Bebianno: Bolsonaro tentará se livrar de Moro sem indicá-lo ao STF
Trecho de entrevista concedida nesta terça-feira 28/I por Gustavo Bebianno, ex-ministro da secretaria-Geral da presidência, ao DCM:
(...) Essa relação entre Moro e Bolsonaro tem chance de prosperar e chegar ao fim do mandato?
Tenho muita admiração pelo ministro Sergio Moro, um homem educado, sério, maduro. Não obstante, ele já viu o bastante, até aqui, para saber que o presidente não cultiva muito apreço por seus aliados. Ele sabe que, sem pestanejar, o presidente os descarta, especialmente se tiver interesse pessoal envolvido.
Como é a situação dele no governo atualmente?
Delicada. Ele acreditou no presidente e abandonou mais de duas décadas de magistratura. Abriu mão de uma carreira praticamente vitalícia, para abraçar um novo projeto para o Brasil.
Na minha opinião, só esse aspecto, por si só, já seria motivo mais do que suficiente para o presidente honrar a sua palavra, honrar o compromisso que assumiu com o ministro. Qualquer ato diferente do que foi combinado será uma grande traição.
Não se faz isso com uma pessoa, induzi-la a abandonar uma carreira estável como tinha para, logo depois, sem qualquer motivo plausível, jogá-la às traças.
O que me parece mais grave ainda é que o presidente tem cogitado indicar para o Supremo, no lugar do Moro, um rapaz que é advogado há apenas seis anos, desprovido de qualquer experiência mínima para uma função tão importante.
Bolsonaro confia em Moro o suficiente para concretizar essa indicação para o STF?
O presidente tem verbalizado que pretende indicar duas pessoas: uma seria o ministro Jorge Oliveira, de quem gosto muito, mas que não tem a experiência e o saber jurídico necessários para a função.
É advogado há seis anos apenas e, nesse período, trabalhava no gabinete do Eduardo.
Imagine o decano da Corte sendo substituído por um rapaz que é advogado, de forma esporádica, há apenas seis anos e com praticamente nenhuma experiência prática. Isso seria um deboche com a Corte, com os outros Ministros e com a sociedade.
A outra pessoa seria o ministro André Mendonça.
Veja que o nome do Moro está sendo preterido, apesar do seu infinito maior preparo e experiência como magistrado. Quem melhor para o STF que um magistrado com mais de 20 anos de experiência?
Não há termos de comparação.
O presidente tem a prerrogativa de escolher livremente os seus ministros, para atuação no executivo, mas não pode ser leviano e indicar alguém tão inexperiente para o Poder Judiciário, para cargo quase vitalício.
Entre esses três, quem tem mais chances de ser indicado?
Na minha opinião, o presidente tentará se livrar do Moro. Só vai indicá-lo em último caso, na hipótese de perceber que não conseguirá demiti-lo sem grandes abalos perante a opinião pública.
(...)
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