Auler: calhordice de Bolsonaro é desespero por perceber que já não governa mais
Do Blog do Marcelo Auler - Provavelmente a psiquiatria será capaz de interpretar o comportamento insano de Jair Bolsonaro na rede de TV na noite de terça-feira (24/03). Aos leigos isso é uma missão impossível. Mas algo sobressai a partir do que aconteceu: ele, ainda que não seja impedido (por crimes cometidos e irresponsabilidade no cargo) ou afastado (por problemas mentais) – duas medidas que demorariam – precisa ser imediatamente isolado. Não pode comandar o país na repressão a esta pandemia.
Este papel necessariamente tem quer ser assumido pelas pessoas com um mínimo de bom senso. Já nem cabe discutir vínculos ideológicos ou partidários, mas simplesmente bom senso. Como, por exemplo, têm demonstrado diversos governadores, de partidos diferentes. Mas é algo que, reconhecidamente, falta ao presidente. Motivo pelo qual, o comando da nação não pode ficar nas suas mãos. Antes que seja tarde.
Cabe, em um primeiro momento, ao Congresso Nacional assumir parte deste controle. Mesmo vivendo uma espécie de recesso branco, sem sessões presenciais. Nada impede, porém, o debate virtual. Não se deve deixar valer, sem um maior controle, as iniciativas legislativas do Executivo. Elas, como demonstrado nestes últimos dias, têm sido desastrosas.
Por isso, soa estranho propor que as Medidas Provisórias, que legalmente valem por até 120 dias antes de caducarem, tenham seus prazos dilatados, como estavam discutindo. Elas precisam ser depuradas pelos congressistas – ou pelo Supremo Tribunal Federal (STF) -, para absurdos não vingarem por um mês sequer.
Na verdade, toda a calhordice do presidente em um momento em que a nação deve, unida, enfrentar a guerra contra o Covid-19, pode encontrar alguma justificativa no fato dele perceber que já não governa. Deve estar batendo o desespero por se sentir, dia após dia, alijado. O que precisa ser intensificado. Algo que na tarde desta quarta-feira os governadores fizeram ao se reunirem se a presença de Bolsonaro.
Afinal, algumas das iniciativas do seu (des)governo estão sendo derrubadas, superadas ou simplesmente esquecidas. Outras precisam ser modificadas, como a ridícula proposta de conceder auxílio aos cidadãos necessitados de R$ 200,00. Isso é infame. E continuará sendo infame se aumentarem para R$ 300,00 como se falou na tarde desta quarta-feira.
Até hoje, o que vinha sendo exceção eram as iniciativas do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mas ele andou fazendo concessões ao presidente. Resta ver sua posição após o pronunciamento de terça-feira à noite. Já se questiona se permanecerá no cargo. Permanecendo, não sofrerá boicote?
Alguns parecem estar batendo em retirada. Um dos trunfos do governo, o Posto Ipirаnga, ministro da Economia, Paulo Guedes, desapareceu nos últimos dias. Fala-se que ele e Bolsonaro estão se desentendendo. Sua chateação começou quando o presidente, sem aguentar as pressões, recuou, menos de 24 horas depois, da desastrosa decisão que autorizava a suspensão de contratos de trabalho e de salários. O que buscava agradar empresários, gerou pânico na classe trabalhadora e protestos até de políticos aliados. Afinal, se já não bastassem os trabalhadores informais, se atingiria também aqueles que ainda mantêm vínculo empregatício. Mas não foi o único recuo.