos de nossa história recente. Talvez nenhum desde o fim da ditadura tenha sido tão ruim. É difícil encontrar um aspecto favorável. E, como foi pródigo em fatos negativos, seu saldo é muito ruim. Não há, neste fim de ano, um único indicador que sugira otimismo.
Ao terminar um ano assim, é preciso identificar que atores mais concorreram para produzi-lo. Se não soubermos quais foram, como cobrar responsabilidades?
Paradoxalmente, a resposta mais fácil à pergunta do principal responsável está longe de tudo resolver. Ao contrário do que parece a muita gente, Dilma Rousseff e seu governo tiveram sua culpa, mas foram mais vítimas que algozes no drama brasileiro de 2015.
Em retrospecto, qualquer um enxerga as decisões de política econômica tomadas em 2013 e 2014 que contribuíram para a crise atual. Foram, no entanto, apostas que pareciam então razoáveis, mesmo que envolvessem risco.
Manter aquecido o mercado interno, estimular investimentos privados em infraestrutura e consolidar grandes grupos econômicos nacionais, sem reduzir gastos sociais e sem abrir mão da iniciativa pública em setores estratégicos, era uma combinação complicada de objetivos.
Mas não inviável. Com um quadro internacional não de todo desfavorável e um mínimo de adesão dos empresários, poderia ser, até, uma aposta vitoriosa.
Sabemos que a estratégia não funcionou, seja por erros na administração macroeconômica e de gestão, seja porque foram inúteis os estímulos ao setor privado e aos governos estaduais e municipais.
A quase totalidade do empresariado preferiu acreditar que Dilma seria derrotada na eleição, recusou-se a investir e a atividade econômica desabou. Com despesas fixas, o déficit deu um salto. Para piorar, estados e municípios continuaram a gastança.
Apostas erradas e onerosas foram comuns em nossa história recente. Era, por exemplo, impossível manter o valor do real em 1998, mas ele foi congelado artificialmente para ensejar a reeleição de FHC. Quando derreteu, quem pagou a conta foi o povo. Lembrança que serve, aliás, para mostrar que todo governante procura se reeleger, mesmo que tenha de abrir mão de uma política econômica ajuizada.
Mas os erros de Dilma e do governo só se tornaram dramáticos em 2015. Por mais equivocadas que tivessem sido as apostas feitas no passado, havia como corrigi-las com custo aceitável. Sem que tivéssemos que enfrentar uma crise da proporção da atual.
Dilma não iniciou bem o segundo mandato, montando um ministério fraco e aquém do que dela esperava a sociedade. Não conseguiu apresentar projetos e programas novos, que traduzissem os muitos compromissos que havia assumido na campanha.
O maior pecado, contudo, foi mal interpretar sua própria vitória. Parece que a entendeu como um cheque em branco, que lhe permitia fazer tudo aquilo que achasse necessário, sem ter de justificar seus atos.
Ela não explicou à sociedade por que era preciso fazer um forte ajuste fiscal, em que consistiria e quanto tempo duraria. Nunca disse que país queria construir e não convidou as pessoas a participar da construção. A quase metade do eleitorado que não votara nela teve certeza de que havia tomado a decisão correta em outubro de 2014. Quem desconfiou que errou foram aqueles que a elegeram.
Mas a crise que vivemos em 2015 foi principalmente provocada por outros personagens, que tolheram a capacidade da presidenta de consertar seus erros e agravaram os problemas existentes. Obcecados pelo propósito de derrubá-la, tudo fizeram para atrapalhar o governo, indiferentes ao prejuízo causado ao País.
Parte da responsabilidade pelo drama é da presidenta e de sua equipe, mas parte é daqueles que agiram conscientemente para imobilizá-la, promoveram a deterioração das expectativas e provocaram a piora da economia. Eles estão na oposição partidária, nos grandes grupos de comunicação, no Judiciário e em algumas corporações do funcionalismo público.
Se Dilma e o governo não conseguiram se explicar adequadamente e atravessaram 2015 de tropeço em tropeço, seus adversários passaram o ano com um único projeto: o impeachment. Só mesmo uma ideia tão medíocre, tão despropositada e tão nociva à consolidação de uma cultura democrática no Brasil conseguiria a proeza de fazer com que um ano que começou mal terminasse ainda pior.