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A Esquerda precisa reconquistar a classe média!

Dino: Lula Livre é sobretudo falar sobre o amanhã!
publicado 29/05/2019
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As propostas têm que ser concretas: 25% da população cozinha com lenha!

Uma das palestras mais aguardadas no Salão do Livro Político, que começou na última segunda-feira, 27/V, em São Paulo, era a do Governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB.

Ao longo de cinco dias, passaram e passarão pelo palco, entre outros, Manuela D'Ávila, Fernando Haddad e Celso Amorim.

Dino, em pouco menos de trinta minutos, mostrou por que, apesar das trevas do bolsonarismo, a Esquerda pode preparar uma resposta à altura.

O discurso de Dino na segunda-feira é um documento político, e o Conversa Afiada publica, de modo não-literal, os seus principais pontos.

Ao final do texto, o amigo navegante pode assistir à íntegra da intervenção do Governador:

- um imenso sentimento de perplexidade e angústia se abate sobre a nação, seja pelas violências e opressões históricas, escritas na pele e na alma, seja pela conjuntura especialmente difícil, em que, de modo inédito, temos a emergência de uma Direita política que não tem vergonha de si própria. Explicitamente preconceituosa, violenta e... forte. Mobilizada.

- a faixa na Universidade Federal do Paraná (UFPR) não foi arrancada com gesto escondido [na manifestação do último domingo, 26/V]. E isso é o que chama a atenção!

- foi arrancada à luz do dia, ao vivo. E as pessoas se vangloriavam do ato.

- diante de uma faixa que dizia "em defesa da Educação pública", as pessoas urravam de alegria!

- como chegamos até aqui?

- duas observações:

1) a agenda da corrupção se entranhou na alma do povo brasileiro como aquela supostamente determinante de todas as tragédias sociais e políticas que o Brasil vive. É claro que a corrupção é grave, mas, na verdade, a apropriação ideológica que se fez foi para que essa bandeira - do "combate à corrupção" - ocultasse todas as outras corrupções, inclusive a mais profunda delas: a obscena desigualdade social do Brasil. A novidade que se produziu de 2013 pra cá é que o sinal histórico se inverteu: aqueles que defendem e naturalizam as desigualdades e as opressões passaram a uma ofensiva estratégica, e nós a uma brutal defensiva. Eles conseguiram cindir o bloco histórico do lulismo. O povão pobre deste país, nos últimos 100 anos, se referenciou em duas correntes políticas principais: o trabalhismo, de Vargas, Jango e Brizola, e o lulismo. O lulismo era um ponto hegemônico na sociedade e multi-classista. Perdemos a batalha da classe média, que foi polarizada por conta do discurso da corrupção. Precisamos recuperar a ofensiva histórica e, para isso, precisamos de hegemonia.

2) setores majoritários da classe média é que estavam essencialmente nas ruas no domingo 26/V. E, sem eles, nós não invertemos essa defensiva estratégica em que estamos desde 2013. Não adianta ganhar as batalhas de hashtags na internet. A classe média tem esse nome por várias razões, mas entre elas porque ela tem horror de olhar pra baixo! Olha com pânico para o povão! O lulismo, com todas as insuficiências, ameaçou o monopólio do capital social e cultural desses setores.

- o que fazer?

- recuperar a esperança, porque: pessimismo na teoria, otimismo na ação. Mas fazê-lo com método! Porque nós precisamos inverter o sentido dos últimos seis anos da vida brasileira. Pelo povo que perdeu o Mais Médicos, pela memória de Paulo Freire e de todos os heróis brasileiros

- caminhos: precisamos cindir o pacto antipopular e antinacional que levou ao bolsonarismo e isolar o bolsonarismo raiz, hard, que demonstrou força no dia 26/V, nos segmentos que aderiram ao bolsonarismo. Essa é uma tarefa nossa, da Esquerda!

- questões como o Centrão, os liberais, os sociais-democratas são fundamentais para a compreensão da realidade brasileira

- o que o Mao-Tsé chamava de "contradições secundárias". Precisamos navegar por essas contradições secundárias para cindi-las e construir uma alternativa de poder

- frente ampla não é uma retórica, é um desafio! E só é possível fazer essa frente ampla com aqueles que não são iguais a nós. Se falarmos apenas para nós mesmos, será mais cômodo, porém não será consequente com a maioria do povo pobre deste país

- frente ampla com tarefas: 1) a Democracia política tal como nós a conhecemos está ameaçada! Um dos desdobramentos possíveis para a crise institucional brasileira é uma ruptura do pacto constitucional pela Direita! Ou consideramos isso, ou não estamos fazendo ação política concreta!; 2) precisamos de uma agenda nacional, soberania energética, petróleo, gás, [contra a] privatização de empresas, a destruição da Ciência, da Tecnologia e da Educação... Precisamos de uma agenda de produção de crescimento econômico, de empregos

- eu tenho dialogado com colegas governadores e dito o seguinte: resistir a esse sistema de poder não é um direito, mas uma obrigação! Por isso eu não deixo de demarcar nada. É Escola Sem Partido? Então eu baixo um decreto pela Escola Sem Censura! Ele fala em oferecer as mulheres brasileiras para turistas? Eu no mesmo dia lanço uma campanha contra a exploração sexual no turismo!

- e, finalmente, precisamos olhar para três tarefas:

1) propostas claras. Um dos maiores dramas sociais do povo hoje é o gás de cozinha. 25% da população cozinha com lenha! Se nós não respondermos isso, quem vai responder? Temos que dialogar com uma agenda concreta.

2) Eleições de 2020: precisamos conquistar prefeituras para o campo popular! Desafio de transformar nossas concepções abstratas em políticas públicas concretas. E precisamos ter união no nosso campo político. Com generosidade! Em São Paulo, não tem três, tem 50, 100, 150 bons candidatos, mas uns dois ou três em condições de vencer a Direita. Não vamos inventar! Se a gente tiver união, consegue dar uma resposta institucional ao bolsonarismo

3) sou professor de Direito Constitucional e lutei contra o impeachment até a última gota! Apaguei a luz do Palácio da Alvorada, eu e a Presidenta Dilma. Eu tinha uma convicção jurídica profunda de que aquilo era uma violência constitucional. Além das minhas crenças políticas e ideológicas, tinha respeito à minha condição de professor. É pela mesma razão que, independentemente de uma série de fatores, eu sou daqueles que considero que uma das batalhas centrais da Esquerda brasileira é a bandeira do Lula Livre! Que não deve ser abandonada! E explico: Lula Livre é falar sobre o ontem, sobre gratidão, mas Lula Livre é sobretudo falar sobre o amanhã!

- 30 dias antes de ele ser preso, eu disse a ele: Presidente, o senhor vai ser preso. Porque o senhor é o nosso Zumbi dos Palmares, o nosso Tiradentes. O senhor até anda pela Casa Grande, mas o senhor tem cara de ser da Senzala, o senhor representa a Senzala. E a Casa Grande não vai perdoar isso.

- alguns companheiros da Esquerda dizem "não é só o Lula". Mas ele representa milhões, inclusive as vítimas de injustiças similares

- prefiro ser fiel à crença de que os de baixo precisam da liberdade de Lula para acreditar em si mesmos!

- devemos nesse conjunto da frente ampla sempre colocar essa questão, porque lutar pela justiça para uma pessoa é lutar pela justiça para a humanidade inteira!

- no meio das trevas e da escuridão, temos caminhos: paradoxalmente, a vitória do bolsonarismo nas ruas no dia 26/V piorou a vida do Bolsonaro. Por quê? Porque ele reuniu o bolsonarismo raiz, e quem caminha para a a extremidade abre caminho para outras soluções políticas

Assista ao vídeo:

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