André (PDT) atrai o PT contra o "Botafogo"
Ciro e André Figueiredo são cearenses e do PDT de Brizola
O candidato do "MT" da lista de alcunhas da Odebrecht é o "Botafogo", também homenageado na mesma honrosa lista.
Para enfrentá-lo, depois de amanha, o PT inesperadamente aderiu à candidatura de André Figueiredo (PDT-CE), que conversou por telefone com o ansioso blogueiro, no final da tarde dessa terça-feira (31/I):
PHA: Eu converso com o deputado André Figueiredo (PDT-CE), que é candidato à presidência da Câmara, e acaba de receber o apoio unânime da bancada do PT. Deputado, o que significa esse apoio unânime da bancada do PT?
André Figueiredo: Tem um simbolismo muito forte! Nós vínhamos construindo, desde o final do ano passado, a tese de que o campo da oposição não poderia deixar de apresentar uma candidatura - uma candidatura que representasse a resistência nesse momento difícil que o Legislativo vem passando, sendo um Poder subserviente ao Poder Executivo. Quem determina a pauta, hoje, é o Palácio do Planalto. E vínhamos construindo essa tese junto ao PT, à REDE (que eu espero que em breve manifeste o apoio), ao PSOL (existe uma possibilidade forte de eles virem a nos apoiar, se não lançarem candidatura) e, claro, com uma esperança de que o PCdoB possa rever a sua posição e, dessa forma, nós possamos apresentar uma candidatura única do nosso campo político, que teria um simbolismo muito forte. Além da viabilidade eleitoral, claro. Nós estamos trabalhando aí com quatro candidatos que são, praticamente, de partidos da base do Governo. E a nossa candidatura até agora é a única do campo político da oposição, o que pode significar, caso tenhamos a unidade, uma eventual candidatura que vá ao segundo turno.
PHA: Se o senhor conseguir reunir, além do PDT, o PT, a REDE, o PSOL e o PCdoB, quantos votos terá?
André Figueiredo: Os votos desses partidos são 100 parlamentares. Agora, nós temos uma expectativa muito forte porque vários outros parlamentares de partidos que têm uma postura independente em relação ao atual Governo, e até mesmo alguns da base, têm sinalizado um certo incômodo com relação à postura que o Parlamento vem adotando nos últimos tempos - de votar pautas que são importantíssimas no seu conteúdo e complicadíssimas para aprofundar as desigualdades sociais e regionais no nosso País em altas horas da madrugada, em votações no afogadilho, sem quase nenhum processo de discussão. Uma situação que eu considero, até certo ponto, um desrespeito à importancia que tem o Legislativo, no sentido de que a ele cabe o papel de legislar. E, para legislar, precisa discutir exaustivamente cada projeto e não votar por votar. Por isso a gente tem essa candidatura, com essa tese de altivez do Poder Legislativo perante esse momento difícil que o nosso País enfrenta.
PHA: Qual seria o slogan da sua candidatura?
André Figueiredo: O slogan da nossa candidatura é "Câmara com o Brasil: para construir a Nação que sonhamos". Queremos, cada vez mais, fazer a interlocução do Poder Legislativo, que é o mais democrático dos Poderes - afinal, todos os que aqui estão foram eleitos pelo voto popular -, e, consequentemente, abrirmos mais o Poder Legislativo para a participação popular. Não apenas com projetos de lei de iniciativa popular, mas abrindo o Parlamento em dias de pouco movimento para que o plenário possa ser utilizado e, consequentemente, haja uma discussão mais efetiva. Digamos: fazer uma sexta-feira periódica do "Câmara Mulher", discutindo projetos que são de interesse feminino; termos um "Câmara Jovem", com pautas de interesse da juventude; e que nós possamos materializar todos esses processos oriundos de discussão popular no Plenário e, consequentemente, em projetos de lei que tramitem na Casa. Esse é um dos pontos: maior participação da população no Parlamento. O segundo é, como eu disse, um Parlamento que tente resgatar a importância que um dia já teve - de trabalhar as pautas com muito conteúdo, com muita discussão, sem servir de instrumento de chantagem para o Poder Executivo (como aconteceu há até pouco tempo, caso do ex-presidente Eduardo Cunha), de forma a não dar vazão a projetos que têm início aqui no Legislativo e que hoje são uma minoria. A grande maioria dos projetos que aprovamos na Câmara - mais de 80% - foram oriundos do Poder Executivo.
PHA: A primeira palavra que o senhor utilizou quando começamos a entrevista foi que essa decisão do PT contém muito simbolismo. O que essa decisão do PT significa se olharmos para o ambiente mais amplo da política brasileira hoje?
André Figueiredo: Essa aliança do PT conosco já é uma sinalização de que o PT tem absoluta compreensão da necessidade de trabalharmos na unificação das nossas forças. Mesmo que, eventualmente, em 2018 tenhamos várias candidaturas à Presidência da República no nosso campo. Então, a nossa candidatura não representa, de forma alguma, um fortalecimento da pré-candidatura do nome do PDT para a Presidência, o Ciro [Gomes]. O que nós queremos é construir, com essas forças, um ambiente político no País que gere, para a base do atual Governo, a ideia de que a oposição começa a ter a clareza de quão importante é a sua unidade. Consequentemente, o enfrentamento, a resistência a todos esses projetos que podem ser extremamente danosos para essa geração e para as gerações futuras. Somos poucos em termos numéricos, mas temos disposição de luta e, claro, há uma mobilização social por trás dos nossos mandatos, que é extremamente significativa e pode, sim, servir de trincheira para enfrentarmos essas pautas.
PHA: O senhor é primeiro vice-presidente do PDT, está no quarto mandato de deputado federal, trabalhou nos Governos Lula e Dilma, e é do Ceará. O Ciro Gomes acompanhou essa sua mobilização para lançar a candidatura à presidência da Câmara?
André Figueiredo: O Ciro é um amigo pessoal, já tinha um relacionamento político com ele antes de ele vir para o PDT. Temos uma total sinergia nas ações, mas, neste aspecto aqui da Câmara, ele sempre deu apoio, mas nunca interferiu diretamente, até porque ele compreende a importância de termos aliança das nossas forças políticas. Cada uma delas tem uma expectativa - PSOL, REDE, PT, talvez até o PCdoB - de lançar uma candidatura, já que em 2018 provavelmente teremos uma conjuntura nacional e eleitoral muito semelhante à de 1989, que representou o fim de um ciclo. Então, poderemos ter uma multiplicidade de candidaturas, da esquerda à extrema direita. Então, não poderíamos, neste momento, vincular uma coisa à outra. Apenas achamos que essa demonstração de unidade é algo muito positivo para que a gente possa construir um caminho para tirar o Brasil desse momento tão difícil.