A Oposição vai se entregar?
O Conversa Afiada publica sereno (sempre!) artigo de seu colUnista exclusivo Joaquim Xavier:
Talvez nada tenha sido mais emblemático das intenções do governo Bolsonaro do que a nomeação do presidente da UDR para cuidar dos assuntos fundiários. Nabhan Garcia foi direto e reto: vai atacar o Movimento Sem Terra sem clemência.
Sua principal missão é destruir, a fogo e mais fogo, os acampamentos de uma multidão de brasileiros que pretende apenas um quinhão de terra para sobreviver, trabalhar, sustentar suas famílias. Pedaços de solo improdutivos, frutos de operações de grileiros milionários, de negociatas com políticos corruptos, de acordos espúrios com a burocracia sicária que decide a quem pertencem milhões de hectares do solo nacional.
A grande mídia já escolheu o seu lado, aliás faz muito tempo. Aplaude sem pudor o que está em curso. Uma operação muito bem denominada pelo professor Wanderley Guilherme dos Santos de “governo de ocupação”.
O tripé está montado. Na área econômica, o Brasil Friday. Sob o comando do suspeitíssimo Paulo Guedes, a orientação é torrar tudo que pertença ao patrimônio público. A equipe econômica do pessoal de Xi! Cago (como dizem aí) , a cada nome indicado, mostra a que veio e ao que virá. Caixa Econômica, Banco do Brasil, Petrobras, Eletrobras: tudo está no balcão.
Na questão social, o recado também é explícito. A Previdência será entregue aos bancos, a aposentadoria aos registros de IML e o suor do trabalho à ganância de empresários malfeitores. A Saúde ficará a cargo dos planos privados, com o desmonte do SUS e dos programas solidários como o Mais Médicos.
Os assalariados? Que se virem com “trabalhos intermitentes” e passem a vender sacos de panos alvejados nos semáforos até morrer de fome!
Quanto à segurança pública, teremos Sérgio muitas vezes criminoso Moro e sua turma de torquemadas primitivos, armada com metralhadoras, pistolas e orientada por delegadas sedentas de suicídios de reitores.
Por último, a área “ideológica” e dos costumes. O novo ministro da Educação é a encarnação do paleolítico intelectual. O que lhe falta em neurônios, sobra em obscurantismo. Não por ser colombiano – se um estrangeiro como Albert Einstein estivesse vivo e fosse nomeado ministro da Educação, quem reclamaria?
Talvez só este tal de Vélez. A questão não é essa.
Além do idioma local, o cidadão desconhece política educacional, é um militante rudimentar do bolsonarismo xiita, adepto de procedimentos inquisitoriais como comitês de patrulhamento nas escolas. Professor do Exército!
Ao seu lado, teremos figuras como o chanceler Araújo, que deve sonhar que o sol gira em torno da terra e classifica o aquecimento global como obra de conspiração marxista. Até o papa Francisco consideraria ambos como desequilibrados da ultra direita extremada. No Brasil, viraram ministros.
Esse é o quadro. Não precisa desenhar: já está desenhado. O Brasil vive, mesmo antes da saída oficial do ladrão presidente Michel Temer, um retrocesso talvez nem previsto pela ditadura militar. O plano em curso é transformar o país num Estado Islâmico com sinal trocado. Destruir, sem anestesia ou cerimônia, qualquer avanço social adversário dos ganhos do capital abutre.
E aí, se pergunta: onde está a oposição?
Carmelitas derrotadas na eleição fraudada sob comando de donald trump apostam fichas em “resistência” no Congresso e no judiciário apodrecido. Argumentam que os planos de Bolsonaro precisam passar pelo crivo de togas empanturradas de dinheiro público e do legislativo emasculado (tudo em caixa baixa mesmo).
Será que pensam que o povo é idiota? Quem pode apostar em oposição no Congresso?
Quanto ao supreminho, vamos combinar. O atual presidente, Toffoli, está mais preocupado com o novo visual de gumex do que com os destinos do Brasil. Já rebatizou a ditadura de 1964 de inocente “movimento militar”, defendeu como legítima a deposição golpista de uma presidenta eleita e considera a prisão sem provas de Lula um exemplo de vitalidade das instituições. Atualmente, gasta seu tempo – e o dinheiro do povo—em tratativas para criar organismos militarizados contra revoltas sociais.
Contra tudo isso, só existe uma saída: a resistência popular acima das convenções ditadas pela quadrilha que ocupou o país. Neste caso, infelizmente sangue vai escorrer, e o campo certamente será o primeiro cenário. A não ser que os democratas e o povo decidam aceitar bovinamente o retrocesso monumental decretado pelo capital rentista. Ou que suas lideranças entendam como “resistência” o protocolo de discursos enfadonhos sem nenhuma iniciativa concreta de mobilização popular.
Joaquim Xavier
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