Barrocal: Petistas temem que Haddad seja nova Dilma
Quem mandará no Planalto? Ele ou Lula?
publicado
31/08/2018
Comments
Barrocal, na Carta: Assim como Dilma, Haddad não gosta - nem faz questão - de conversar com políticos, parlamentares, líderes de movimentos sociais (Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag. Brasil)
Por André Barrocal, na Carta Capital:
Os receios petistas com a personalidade de Haddad
Contra a vontade e os prognósticos de seus colegas de mercado financeiro, o economista-chefe de uma dessas empresas do financismo paulista, André Perfeito, da Spinelli, acha que o petista Fernando Haddad pode ganhar a eleição e aí fica com uma dúvida. “Imagine um empresário reunido com Haddad no [Palácio da] Alvorada. Ele vai se perguntar: quem é que manda, ele ou o Lula?”
A campanha petista de tevê e rádio que começa no sábado 1 vai de fato misturar tudo: Lula é Haddad, Haddad é Lula. É assim que o partido espera vencer mesmo com o ex-presidente preso. Preso mas líder nas pesquisas.
Entre os lulistas há, porém, gente receosa de Haddad logo esquecer que “é Lula”, caso triunfe. Temor de repetir-se o filme de Dilma Rousseff, que se distanciou do antecessor e acabou degolada. Para estes desconfiados, Haddad precisa aceitar desde já que Lula estará no poder, do jeito que for, preso ou solto.
Um dos desconfiados é Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula nos dois mandatos dele, secretário-geral da Presidência no primeiro de Dilma e um dos cabeças da campanha petista. Logo após Haddad ser ungido a plano B, em agosto, mandou uma carta a Lula com suas preocupações.
Um carta dura, segundo apurou CartaCapital, de teor baseado em relatos de petistas que trabalharam com Haddad na prefeitura de São Paulo, entre 2013 e 2016. Haddad é centralizador como Dilma, por se sentir suficientemente inteligente, com mais certezas do que dúvidas, igual à petista. Assim como ela, Haddad é antipático à realpolitk. Não gosta - nem faz questão - de conversar com políticos, parlamentares, líderes de movimentos sociais.
Esse comportamento contribuiu, e muito, para o impeachment de Dilma, desprovida de aliados em número suficiente para escapar da forca na hora H. Uma atitude que também pesou na derrota de Haddad ao disputar a reeleição em 2016.
O marqueteiro da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB), Luiz Flavio Guimarães, o Lula Guimarães, se ofereceu para trabalhar de graça para Haddad na eleição de 2016, conta uma pessoa conhecida de ambos. Não deu certo, por questões internas do PT, daí ele foi para o tucano João Dória Jr., vencedor no primeiro turno.
Segundo esta pessoa, experiente em publicidade, Haddad tem a tendência de sofisticar suas falas, suas respostas, devido à inteligência e à personalidade. Ou seja, devido às razões da carta de Carvalho. Não é assim que funciona Lula, uma pessoa mais simples, mais dada ao contato pessoal.
Uma diferença existente, diz um membro do QG eleitoral petista, por uma questão de classe social. Haddad é filho da classe média, aluno e professor da USP, vaca sagrada da elite paulista. Dilma tem história parecida, estudou em colégio de freira em Minas Gerais, falava francês na escola.
Biografia distinta da de Lula, ex-metalúrgico, de Jaques Wagner, ex-sindicalista que era o preferido do ex-presidente para plano B, de Carvalho, seminarista na juventude que ajudou a criar a Comissão Nacional da Pastoral Operária. “O Haddad não tem perfil para radicalizar, se a gente precisar na campanha ou no governo”, afirma o integrante do comitê.
Por tudo isso, não será fácil a tarefa da campanha de mostrar ao eleitor que “Lula é Haddad, Haddad é Lula”. E ficará mais complicada ainda se o plano B quiser ditar o rumo das coisas, na visão daquela pessoa experiente em publicidade.
A transição de Lula para Haddad, afirma um membro graúdo do comitê petista, terá de ser feita com cuidado na campanha. O ungido precisa ser um espelho através do qual as pessoas vejam Lula.
Até aonde Haddad está disposto a aceitar a metamorfose?