Boca Mole organiza encontros para salvar Temer
Tudo para salvar o presidente ladrão... (Reprodução)
De Isadora Peron, no Estadão:
É ao redor de uma extensa mesa de madeira maciça onde se acomodam pelo menos dez pessoas que os personagens mais importantes da República têm se reunido no Lago Sul, região nobre de Brasília. Por lá, encontros semanais costumam reunir nomes como o presidente Michel Temer e seu sucessor imediato, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de ministros, deputados e senadores.
“Temer sentou ali na terça-feira (17). O Moreira Franco do lado”, apontou o anfitrião dos comensais, deputado Heráclito Fortes (PSB-PI). Naquele dia, o cardápio foi galinhada, mas costuma variar. Tem rabada, buchada. “Acordei às seis da manhã para moer a farinha e fazer essa paçoca para vocês”, disse Heráclito aos risos nesta quinta-feira, 19, já devidamente paramentado com um babador, antes de começar a comer um picadinho com ovo, arroz e banana à milanesa.
Com um humor aguçado do alto dos seus 67 anos, ele batizou de “Quintas sem lei” o dia em que costuma receber parlamentares, assessores e jornalistas para eventos que podem durar a tarde inteira. A sala principal onde todos se acomodam tem, de um lado, esculturas de santos e, do outro, um quadro de uma mulher com a mão dentro da calcinha. Peças produzidas pelo artista pernambucano Francisco Brennand, de quem sua mulher é sobrinha, completam o ambiente.
Antes da última terça-feira, Temer esteve no local em junho, poucos dias após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar a primeira denúncia contra o peemedebista. “Espero que não haja uma terceira”, afirma o anfitrião. A relação com Temer vem desde os anos 1990. “Eu fui quatro anos vice-presidente da Câmara quando Temer foi presidente, convivemos muito, sempre tivemos uma boa parceria.”
Articulações para o impeachment da petista Dilma Rousseff, que fez Temer chegar à Presidência, ocorreram ao redor dessa mesma mesa de madeira maciça. Um grupo de políticos experientes começou a se reunir e traçar cenários diante da fragilidade da petista. O núcleo duro desses encontros foi batizado de G-8, G de “geriátrico”, explicou Heráclito, devido à faixa etária dos integrantes: Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), 75 anos, e José Carlos Aleluia (DEM-BA), Rubens Bueno (PPS-PR), e Benito Gama (PTB-BA) – os três com 69 anos. Dois dos participantes se tornaram ministros de Temer: Mendonça Filho (Educação), 51 anos, e Raul Jungmann (Defesa), 65 anos.
Segunda acusação. Para Temer, sentar à mesa com Heráclito hoje tem um outro objetivo: evitar que ele mesmo seja afastado do Palácio do Planalto, articulando votos na Câmara para barrar a segunda denúncia contra o peemedebista. Além disso, o deputado é visto como um elo com Maia, sucessor imediato de Temer. Tanto durante a tramitação da primeira denúncia quanto agora, o presidente da Câmara faz movimentos considerados dúbios pelos governistas. O clima entre os dois não anda nada bom, mas Heráclito minimiza. “Existe em política uma coisa muito ruim: são os cumpridores da ordem não dada e os cavaleiros das desavenças. É muito comum esse leva e traz, como é o caso agora entre as duas mais importantes figuras da hierarquia administrativa da República.”
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