Brito: Funaro tem Cunha e MT no bolso
É a delação de Cunha, que Moro não quer
publicado
11/06/2017
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(Reprodução: Época)
Do Tijolaço, de Fernando Brito:
Funaro: um gangster na ribalta
Tudo indica que o país ganhará, nos próximos dias, um novo “bandido-celebridade”, como foi o agora descartado e livre Alberto Youssef. É Lúcio Funaro, um aventureiro que operava para Cunha e, por consequência, para Michel Temer, nos negócios que seu “núcleo” (Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha e Moreira Franco, além de bagrinhos, como Rocha Loures).
Anuncia-se que Funaro fará a delação que Eduardo Cunha não é deixado fazer – segundo diz hoje Ancelmo Goés, em O Globo, pelo juiz Sérgio Moro, que até seu questionário cortou para não “constranger o presidente”.
É provável que Funaro saiba menos do que sabe Cunha, mas tudo o que sabe seu ex-chefe conhece, também.
E, então, teremos o país explicitamente nas mãos de um gângster ainda mais degradado que o doleiro paranaense que revirou os intestinos do país. Pois Funaro é ainda mais grosseiro e ameaçador que Youssef e, talvez por isso mesmo, mais adequado aos métodos de Eduardo Cunha.
Hoje, no site de O Globo, o excelente repórter Chico Otávio refaz a narrativa de John Mendes Reis, playboy filho de Albano reis, um folclórico deputado do PMDB do Rio de Janeiro, famoso como “Papai Noel de Quintino”, por distribuir presentes no Natal.
“A amizade com Funaro, segundo John, começou em 2000, quando se conheceram durante uma festa na cobertura do doleiro Dario Messer, na Avenida Delfim Moreira, no Leblon. O filho de Albano Reis já era presença frequente nas noites cariocas. Gostava de desfilar com carrões importados, mulheres bonitas e jogadores de futebol. Funaro, que desembarcara no mercado financeiro do Rio para trabalhar com Messer, viu no rapaz oportunidade de fazer contatos e alavancar os negócios.
— Ele tinha um incrível poder de convencimento. Era arrojado e não gostava de limites. Sempre queria mais — recorda-se John.
Economista, com a carreira iniciada em 1993 na mesa de operações da corretora Plusinvest, Funaro chegou ao Rio no fim dos anos 1990 para prospectar o mercado de câmbio. Entre 1999 e 2002, trabalhou para as corretoras Agenda e Fair, mais tarde encrencadas com fraudes. O doleiro morava, segundo John, no apartamento de Messer na Praça Atahualpa, no Leblon, e se interessou em conhecer Albano Reis porque o deputado havia feito fortuna no mercado de ouro.
— Primeiro, eu o apresentei a meu pai. Depois, quando soube que Eduardo Cunha (então, deputado estadual), fazia negócios na área de comércio exterior, quis conhecê-lo também. O encontro, por iniciativa minha, aconteceu no antigo escritório do seu Eduardo.
Cunha, que na época controlava politicamente a Cedae, enxergou em Funaro o parceiro ideal para as operações financeiras que planejava fazer com o dinheiro da Prece, fundo de pensão dos funcionários da estatal fluminense. De 2003 a 2006, a corretora Laeta, ligada ao doleiro, teria gerado rombo de R$ 39 milhões com operações na Prece.”
Três anos depois, numa noitada, Reis o aproximou de Natalino Bertin, dono do frigorífico que seria comprado pela JBS e, assim, ligou Funaro aos Batista. Daí para a frente, o filho do “Papai Noel” perdeu o amigo:
Na última vez que nos encontramos, ano passado, quando fui ao escritório dele no Itaim Bibi (SP) para cobrar o que devia a minha família, Lúcio me recebeu com uma pistola na mão. Enquanto sacudia a arma, ele me disse que era assim que recebia os credores.(…) Me arrependo muito de ter apresentado o Lúcio a tanta gente. A todos, ele ludibriou de alguma forma. É o maior estelionatário do Brasil.
Talvez ele esteja errado: afinal, Funaro trabalhava para Cunha e, como deixa clara outra reportagem no jornal, desta vez sobre a propina paga a ele por Henrique Constantino, filho do dono da Gol, com o aval de Michel Temer revela quem dava a palavra final nas negociatas.
O maior estelionatário do Brasil é o rato que chegou ao poder.