Alckmin detona Ciro mas será outro Dr. Ulysses
Fernandes: e o PT acha que faz um candidato em 20 dias...
publicado
23/07/2018
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Ulysses também tinha quase todo o horário eleitoral... (Reprodução)
O Conversa Afiada reproduz trecho de análise sempre aguda de Maria Cristina Fernandes, no PiG cheiroso:
Alckmin barra caminho alheio, mas não se afasta da maldição de Ulysses
O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), aderiu à lógica que guia o Centrão. Ainda são incertos os dividendos do que pode vir a ser um apoio do bloco à sua candidatura presidencial, mas parecem claras as perdas que a aproximação impõe a adversários como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSL). Sem opções claras para conquistar o eleitor, o pré-candidato tucano resolveu bloquear o caminho alheio.
É cedo para bater o martelo. Muita água vai rolar até 15 de agosto, prazo final para o registro das coligações. Mas se o apoio vier a se concretizar, Alckmin, de fato, terá a maior fatia do horário eleitoral gratuito porque será detentor da mais robusta aliança partidária. Em 1989, Ulysses Guimarães tinha um e outro. Ficou em sétimo lugar.
Ulysses foi vitimado pela rejeição popular à ordem vigente. A aura de "senhor Diretas" alcançada quatro anos antes na maior mobilização popular da abertura não foi suficiente para livrá-lo do estigma de aliado do então presidente José Sarney.
O acordo que vem sendo costurado entre Alckmin e o Centrão ainda não inclui o MDB, mas não há como se livrar do governista de uma coligação que abrange quase toda a Esplanada. A estampa carrega consigo a rejeição de 94% dos brasileiros. Com a aliança, Alckmin, que já arrasta seu partido, onerado pelas trapaças do senador Aécio Neves e as de sua própria família, recebe uma carga ainda maior. Troca um bote, cheio de furos a reparar, por um transatlântico, igualmente avariado, para fazer a travessia.
A perspectiva de acordo aposta na tentativa de fazer de Alckmin o pólo da centro direita, esvaziando Bolsonaro. A incapacidade do candidato do PSL de formar uma aliança lhe deixa excessivamente dependente de redes sociais, com as quais terá dificuldade de atingir os mais pobres, principal lacuna de sua campanha.
Mas o maior prejudicado pela perspectiva de acordo é Ciro, que fica condenado a buscar aliados à esquerda. Uma aliança com o PSB passa a ser um imperativo de vida e morte do ex-ministro. Ciro já começou a amaciar o discurso em direção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o movimento parece insuficiente para demover o PT da estratégia de isolá-lo na esquerda. Os petistas, à sua maneira, também seguem a lógica do Centrão. Mantêm sua estratégia de fabricar um candidato em 20 dias, a partir da rejeição dos recursos jurídicos pela candidatura do ex-presidente Lula. E, não sendo capazes de firmar uma aliança com o PSB, cuidam para neutralizar o partido contra uma aliança com o PDT. (...)