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Altman: sem Haddad, PT deveria apoiar Boulos em SP

Atitude até desidrataria o antipetismo
publicado 21/07/2020
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(Thiago Leon/TV Aparecida/Flickr)

Por Breno Altman, no Opera Mundi - Meu dileto amigo e companheiro Valter Pomar, em um artigo intitulado "O PT vai dar Boulos?", criticou posição que recentemente externei sobre a disputa eleitoral em São Paulo.

Para ler suas ponderações, o link está aqui.

Sua posição tem identidade com a minha quanto ao movimento inicial que deveria ser feito: se o PT e a esquerda desejam ter as maiores chances possíveis de ir para o segundo turno em São Paulo, faz-se necessário um esforço adicional e derradeiro para convocar Fernando Haddad, convencendo-o do caráter imperioso de sua candidatura a prefeito na principal cidade do país.

Não há qualquer outro nome no campo popular, entre petistas ou não-petistas, com competitividade semelhante ou maior poder de atração do voto progressista.

A disputa em São Paulo é a batalha crucial do processo eleitoral de 2020. Bons resultados na capital paulista historicamente asfaltam o caminho para a corrida presidencial, a exemplo do que significou a vitória de Erundina em 1988 e a de Marta em 2000, alavancando a performance de Lula nos pleitos de 1989 e 2002.

No caso de recusa definitiva do ex-prefeito em assumir essa missão estratégica, porém, estaria colocada uma realidade insofismável: dividida, a esquerda tenderá a um resultado catastrófico, provavelmente o pior da história recente.

A meu juízo, portanto, a pedra angular da orientação do PT, principal partido socialista, deve ser a construção dessa unidade, mesmo ao custo de sacrifícios.

Pesquisas e análises são claras em apontar que o motor de arranque da chapa Boulos-Erundina é bastante mais potente que o da pré-candidatura de Jilmar Tatto. Um acordo imediato ao redor da fórmula do PSOL, tentando atrair também o PCdoB, criaria um fato novo nas eleições paulistanas, animaria a militância progressista, teria audiência em setores médios e entrada nas camadas populares.

Um passo decisivo para a formação da frente popular seria dado, com importante repercussão nacional. A intervenção de Lula no processo eleitoral paulistano ganharia outra dimensão, transformando a competição local em uma grande batalha contra o bolsonarismo e os demais partidos neoliberais.

A preocupação principal de Valter, no entanto, parece ser outra, atrelada às perdas que teria o PT se tomasse uma decisão dessa natureza. Afirma que os defensores da unidade ao redor de Boulos, no caso de Haddad continuar a negar sua candidatura, "propõem algo que na prática vai eliminar o PT da disputa eleitoral da maior cidade do país, com impactos políticos e eleitorais em 2020 e para além".

Seus olhos dão sinais de repousar prioritariamente sobre a autoconstrução partidária, e nisso reside a base de nossa discordância. Ao contrário de "eliminar o PT da disputa eleitoral na maior cidade do país", o sacrifício da candidatura própria em prol da unidade daria alguma chance de bons resultados e elevaria em muitos graus o prestígio e a credibilidade do partido por todo o país. Com impactos políticos e eleitorais em 2020 e para além.

O PT daria prova irrefutável que coloca os interesses da classe trabalhadora acima do patriotismo de partido, desidratando o antipetismo disfarçado de crítica a um suposto hegemonismo da legenda. De quebra, poderia eleger uma forte bancada de vereadores.

O prazo para a decisão é 26 de setembro, quando as candidaturas deverão ser oficialmente inscritas. Até lá, novas pesquisas irão aferir tendências e expectativas, que deveriam ser lidas sob a lógica da unificação do campo popular.

Sem Haddad, mais importante que defender o direito de ter candidatura, para o PT é vital atuar como a espinha dorsal da unidade dos partidos de esquerda, mesmo cortando na própria carne. De outro modo, seguiremos em marcha batida para uma derrota anunciada, humilhante, de graves consequências para a luta contra o bloco conservador.